São Paulo, quinta-feira, 05 de outubro de 2006

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DJ Shadow faz álbum pop e afasta puristas

O novo disco, "The Outsider", chega neste mês ao Brasil e tem muitos vocais; DJ é atração do Tim

Allen Kiely/Divulgação
DJ Shadow em show no festival Electric Picnic, na Irlanda


THIAGO NEY
ENVIADO ESPECIAL A DUBLIN

DJ Shadow produziu um monstro, e é obrigado a conviver com a criatura.
Em 1996, ele lançou "Endtroducing", um dos poucos discos da história recente do pop que realmente podem ser classificados como inovadores. O álbum foi arquitetado a partir de samples -a maioria de canções obscuras. Com espírito experimental, atmosférico, ajudou a dar forma a um novo gênero, o hip hop underground, mas é muito mais amplo: tem soul music, dub, eletrônica, jazz.
"Endtroducing" tornou-se cult e formou em torno de si não apenas fãs mas seguidores ardorosos. Shadow sente isso na pele. Após o mediano "The Private Press" (2002), ele aparece agora com o terceiro disco, "The Outsider", que deve chegar ao Brasil em dez dias, pouco antes da apresentação de Shadow no Tim Festival, em 29 de outubro, no Rio de Janeiro.
Diferentemente de "Endtroducing", "The Outsider" tem muitos vocais (participações de E-40, Keak Da Sneak, Lateef, de integrantes do Kasabian, de Christina Carter, do Charalambides), namoros com o rock e é o álbum mais pop de Shadow. Muitos fãs torceram o nariz.
"Tenho dois tipos de fãs: fãs de "Endtroducing" e fãs do DJ Shadow", conta Josh Davis, o DJ Shadow, antes de um show na Irlanda, em setembro. "Os fãs de "Endtroducing" gostam apenas daquele disco, não gostam de outra coisa. Queriam que eu fizesse aquele álbum de novo e de novo, para sempre. Gosto do disco, mas repeti-lo não está nos meus planos."
Ao contrário da rapidez com que é conhecido ao manipular seus equipamentos no palco, em entrevista Shadow fala pausadamente, parece tímido. Mas ao comentar a reação dos fãs com seu novo disco, ele dispara: "Há uma diferença entre fãs de DJ Shadow e gente que passa o tempo reclamando em fóruns de discussão. Algumas pessoas estão ok com o fato de que coisas novas estão aparecendo, outras pessoas sentem falta daquele álbum. Parece que muita gente cresce, mas o mundo da música muda mais rápido. E essas pessoas não querem que as coisas mudem tão rapidamente, elas querem lembrar dos velhos tempos...
Eu gosto de música nova, preciso de novas inspirações."
Mais canções
Essas novas inspirações transparecem tanto no show -com Shadow enfatizando menos a técnica e mais as canções- quanto no próprio disco. "The Outsider" tem faixas de rap clássico, rock e músicas difíceis de serem rotuladas.
"Se eu fizesse um disco instrumental, seria fácil para as pessoas classificarem como mais um álbum de hip hop underground, instrumental e com samples obscuros. Queria um disco difícil de ser categorizado, um disco que fosse tão vasto e variado como as coisas que eu costumo escutar. Se eu entrasse na [loja] Virgin Megastore, não saberia onde procurar Gnarls Barkley, por exemplo. É rap? É rock? É eletrônica? O que é? Esse é o ponto. Não me importo em ouvir um gangsta rap ao lado de uma balada roqueira dos anos 70. E acho que tem muita gente por aí que também gosta disso."
Mas toda essa mistura, Shadow frisa, acontece ao longo do disco, faixa a faixa, e não dentro de uma mesma música. ""3 Freaks" foi feita para a cena hyphy [gênero de rap surgido em San Francisco, com gírias próprias e batidas aceleradas].
Não quero misturar várias coisas numa mesma canção, como colocar guitarras numa música rap e batidas eletrônicas. Isso é chato. Prefiro um disco que contenha faixas diferentes."
Sobre as várias colaborações que aparecem no álbum, Shadow diz que nada foi pensado previamente. "Nunca penso ou ligo para alguém antes de ter uma melodia que soe bem. Faço uma faixa, e aí penso em quem poderia chamar para participar. Não é que eu tenha uma lista com pessoas com as quais gostaria de trabalhar."
A inspiração vem de pontos distintos. "Em 2003, viajei pelo sul dos EUA e escutei bastante country. Quero produzir algo único, não quero soar como os outros, não quero me conformar com as regras, como outras pessoas se conformam. Quero oferecer um disco que não soe como outros discos."

O jornalista Thiago Ney viajou a convite da produção do Tim Festival

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