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ARTES PLÁSTICAS BALANÇO
Brasileiros vendem pouco em Paris
CELSO FIORAVANTE
enviado especial a Paris
A 26ª edição da Fiac foi um fiasco. A Feira Internacional de Arte
Contemporânea, em Paris, terminou no último dia 20 com pelo
menos uma certeza: dificilmente
uma representação brasileira repetirá a performance deste ano,
quando dez galerias participaram
do evento: Raquel Arnaud, Valu
Oria, Nara Roesler, Luisa Strina,
Marília Razuk, Casa Triângulo,
Brito Cimino, Camargo Vilaça,
Thomas Cohn e Jean Boghici.
Mal organizada e com uma visão burocrática da arte contemporânea, a feira pecou ainda ao
acontecer em coincidência com
uma semana importante do calendário judaico (entre o Rosh
Hashaná, na noite do dia 10, que
comemorou a entrada do ano
5.760, e o Yom Kipur, dia do perdão, que começou na noite do dia
19). Essa última "falha" afastou a
maioria dos grandes colecionadores, principalmente americanos.
Apesar de tentarem provar o
contrário, grande parte das galerias brasileiras sentiu esses problemas e voltou ao país no vermelho. Apenas o metro quadrado do
estande custou cerca de US$ 200.
Um estande de 50 metros, como
os das galerias Marília Razuk e
Camargo Vilaça, acabou saindo
por cerca de US$ 10 mil. Quem estava dentro de um projeto especial, dedicado a jovens galerias,
como a Casa Triângulo e Brito Cimino, pagou US$ 4.500. Convém
ainda não esquecer que a esses valores devem ser ainda incluídas
despesas fixas com passagens, hotel e transporte de obras.
Ricardo Trevisan, da Casa
Triângulo, questionou a organização da feira. "Não adianta fazer
um evento dedicado à América
Latina e não se esforçar para trazer colecionadores, curadores,
críticos e diretores de museus interessados no assunto. Eu praticamente só vendi para clientes conhecidos", disse Trevisan, que
prometeu não voltar à feira caso
essa política não mude.
"Continuo achando que esse é
um trabalho que deve ser visto a
médio prazo. É preciso colocar o
artista brasileiro nesse contexto
internacional", disse Fábio Cimino, da galeria Brito Cimino.
"Participar de uma feira corresponde a fazer uma propaganda
institucional, que dá frutos a longo prazo, com a participação contínua", concorda Marília Razuk,
que disse ainda ter tido uma receptividade maior que na feira
Arco, em Madri, em 1997, também dedicada à América Latina.
"Vendi mais do que na Arco e
mais do que esperava, talvez porque nosso estande resgatasse algumas origens culturais e estéticas brasileiras, como nos trabalhos de Marcos Coelho Benjamin", disse. "Mas não saí do vermelho. Isso é difícil", acrescentou.
"A Fiac está tentando recuperar
o seu prestígio, mas os curadores
franceses não são muito abertos à
arte contemporânea. Viemos para cumprir um compromisso, e
vendemos basicamente para colecionadores que já conhecíamos",
disse Karla Camargo, sócia da galeria Camargo Vilaça.
Sua galeria, porém, se deu melhor pois contou com a vantagem
de possuir um time de artistas estabelecido no mercado francês,
como Vik Muniz, Valeska Soares
e Miguel Rio Branco.
Quem também se aproveitou de
nomes fortes no mercado francês
foram Luisa Strina (que vendeu
peças de Tunga), Thomas Cohn
(que comercializou um ótimo trabalho do argentino Guillermo
Kuitka) e Jean Boghici, que levou
um surpreendente conjunto de 20
trabalhos da escultora surrealista
Maria Martins (nem todos de sua
propriedade) e vendeu alguns.
Por pouco a Fiac não precisou
tirar a letra C da sigla, tal a quantidade de trabalhos de mestres modernos, como Picasso e Miró.
Esses nomes eram mostrados
no início da feira, já que os grandes negócios deveriam vir antes
de tudo. No meio ficaram os convidados latino-americanos e, no
fundo, as galerias mais preocupadas com pesquisa estética.
O jornalista Celso Fioravante viajou a Paris
a convite da galeria Marília Razuk
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