São Paulo, sábado, 5 de setembro de 1998

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FOTOGRAFIA
Fotógrafo mexicano de 96 anos inaugura na terça exposição no Museu da Imagem e do Som, em SP
Álvarez Bravo abre a janela das minúcias

Manuel Álvarez Bravo
Auto-retrato do fotógrafo mexicano Manuel Álvarez Bravo, feita no reflexo do vidro de um carro


EDER CHIODETTO
Editor-Adjunto de Fotografia

Quando ainda jovem, aos 93 anos de idade, o artista mexicano Manuel Álvarez Bravo, hoje com 96, resolveu fazer um ensaio fotográfico. Trabalhou dois anos nele e, ardilosamente, rompeu com o tema que o consagrou nos seus mais de 70 anos de ofício como fotógrafo: o México. "Variaciones 1995-1997" é o nome desse ensaio que o MIS expõe a partir da próxima terça-feira.
O que pode alcançar o olhar de um fotógrafo com tamanha experiência, após ter vivenciado os principais movimentos artísticos desde o início do século e ser aclamado hoje como o correlato de Cartier-Bresson na América?
Um primeiro olhar sobre essas "Variaciones" deixa claro, muito claro, que a herança modernista de Bravo o faz ainda estar mais interessado na ruptura que na manutenção da linguagem.
A abordagem histórica que sempre marcou seu trabalho saiu de foco. A partir de agora, só o prazer gráfico, só a delícia da composição, só a malícia da sombra da grade da janela projetada sobre uma delicada cortina de renda e a sensualidade das curvas de um tronco de árvore importam.
Nesse Bravo jovial, que empunha a câmera com o prazer e a curiosidade de um aprendiz, tudo pode ser fotografia, desde que ele possa apreender um instante de delicadeza e de poética sutil nas imagens mais prosaicas do cotidiano.
Essas imagens nos dão a impressão de que o fotógrafo está o tempo todo na janela de casa ou do carro, como um gato faminto que espreita um passarinho antes do bote, esperando que num átimo a forma e a luz de algum cenário adquiram a plasticidade e a textura por ele desejada, para então serem capturados por sua câmera.
Da janela da sua casa, da sua história, Bravo consegue flagrar a poética do trivial, das minúcias, como na sequência de imagens de um varal de roupas, na série intitulada "En un Pequeño Espacio".
São meias, lençóis e toalhas pendurados em fios carcomidos com uma parede ao fundo. Filtrados pelos olhos de Bravo, se transformam em linhas, formas e texturas com ritmo e candura.
Ao prescindir de temas eloquentes, Bravo revela um universo imagético que contém a complexidade das coisas mais simples. Maturidade. O essencial não está no que se vê, mas no como se vê. O importante, mesmo, é abrir a janela todas as manhãs.


O quê: exposição de fotos "Variaciones 1995-1997", do mexicano Manuel Álvarez Bravo
Onde: MIS (Museu da Imagem e do Som), (av. Europa, 158, tels. (011) 881-4417 e 852-9197
Quando: abertura dia 08/09, às 20h, até 04/ 10, de ter a dom, das 14h às 22h
Quanto: entrada franca



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