São Paulo, domingo, 05 de setembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MÚSICA

Projeto Pixinguinha, Rumos Itaú Cultural e Trama Universitário voltam ao mote de levar arte "aonde o povo está"

Caravanas reeditam cultura itinerante

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

É tempo de caravana outra vez. A máxima surrada dos anos 80, de que "todo artista tem de ir aonde o povo está", volta à voga e recoloca no roteiro musical nacional cantos mais afastados do país.
Na ponta de partida da grande esteira está o Projeto Pixinguinha, que reestreou na semana passada (em Belo Horizonte) após sete anos de interrupção e chega a São Paulo na próxima quinta-feira com show coletivo de Jards Macalé, Ná Ozzetti, Nó em Pingo d'Água e Selma do Coco.
Na ponta de chegada se encontra outro projeto, o Rumos Itaú Cultural (leia à direita), que acaba de percorrer o país inteiro num giro de palestras e pesquisa sobre as produções musicais locais "do Oiapoque ao Chuí", para citar outro jargão de integração nacional.
Em comum, os dois projetos guardam o dado de visitarem as 27 capitais do país, uma por uma. São opostos num critério central: o Rumos é fruto da iniciativa privada, o Pixinguinha é investimento direto do governo federal, via Funarte (do Ministério da Cultura) e tem patrocínio da Petrobras.
O Itaú consumirá na primeira fase do Rumos R$ 3 milhões, segundo o coordenador de música da instituição, Edson Natale. É o mesmo valor que o presidente da Funarte, Antonio Grassi, diz que o governo investiu na etapa 2004 do Pixinguinha, contando também com a parceria dos diferentes Estados e municípios.
"A volta do Pixinguinha traduz uma linha de ação de democratizar o acesso à cultura, levar música de qualidade a preços acessíveis ao cidadão. Ele deve ser o alvo das políticas públicas, e não os artistas e produtores culturais", afirma Grassi, tangenciando o bordão do artista nos braços do povo.

Música e universidade
Se discursa em prol de uma viagem que sai da "cultura de mercado" para a "ação pública", o governo federal não se encontra sozinho nesse tipo de iniciativa.
Num outro exemplo de ação privada de corpo-a-corpo entre produtores culturais e o público, a gravadora Trama, ligada ao Grupo VR, anuncia a fundação de um novo segmento, batizado Trama Universitário. O projeto atualiza moldes como os do Pixinguinha, que sobretudo nos anos 70 e 80 garantiu a sobrevivência de muitos músicos brasileiros pelo viés do contato com um público predominantemente universitário.
Associada a três grandes patrocinadores (Natura, Philips e Vivo), a Trama anuncia um investimento de R$ 13,5 milhões até o final de 2006, numa série de ações que buscam a integração com a população universitária nacional.
O projeto, fundamentado no tripé informação-trabalho-música, será centralizado no portal www.tramauniversitario.com. br. Uma agência de notícias localizada na Trama distribuirá conteúdo próprio e informações produzidas por órgãos estudantis de informação. Deve render um fanzine impresso também.
No quesito trabalho, a proposta é criar um banco de currículos e aproveitar a estrutura da VR em recursos humanos para contribuir na criação de empregos.
A parte musical, enfim, intensificará um circuito universitário já cobiçado pela Trama, levando shows para dentro das universidades -o elenco da casa será privilegiado, mas André Szajman, 32, um dos presidentes da Trama, afirma que o projeto está aberto à participação de outros artistas.
De início, o raio de ação dos shows está centrado no eixo Rio-São Paulo, mas Szajman promete que o circuito será estendido a faculdades do Brasil inteiro.
O acesso a todos esses serviços será gratuito, sempre. Mas que objetivos comerciais orientam as quatro empresas envolvidas?
"O projeto não tem objetivo comercial, quer integrar e apoiar. A venda e o lucro são conseqüências disso. Não é preciso colocar marca na cara das pessoas, isso gera uma rejeição muito grande junto a um público que é mais ideologizado." A Trama, no entanto, já promoveu duas grandes sessões de corpo-a-corpo, uma com cem representantes universitários e outra com 60 reitores brasileiros.
Se o comércio imediato não é a meta, tampouco o é a reativação política da comunidade universitária, segundo Szajman. "Decidimos que não devemos entrar em assuntos políticos ou de greve. Mas, se o objetivo é a integração, é claro que podemos ajudar a fortificar o movimento estudantil. Mais uma vez, a política é conseqüência posterior de um trabalho bem-feito, não um objetivo", diz. As caravanas passam.


PROJETO PIXINGUINHA. Primeira caravana em São Paulo, na próxima quinta-feira, às 20h. Onde: Sala Guiomar Novaes da Funarte (al. Nothmann, 1.058, Campos Elíseos, SP, tel. 0/xx/11/3662-5177). Quanto: R$ 5.

Texto Anterior: DVD/lançamentos: Scorsese mostra os EUA mais perto das ruas
Próximo Texto: Cidadania é mote na região Norte
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.