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ANÁLISE
Há lugar para os dois
NELSON DE SÁ
da Reportagem Local
Renato Aragão e Chico Anysio inscrevem-se na tradição
do humor popular brasileiro.
Um humor que vem das comédias de Martins Pena no século passado, certamente até
antes delas, nas comédias do
Judeu, Antônio José, português nascido no Brasil, representadas no país no século 18.
Um humor que, a bem da verdade, volta no tempo até Gil
Vicente, Cervantes, Plauto.
Mas é no século 20 que tal humor ganha a forma com que
chegou, recentemente, à TV.
O teatro de revista, na virada
do século, influenciado por
companhias francesas e abrasileirado por dramaturgos e
compositores como Arthur
Azevedo e Ary Barroso (este
com quase três dezenas de revistas), está na base do humor
que entrou pelo rádio e TV.
Uma comédia de quadros ou
esquetes e sobretudo de tipos,
de personagens característicos,
estereotipados, alguns deles na
figura do "zanni", entre ingênuo e ardiloso, no que é a marca de Renato Aragão.
Uma comédia por vezes em
duplas ou grupos de comediantes, por vezes em quadros
musicais, originais ou em versões burlescas de sucessos.
A forma vem da revista, passou pelo rádio e chegou à televisão. Começou a ser questionada de uma década para cá
por um novo gênero de humor,
talvez mais cínico, até "brechtiano" no desprendimento da
ingenuidade anterior, um humor em que o comediante se
expõe sem a máscara do tipo.
Esse novo humor também sai
do teatro, no caso, do besteirol
da virada dos anos 70 para os
80 e, um pouco antes, do Asdrubal Trouxe o Trombone.
São os posteriores "piratas".
Carregam uma evidente influência do humor dos anos 60
e 70, dos ingleses do Monty
Python aos americanos do
"Saturday Night Live", sem
esquecer o "stand-up" Lenny
Bruce. Também sem esquecer,
no Brasil, Oswald de Andrade.
Seguidos depois por "Casseta & Planeta", espécie de segunda geração, os "piratas"
destronaram, tanto pela forma
quanto pela idade, os soberanos do velho humorismo, como Aragão, Anysio, Jô Soares.
O último ainda adaptou-se,
como o americano Johnny
Carson depois de destronado
pelo "Saturday Night Live",
com um programa de entrevistas. Os demais dividem-se entre o rancor e as reprises.
Reprises que alcançam audiências até mais elevadas do
que aquelas dos novos, a indicar que há lugar para os dois
grupos. Aliás, a bem da verdade, nem tão diferentes assim.
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