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Comentário
Com ironia e melancolia, cantora critica Bush e homenageia seu pai
NOEMI JAFFE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Visto no final de julho em
Nova York, "Homeland" é um
espetáculo idealizado a partir
da idéia de perda. Laurie Anderson sentia que havia perdido algo, como ela conta, mas
não sabia o quê.
Questionada por um pragmático tradutor japonês, que
não entendia o que era a sensação da perda, mas queria saber
exatamente o que ela tinha perdido, ela finalmente entendeu:
tinha perdido o país, a casa.
"Homeland Security" é a expressão utilizada por George
Bush, após o ataque às torres,
para nomear sua cruzada contra o terrorismo e instaurar o
império que domina os americanos: o medo.
Mas talvez seja esse medo,
que teoricamente deveria servir para restaurar a segurança,
que tem feito com que os americanos a percam.
Às vezes, a "casa" (home),
idéia tão cara aos EUA, parece
pertencer mais aos terroristas
do que aos próprios norte-americanos. E esta é a noção principal do novo espetáculo de Laurie Anderson: a ironia e a melancolia sobre um país perdido.
Sem se esquivar de atacar
Bush, a Guerra do Iraque,
Guantánamo, a contadora de
histórias também homenageia
seu pai (na balada "Lark") e
canta uma canção que é o ponto
alto do show: "Only an Expert
Can Deal With the Problem"
(só um especialista pode lidar
com o problema), em que ironiza a necessidade que a sociedade burguesa tem de problemas
e de soluções. Não vemos que a
solução nada resolve; e que o
melhor é podermos ficar com
os problemas. Laurie Anderson, felizmente, é um deles.
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