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INDEPENDÊNCIA
Arquivo morto da Prefeitura de Bragança Paulista escondia documentos do início do século passado
Papéis históricos são achados no interior de SP
IVAN FINOTTI
da Reportagem Local
Centenas de documentos da época do Brasil Colônia e do Brasil Império, passando pela Independência, foram encontrados por acaso
durante uma limpeza no arquivo
morto da Prefeitura de Bragança
Paulista (80 km ao norte de São
Paulo).
Os papéis ainda não foram analisados por historiadores, por isso
não há uma dimensão exata de seu
valor histórico. A Folha, entretanto, teve acesso a alguns deles e apurou, junto a historiadores, que não
são inéditos.
"Apesar de não serem inéditos,
não deixam de ser interessantes",
afirma o historiador e professor da
USP Nicolau Sevcenko.
Os documentos mais antigos -a
maioria feita de papel de trapo e
encontrada em perfeito estado de
conservação- datam de 1808. Os
mais novos do pacote são de 1890.
Em uma carta encontrada, o
príncipe regente d. João, recém-
chegado ao Brasil, manda o governador de Minas Gerais iniciar uma
guerra contra índios antropófagos,
que comiam carne humana (leia
quadro nesta página).
Outros, endereçados à Câmara
da Vila Nova Bragança (nome da
cidade à época), informam mudanças significativas no reino.
É o caso de um manuscrito de setembro de 1822, em que José Bonifacio de Andrada e Silva -conselheiro de dom Pedro 1º- avisa às
autoridades da vila que a bandeira
nacional havia mudado.
Afinal, a independência havia sido proclamada e uma bandeira
brasileira precisava substituir a
portuguesa.
Para Sevcenko, os papéis "mostram a mudança de um conceito. É
o esforço do governo colonial em
reverter o contato das vilas com a
metrópole em Lisboa para um
contato com o Rio de Janeiro como
metrópole".
"Esses devem ser os primeiros
documentos que atestam essa reversão da autoridade", diz o historiador.
Os papéis foram encontrados há
cerca de um mês, pelo chefe do Arquivo Central de Bragança, José
Galileu de Mattos, 51.
Estavam há décadas no porão do
museu da cidade, junto com balancetes dos gastos da prefeitura e jornais velhos. Há alguns meses, o
museu entrou em obras -será reinaugurado em novembro- e a
papelada foi levada para o Arquivo
Central.
Foi dando uma ordem nesse material que Mattos descobriu os documentos centenários. "Quando o
Reinaldo (Dias, secretário da Cultura de Bragança) abriu o pacote,
até tremeu", conta.
O secretário, que é sociólogo, explica a causa da tremedeira: "Abri
em uma página qualquer e dei de
cara com a assinatura do José Bonifacio! Foi emocionante".
"Ainda não temos idéia do valor
histórico dos documentos, mas sabemos que, para Bragança, eles são
inestimáveis", afirma.
Apesar de ter o mesmo nome da
casa real portuguesa, a cidade de
Bragança não tinha nenhuma ligação direta com a corte.
"O nome é apenas uma homenagem", explica o secretário.
Os documentos passarão agora
por uma limpeza e serão acondicionados em embalagens adequadas -pastas de papel neutro.
O fato de a maioria ter sido confeccionada a partir de trapos, e não
celulose, é uma das razões pela
qual estão em tão bom estado.
"Vou propor que venha um especialista em papel para fazer esse
trabalho", diz a museóloga Giselle
Paixão, 43.
Segundo ela, os documentos não
podem ficar em contato com o ar,
luz ou umidade, sob pena de oxidarem -a olho nu, o resultado é o
amarelamento do papel.
Colaborou
Lilian Christofoletti, da Folha Campinas
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