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Eichbauer repassa a vida cenográfica
Cenógrafo, que fez "Rei da Vela" e usa desenho de Villa-Lobos em show de Chico Buarque, inaugura retrospectiva no Rio
Painéis, maquetes e fotos relembram trabalhos que mudaram a cara do teatro brasileiro, além de cenários para shows e óperas
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Chico Buarque diz que,
quando pensa em cenografia, o
primeiro nome que lhe vem à
cabeça é o de Helio Eichbauer.
Para o show "Carioca", no Tom
Brasil Nações Unidas, o cenógrafo não só criou os móbiles
inspirados nas montanhas do
Rio, como inventou um pano de
boca mexendo no próprio baú.
"Não sugiro nada, sou zero.
Os móbiles foram uma solução
simples e, ao mesmo tempo,
mágica do Helio. Ele sabe tudo.
E ainda veio de lambuja o álbum de autógrafos da família
dele, onde há assinaturas de
Bandeira, João Cabral, Vinicius
e o desenho do Villa-Lobos que
virou o pano de boca", diz Chico, cuja peça "Calabar", censurada em 1973, teve cenários de
Eichbauer aproveitados no ano
seguinte no show "Tempo e
Contratempo".
A história põe em xeque o título da exposição "Helio Eichbauer - 40 Anos de Cenografia",
que tem inauguração hoje no
Centro Cultural Correios, no
Rio. Foi há 50 que ele se mudou
para Nova York, onde estudou
e conheceu Villa-Lobos, Bidu
Sayão e outros que lhe deram
autógrafos e idéias.
Revolução tropical
Em 1963, foi estudar em Praga com o mestre Josef Svoboda,
que lhe deu régua e compasso
para se tornar o grande nome
da cenografia construtivista e
geométrica do Brasil.
O que aconteceu há 40 anos
foi o início de sua carreira no
país natal, onde já no ano seguinte faria seu trabalho mais
famoso -e nada ligado às lições
de Svoboda: o painel multicolorido do segundo ato da peça
tropicalista "O Rei da Vela", dirigida em 67 por José Celso
Martinez Corrêa.
"Eu tinha passado um ano
em Cuba que me devolveu a
cor. "O Rei da Vela" foi minha
revolução tropical, uma explosão. Passei do art déco geométrico para o fauvismo expressionista", diz ele, 64.
O cenário foi queimado por
Zé Celso em um ato de protesto
contra a ditadura militar. Mas,
a partir de um desenho, Eichbauer refez o painel em 89 para
o show "O Estrangeiro", de
Caetano Veloso. Este painel,
um dos destaques da exposição,
fica na sala dedicada aos trabalhos feitos para shows, vários
deles de Caetano.
"Hoje gosto mais de trabalhar para música do que para
teatro. Essas salas de shopping
não têm urdimento, são abafadas, sem ar", diz ele, que adora
fazer cenários para óperas, realizadas em grandes palcos.
Mas, como provam os desenhos, maquetes e fotos da exposição, o que Eichbauer fez
nas últimas quatro décadas já
mudou a cara da encenação no
Brasil. Em seus 12 Shakespeares, por exemplo, adotou um
estilo econômico, com poucos e
sugestivos elementos.
"Ele é um autor tão forte que
o cenário deve ser quase invisível, para não atrapalhar as palavras. O que ele precisa é de
grandes atores, o que há no
Brasil. O que não temos muito
são grandes autores", acredita o
cenógrafo.
Representação
Não por acaso, ele é um apaixonado pela obra do nosso
maior dramaturgo, Nelson Rodrigues, de quem já cenografou
quatro peças. Vê em Nelson
possibilidades operísticas, abstratas, que enxerga também em
Tchekov, muitas vezes reduzido a um autor realista.
"Nada precisa do realismo. O
teatro é uma representação",
ensina ele, que tem uma sólida
formação erudita.
"Ele é muito mais do que um
cenógrafo. A pessoa que mais
me influencia no pensamento
sobre teatro é o Helio", exalta a
atriz Maria Padilha, que já fez
quatro Shakespeares e um
Tchekov com Eichbauer.
HELIO EICHBAUER - 40 ANOS DE CENOGRAFIA
Quando: de ter. a dom., das 12h às
19h; até 22/10
Onde: Centro Cultural Correios (r. Visconde de Itaboraí, 20, Rio, tel. 0/xx/
21/ 2253-1570)
Quanto: entrada franca
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