São Paulo, Terça-feira, 05 de Outubro de 1999
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ARTES PLÁSTICAS BALANÇO

Brasileiros vendem pouco em Paris

CELSO FIORAVANTE
enviado especial a Paris A 26ª edição da Fiac foi um fiasco. A Feira Internacional de Arte Contemporânea, em Paris, terminou no último dia 20 com pelo menos uma certeza: dificilmente uma representação brasileira repetirá a performance deste ano, quando dez galerias participaram do evento: Raquel Arnaud, Valu Oria, Nara Roesler, Luisa Strina, Marília Razuk, Casa Triângulo, Brito Cimino, Camargo Vilaça, Thomas Cohn e Jean Boghici.
Mal organizada e com uma visão burocrática da arte contemporânea, a feira pecou ainda ao acontecer em coincidência com uma semana importante do calendário judaico (entre o Rosh Hashaná, na noite do dia 10, que comemorou a entrada do ano 5.760, e o Yom Kipur, dia do perdão, que começou na noite do dia 19). Essa última "falha" afastou a maioria dos grandes colecionadores, principalmente americanos.
Apesar de tentarem provar o contrário, grande parte das galerias brasileiras sentiu esses problemas e voltou ao país no vermelho. Apenas o metro quadrado do estande custou cerca de US$ 200. Um estande de 50 metros, como os das galerias Marília Razuk e Camargo Vilaça, acabou saindo por cerca de US$ 10 mil. Quem estava dentro de um projeto especial, dedicado a jovens galerias, como a Casa Triângulo e Brito Cimino, pagou US$ 4.500. Convém ainda não esquecer que a esses valores devem ser ainda incluídas despesas fixas com passagens, hotel e transporte de obras.
Ricardo Trevisan, da Casa Triângulo, questionou a organização da feira. "Não adianta fazer um evento dedicado à América Latina e não se esforçar para trazer colecionadores, curadores, críticos e diretores de museus interessados no assunto. Eu praticamente só vendi para clientes conhecidos", disse Trevisan, que prometeu não voltar à feira caso essa política não mude.
"Continuo achando que esse é um trabalho que deve ser visto a médio prazo. É preciso colocar o artista brasileiro nesse contexto internacional", disse Fábio Cimino, da galeria Brito Cimino.
"Participar de uma feira corresponde a fazer uma propaganda institucional, que dá frutos a longo prazo, com a participação contínua", concorda Marília Razuk, que disse ainda ter tido uma receptividade maior que na feira Arco, em Madri, em 1997, também dedicada à América Latina.
"Vendi mais do que na Arco e mais do que esperava, talvez porque nosso estande resgatasse algumas origens culturais e estéticas brasileiras, como nos trabalhos de Marcos Coelho Benjamin", disse. "Mas não saí do vermelho. Isso é difícil", acrescentou.
"A Fiac está tentando recuperar o seu prestígio, mas os curadores franceses não são muito abertos à arte contemporânea. Viemos para cumprir um compromisso, e vendemos basicamente para colecionadores que já conhecíamos", disse Karla Camargo, sócia da galeria Camargo Vilaça.
Sua galeria, porém, se deu melhor pois contou com a vantagem de possuir um time de artistas estabelecido no mercado francês, como Vik Muniz, Valeska Soares e Miguel Rio Branco.
Quem também se aproveitou de nomes fortes no mercado francês foram Luisa Strina (que vendeu peças de Tunga), Thomas Cohn (que comercializou um ótimo trabalho do argentino Guillermo Kuitka) e Jean Boghici, que levou um surpreendente conjunto de 20 trabalhos da escultora surrealista Maria Martins (nem todos de sua propriedade) e vendeu alguns.
Por pouco a Fiac não precisou tirar a letra C da sigla, tal a quantidade de trabalhos de mestres modernos, como Picasso e Miró.
Esses nomes eram mostrados no início da feira, já que os grandes negócios deveriam vir antes de tudo. No meio ficaram os convidados latino-americanos e, no fundo, as galerias mais preocupadas com pesquisa estética.


O jornalista Celso Fioravante viajou a Paris a convite da galeria Marília Razuk

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