São Paulo, domingo, 05 de setembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Primeiro longa do diretor de TV Jayme Monjardim lidera bilheteria e apanha de especialistas

"Olga" casa com o público e se divorcia dos críticos

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Retratado na telona pelo diretor Jayme Monjardim, o romance de Olga Benario (1908-1942) e Luiz Carlos Prestes (1898-1990) reacendeu a discussão sobre o casamento (estético) do cinema com a TV e escreveu novo capítulo no divórcio entre crítica e público.
"Olga", primeiro longa-metragem de um cineasta que se notabilizou por dirigir novelas de sucesso ("O Clone", "Terra Nostra", "Pantanal"), mantém-se há duas semanas como o campeão da bilheteria de cinema no Brasil. Derrotou, entre outros, "Colateral" e "Eu, Robô", que têm os astros hollywoodianos Tom Cruise e Will Smith, respectivamente.
Até quinta passada, o filme baseado no livro de Fernando Morais, cuja produção consumiu cerca de R$ 10 milhões, acumulava 1,2 milhão de espectadores, em 14 dias de exibição.
Da crítica, porém, "Olga" coleciona impiedosas bordoadas. Um argumento comum aos depreciadores do filme é seu parentesco com a "linguagem de TV", identificado na fartura de closes e no uso da música para sublinhar a emoção dos personagens.
Num texto intitulado "Olga é algo", o jornalista Arnaldo Bloch publicou em "O Globo": ""Olga" pode até ser um filme. Mas não é cinema. Nada tem a ver com a arte que costumamos chamar de cinema. Os planos, contraplanos e closes de Monjardim são recursos básicos de televisão, pelas limitações de locação e estúdio".
"Dissecando "Olga'" no site No Mínimo, o crítico Ricardo Calil afirma: "O diretor continua essencialmente televisivo no ritmo do filme, criando momentos de tensão e aumentando o volume da trilha a cada dez minutos, como se fosse necessário prender o espectador antes do intervalo".
O crítico Alexandre Werneck diz na revista eletrônica "Contracampo": "A operação mais estranha do filme de Monjardim (e que o aproxima mais da TV do que as dimensões da filmagem) é a de tentar fazer Olga se encaixar nesse clichê da mulher de pedra. Para fazê-lo, elemento recorrente de teledramaturgia, ele converte a fórceps os elementos que a cercam em conspiração contra a felicidade. Olga só é feliz quando ama -como se o amor fosse incompatível com a solidariedade".
A Folha ouviu outros críticos e cineastas sobre a filiação de "Olga" à TV. Virando a página, o leitor tem o resultado do "DNA".


Texto Anterior: Novelas da semana
Próximo Texto: Cinema: Especialistas questionam até o seu próprio debate
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.