São Paulo, sábado, 05 de setembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crítica

Trabalhos de contemporâneos são fracos

DA REPORTAGEM LOCAL

O que poderia dar errado numa retrospectiva de um artista do porte de Matisse? A curadora de "Matisse Hoje", Emilie Ovaere, buscou realizar um gesto arrojado ao apresentar, lado a lado, Matisse e artistas contemporâneos que possuam alguma forma de diálogo com sua obra.
No entanto, como toda experiência possui um alto grau de risco, o resultado fez com que a mostra se tornasse um abismo intransponível entre o lado esquerdo das salas, onde estão as obras-primas de Matisse, e o lado direito, onde se encontram os contemporâneos.
Pior, se já existe certa resistência à produção atual, a mostra acaba por referendar esse senso comum de forma taxativa, afinal o modernista Matisse encontra-se superior aos seus "descendentes" na exposição.
Poderia não ser assim, o que a própria Pinacoteca parece ter consciência, já que Ivo Mesquita organizou uma pequena paralela com oito artistas brasileiros de seu acervo, que se revelam próximos do imaginário construtivo de Matisse.
É o caso de Beatriz Milhazes, por exemplo, com o colorido de sua composição, tão próxima dos papéis recortados de Matisse, ou a escultura de Iole de Freitas, como se simplificasse ao limite a linha e a cor num sistema tridimensional.
Nem todos os franceses da mostra, contudo, são tão problemáticos. A obra de Christophe Cuzin, uma intervenção colorida nas paredes externas das salas expositivas, pode ser vista como uma aplicação das linhas e cores tão apreciadas por Matisse. Mesmo assim, o conjunto acaba por simplificar a leitura do artista-tema, ao caracterizá-lo em demasia como decorativo.
Quem olhar apenas para as obras de Matisse, no entanto, vai conseguir se aprofundar em sua obra para além do decorativo. "Lorette com a Xícara de Café", de 1917, por exemplo, revela-se uma escolha preciosa, de uma pintura que não tem no tema feminino sua principal questão. Ela está numa pequena parte superior da tela separada do resto da figura e atesta um artista preocupado com uma composição inesperada.
Essa experimentação, que se observa em vários meios ao longo da mostra, deixa ainda mais incompreensível a demora em uma retrospectiva de porte no país.
Lamentável que seja em tão má companhia.
(FABIO CYPRIANO)


Avaliação: regular




Texto Anterior: Pinacoteca exibe síntese de Matisse
Próximo Texto: Antonio Cicero
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.