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FESTIVAL DE VENEZA
Cinema alemão renasce nas mãos de mais uma Lola
AMIR LABAKI
enviado especial a Veneza
Um torpedo abriu ontem a mostra competitiva de Veneza-98. "Lola Corre" é o terceiro longa do alemão Tom Tykwer. Tem a urgência
de "Trainspotting", o agressivo
charme feminino de "Nikita" e a
estrutura de variações em torno de
uma mesma história de "O Azar"
(1982), de Kieslowski.
Tem sobretudo uma nova estrela. Franka Potente, 26, lembra fisicamente a brasileira Andréa Beltrão. Foi eleita em Berlim-98 a jovem atriz alemã do ano. Protagoniza dois filmes aqui: "Lola Corre" e
"Sou Bonita?", de Doris Dorrie,
programado para o encerramento.
Até relógios e tartarugas têm
pressa no filme de Tykwer. Uma
breve introdução coloca uma série
de questões existenciais e as sepulta com uma metáfora futebolística.
Importa jogar bola, o resto é teoria.
Berlim, 1998. Bem-vindo ao
mundo frenético de Lola e Manni,
namorados, vinte e poucos anos.
Manni transporta dinheiro para
uma gangue. Marca e perde 100 mil
marcos no metrô. Tem 20 minutos
para arranjar a grana. Fracasso é
morte certa.
Por telefone, Lola promete ajudá-lo. Pede-lhe que espere e adie o
plano desesperado de assaltar um
supermercado. Trato feito. Lola
corre. Aposta no socorro no pai.
Seguem-se três versões para a solução do problema. As duas primeiras são trágicas, a última, romântica. Tykwer frisa o poder do
acaso. Pequenas mudanças de
comportamento alteram tudo.
"Lola Corre" deve muito à linguagem do videoclipe. Animações
e sequências de fotos comentam a
trama. A montagem é veloz. Mantém-se o pique quase até o fim.
Tykwer catalisa-o com uma trilha
tecno, parcialmente composta por
ele e interpretada por Potente.
Se o todo envolve, há momentos
não menos que antológicos. Alguns coadjuvantes que cruzam o
caminho de Lola têm suas histórias
futuras adiantadas por meio de rápidas sequências de polaroids.
Após um assalto, Lola e Manni fogem embalados por "What a Difference a Day Makes", com Dinah
Washington.
E há Lola correndo. Tykwer diz
que compôs o filme a partir dessa
imagem. Franka Potente a imanta
com intenso magnetismo. É bela,
forte, sensual, delicada e agressiva.
Ao correr, parece estar recebendo um bastão que já passou pelas
mãos de Brigitte Helm, Marlene
Dietrich, Hannah Schygulla e Nastassja Kinski. O cinema alemão renasce graças a outra Lola.
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