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Grupo acusa Fundação Bienal de censurar obra
Criado pelo coletivo dinamarquês Superflex, "Guaraná Power" ficou fora da mostra
Artistas dizem que trabalho foi vetado pela presidência da fundação; para os organizadores, haveria problema de ordem jurídica
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma acusação de censura
criou polêmica, ontem, na entrevista coletiva dos organizadores da 27ª Bienal de São Paulo. No documento "A obra de
arte que os brasileiros não terão permissão de ver na Bienal", distribuído à imprensa, o
grupo dinamarquês Superflex
afirmou que o "presidente da
Fundação Bienal, Manuel
Francisco Pires da Costa, censurou um trabalho com reconhecimento internacional para
o público brasileiro".
A obra "Guaraná Power", que
faz referências críticas à indústria de refrigerantes (leia texto
à esquerda), já foi apresentada
na Bienal de Veneza, em 2003.
O trabalho foi selecionado para
a mostra brasileira pelo grupo
de curadores e, segundo o texto
divulgado pelo Superflex, acabou sendo recusado "por não
ser considerada uma "atividade
artística'".
Com isso, foi apontada uma
suposta intervenção da presidência da Bienal em decisões
curatoriais da mostra.
"Eu jamais interferi no mérito das obras selecionadas. Aliás,
a acho de muito mau gosto e, se
não julguei, estou julgando agora. Foi o departamento jurídico
da Bienal quem informou que
essa obra não estava de acordo
com as regras da legislação brasileira", disse, em tom irritado,
Pires da Costa, na entrevista
coletiva com os responsáveis
pela Bienal, realizada na manhã
de ontem.
"Além do mais, nós sabemos
que o grupo sofre várias ações
no exterior e aqui não seria o
palco adequado no qual se poderiam discutir problemas sobre legalidade", afirmou o presidente.
Problemas legais
Já o co-curador da Bienal,
Adriano Pedrosa, reforça a tese
de Pires da Costa: "Nós tínhamos interesse na obra, mas trabalhamos na Fundação e fomos
orientados pelo departamento
jurídico. Por mais autonomia
que tenhamos, não podemos ir
contra a lei".
"O que eles sempre nos disseram é que isso poderia ser um
problema, mas o presidente
nunca nos deu respostas claras.
Nossas obras sempre envolvem
negociação, mas com ele tivemos as portas fechadas. Se eles
olhassem como ficou a lata [diferente da criação original],
não haveria problema legal",
disse à Folha Jakob Fenger,
um dos membros do grupo.
Cildo Meireles
Ainda ontem, Pires da Costa
explicou o motivo de o artista
Cildo Meireles não estar na
mostra, mesmo após o ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira
ter sido retirado do Conselho
da Bienal, condição imposta
pelo artista para participar da
exposição: "A notícia que nos
foi dada pela curadoria é que a
volta seria difícil, pois ele não
teria condições de retomar o
seu trabalho pelo tempo já perdido". Segundo Cristina Freire, uma das co-curadoras, Meireles apresentaria três obras,
mas uma delas, "Homeless-Home", não ficaria pronta.
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