São Paulo, sexta-feira, 05 de setembro de 2008

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Comentário

Com ironia e melancolia, cantora critica Bush e homenageia seu pai

NOEMI JAFFE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Visto no final de julho em Nova York, "Homeland" é um espetáculo idealizado a partir da idéia de perda. Laurie Anderson sentia que havia perdido algo, como ela conta, mas não sabia o quê.
Questionada por um pragmático tradutor japonês, que não entendia o que era a sensação da perda, mas queria saber exatamente o que ela tinha perdido, ela finalmente entendeu: tinha perdido o país, a casa.
"Homeland Security" é a expressão utilizada por George Bush, após o ataque às torres, para nomear sua cruzada contra o terrorismo e instaurar o império que domina os americanos: o medo.
Mas talvez seja esse medo, que teoricamente deveria servir para restaurar a segurança, que tem feito com que os americanos a percam.
Às vezes, a "casa" (home), idéia tão cara aos EUA, parece pertencer mais aos terroristas do que aos próprios norte-americanos. E esta é a noção principal do novo espetáculo de Laurie Anderson: a ironia e a melancolia sobre um país perdido.
Sem se esquivar de atacar Bush, a Guerra do Iraque, Guantánamo, a contadora de histórias também homenageia seu pai (na balada "Lark") e canta uma canção que é o ponto alto do show: "Only an Expert Can Deal With the Problem" (só um especialista pode lidar com o problema), em que ironiza a necessidade que a sociedade burguesa tem de problemas e de soluções. Não vemos que a solução nada resolve; e que o melhor é podermos ficar com os problemas. Laurie Anderson, felizmente, é um deles.


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