São Paulo, sábado, 5 de setembro de 1998

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FESTIVAL DE VENEZA

Cinema alemão renasce nas mãos de mais uma Lola

AMIR LABAKI
enviado especial a Veneza

Um torpedo abriu ontem a mostra competitiva de Veneza-98. "Lola Corre" é o terceiro longa do alemão Tom Tykwer. Tem a urgência de "Trainspotting", o agressivo charme feminino de "Nikita" e a estrutura de variações em torno de uma mesma história de "O Azar" (1982), de Kieslowski.
Tem sobretudo uma nova estrela. Franka Potente, 26, lembra fisicamente a brasileira Andréa Beltrão. Foi eleita em Berlim-98 a jovem atriz alemã do ano. Protagoniza dois filmes aqui: "Lola Corre" e "Sou Bonita?", de Doris Dorrie, programado para o encerramento.
Até relógios e tartarugas têm pressa no filme de Tykwer. Uma breve introdução coloca uma série de questões existenciais e as sepulta com uma metáfora futebolística. Importa jogar bola, o resto é teoria.
Berlim, 1998. Bem-vindo ao mundo frenético de Lola e Manni, namorados, vinte e poucos anos. Manni transporta dinheiro para uma gangue. Marca e perde 100 mil marcos no metrô. Tem 20 minutos para arranjar a grana. Fracasso é morte certa.
Por telefone, Lola promete ajudá-lo. Pede-lhe que espere e adie o plano desesperado de assaltar um supermercado. Trato feito. Lola corre. Aposta no socorro no pai.
Seguem-se três versões para a solução do problema. As duas primeiras são trágicas, a última, romântica. Tykwer frisa o poder do acaso. Pequenas mudanças de comportamento alteram tudo.
"Lola Corre" deve muito à linguagem do videoclipe. Animações e sequências de fotos comentam a trama. A montagem é veloz. Mantém-se o pique quase até o fim. Tykwer catalisa-o com uma trilha tecno, parcialmente composta por ele e interpretada por Potente.
Se o todo envolve, há momentos não menos que antológicos. Alguns coadjuvantes que cruzam o caminho de Lola têm suas histórias futuras adiantadas por meio de rápidas sequências de polaroids. Após um assalto, Lola e Manni fogem embalados por "What a Difference a Day Makes", com Dinah Washington.
E há Lola correndo. Tykwer diz que compôs o filme a partir dessa imagem. Franka Potente a imanta com intenso magnetismo. É bela, forte, sensual, delicada e agressiva.
Ao correr, parece estar recebendo um bastão que já passou pelas mãos de Brigitte Helm, Marlene Dietrich, Hannah Schygulla e Nastassja Kinski. O cinema alemão renasce graças a outra Lola.



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