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Crítica
Trabalhos de contemporâneos são fracos
DA REPORTAGEM LOCAL
O que poderia dar errado
numa retrospectiva de
um artista do porte de
Matisse? A curadora de "Matisse Hoje", Emilie Ovaere, buscou realizar um gesto arrojado
ao apresentar, lado a lado, Matisse e artistas contemporâneos que possuam alguma forma de diálogo com sua obra.
No entanto, como toda experiência possui um alto grau de
risco, o resultado fez com que a
mostra se tornasse um abismo
intransponível entre o lado esquerdo das salas, onde estão as
obras-primas de Matisse, e o lado direito, onde se encontram
os contemporâneos.
Pior, se já existe certa resistência à produção atual, a mostra acaba por referendar esse
senso comum de forma taxativa, afinal o modernista Matisse
encontra-se superior aos seus
"descendentes" na exposição.
Poderia não ser assim, o que
a própria Pinacoteca parece ter
consciência, já que Ivo Mesquita organizou uma pequena paralela com oito artistas brasileiros de seu acervo, que se revelam próximos do imaginário
construtivo de Matisse.
É o caso de Beatriz Milhazes,
por exemplo, com o colorido de
sua composição, tão próxima
dos papéis recortados de Matisse, ou a escultura de Iole de
Freitas, como se simplificasse
ao limite a linha e a cor num sistema tridimensional.
Nem todos os franceses da
mostra, contudo, são tão problemáticos. A obra de Christophe Cuzin, uma intervenção
colorida nas paredes externas
das salas expositivas, pode ser
vista como uma aplicação das
linhas e cores tão apreciadas
por Matisse. Mesmo assim, o
conjunto acaba por simplificar
a leitura do artista-tema, ao caracterizá-lo em demasia como
decorativo.
Quem olhar apenas para as
obras de Matisse, no entanto,
vai conseguir se aprofundar em
sua obra para além do decorativo. "Lorette com a Xícara de
Café", de 1917, por exemplo, revela-se uma escolha preciosa,
de uma pintura que não tem no
tema feminino sua principal
questão. Ela está numa pequena parte superior da tela separada do resto da figura e atesta
um artista preocupado com
uma composição inesperada.
Essa experimentação, que se
observa em vários meios ao
longo da mostra, deixa ainda
mais incompreensível a demora em uma retrospectiva de
porte no país.
Lamentável que seja em tão
má companhia.
(FABIO CYPRIANO)
Avaliação: regular
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