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O HUMOR DE MAU HUMOR
Chico Anysio
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
de Nova York
Recebido nos EUA como um dos
maiores humoristas da América
Latina, Chico Anysio já começa a
ser procurado por produtores e diretores locais, tanto de teatro
quanto de cinema, todos interessados em usufruir um pouco sua
criatividade.
Morando em Nova York há cerca
de dois meses, ele tem apresentado
a agentes de Hollywood 25 scripts
de sua autoria. "A maioria não é
na linha do humorismo, apenas
um ou outro, mas estou pronto
também para escrever o tipo de
humor que o americano gosta."
O início de sua vida nos Estados
Unidos tem sido, segundo as próprias palavras do artista, "muito
proveitoso." Do Brasil, porém, ficou uma forte mágoa da imprensa.
"Eu não saí do Brasil, fui expulso pela chamada crítica especializada, que passou a me perseguir, a
dizer que eu estava velho, acabado,
ultrapassado. No começo tentei
responder, mas chega uma hora
que você cansa", desabafou.
Leia a seguir os principais trechos de sua entrevista à Folha.
Folha - Sua mudança para os EUA
não teve muito destaque na imprensa brasileira. Como está sendo
essa nova fase de sua vida?
Chico Anysio - O começo, como
toda mudança, é um pouco atribulado, mas felizmente tudo está
transcorrendo bem.
Dentro de 15 dias já estarei com
meu "social security" (número
para contribuição social nos
EUA), e o "green card" (que dá
direito ao estrangeiro de viver no
país) já está a caminho.
Conseguir o "green card" assim
tão rapidamente me deixou muito
satisfeito. Vou consegui-lo por ter
habilidades excepcionais. Aqui
nos Estados Unidos eles estão me
tratando com muita consideração.
Folha - Você não pretende voltar
a morar no Brasil?
Anysio - Talvez daqui a dez
anos, quando os jornalistas que estão no comando das redações hoje
estiverem com 40 anos de idade e
já tiverem sido demitidos. Quem
sabe a próxima geração saiba me
dar mais valor.
Folha - Você está falando sério?
Acha realmente que foi perseguido pela imprensa brasileira?
Anysio - A imprensa adora destruir. Sofri uma perseguição cruel,
desrespeitosa...
Folha - Por causa de seu casamento com a Zélia (Cardoso de
Mello)?
Anysio - Não cabe a mim responder. O que sei é que foi uma
coisa injustificável... Um dos meus
prazeres aqui nos Estados Unidos
é que eu leio o "USA Today". Não
tenho que ler a Folha, o "Estado"... É uma maravilha.
Folha - Quais são suas perspectivas profissionais nos EUA?
Anysio - Estou muito animado
com os projetos, com as propostas
que estão surgindo. Tenho 25
scripts prontos, histórias que estão
sendo examinadas com muito carinho. E tenho muitas idéias na cabeça, estou numa fase fértil, aproveitando esse tempo sem atuar, canalizando-o para a criação.
Um dos pontos positivos que eu
tenho é o fato de conhecer os dois
lados da moeda. Sou ator, humorista, escritor, diretor, artista plástico, já sei como a coisa funciona.
Folha - E as peças da Broadway,
você já foi assistir alguma?
Anysio - Não tive muito tempo
nesse meu começo em Nova York.
Estamos numa "townhouse", na
Park Avenue, são quatro andares e
temos tido um trabalhão com a
mudança.
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