São Paulo, segunda-feira, 05 de outubro de 2009

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Cantora Mercedes Sosa morre aos 74

Ícone da música popular e da resistência política na ditadura argentina, artista morreu na madrugada de ontem

Juca Ferreira, ministro da Cultura do Brasil, seguiu para Buenos Aires para representar Lula nas homenagens a Sosa

SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES

A cantora argentina Mercedes Sosa morreu na madrugada de ontem, aos 74 anos, em Buenos Aires. Ela havia sido internada no último dia 18, com disfunção renal. O seu quadro se agravou ao longo dos dias, comprometendo fígado, pulmões e a atividade cardiorrespiratória.
Sosa era cardiopata. O corpo da cantora foi velado por uma multidão de fãs, desde o meio-dia de ontem, na sede do Congresso Nacional. "Ela merece este lugar. Ninguém como Mercedes soube valorizar nossa identidade. Ela é a voz da pátria, a voz da terra", afirmou o secretário de Cultura da Nação, Jorge Coscia.
A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, avisou a Coscia que decretaria luto oficial e adiantaria sua volta do sul do país, para comparecer ao velório, onde estiveram dezenas de artistas e diversos políticos.
O ministro da Cultura do Brasil, Juca Ferreira, chegaria nesta madrugada a Buenos Aires como representante do presidente Lula para as homenagens a Sosa. No adeus a cantora, os fãs enfrentaram pacientemente longas filas, depositaram flores no salão do Congresso onde estava seu corpo e, em alguns momentos, cantaram seus sucessos e aplaudiram.
Na tarde de hoje, o corpo de Sosa sairia em cortejo para o cemitério La Chacarita, onde será cremado. A pedido da cantora, suas cinzas serão distribuídas entre as províncias de Tucumán, onde nasceu; Mendoza, onde iniciou a carreira profissional; e Buenos Aires, onde viveu a maior parte de sua vida.
A família de Sosa divulgou pela internet (www.merce dessosa.com.ar) um agradecimento aos fãs. "Ela passou esses últimos momentos em paz, lutando aguerridamente contra uma morte que acabou ganhando a batalha."
Na última quarta, quando Sosa foi induzida ao coma e passou a respirar com auxílio de aparelhos, dado o agravamento de sua condição de saúde, o filho e empresário da cantora, Fabián Mathus, 39, conversou com a imprensa. Ele contou que, enquanto esteve consciente, Sosa recebeu visitas e pediu que mantivesse a TV ligada no noticiário sobre os protestos sociais que ocorriam em Buenos Aires.
"Ela viveu plenamente seus 74 anos. Fez quase tudo que quis. Não teve nenhum medo ou barreira que a limitasse.
Mercedes sempre foi um símbolo de liberdade", afirmou.
Com a morte de Mercedes Sosa, a Argentina se despede não só de uma de suas maiores vozes mas também de um símbolo da luta civil em defesa da democracia no país.
"Esses prêmios que ganhei não são prêmios só porque eu canto, mas porque penso, penso nos seres humanos, na injustiça. Acho que, se eu não pensasse assim, meu destino teria sido outro", diz Sosa, num depoimento para o "making of" de seu último disco, "Cantora".
Sosa exilou-se em Paris, em 1979, e em seguida em Madri, a partir do ano seguinte, depois de ter sido detida durante um show na cidade de La Plata (Buenos Aires) em 1979, quando vigorava a ditadura do general Jorge Videla. Ela foi proibida de cantar em seu país.
A música de Sosa esteve associada desde seus primeiros álbuns, como "Yo No Canto Por Cantar" (1966), à valorização dos sentimentos e modos de vida populares. Ela é um expoente do chamado "novo cancioneiro argentino", que procurou dotar de consistência política a canção folclórica.
Tornaram-se mundialmente conhecidas suas interpretações de canções como "Gracias a la Vida", de Violeta Parra.
"Cantora", seu 36º álbum numa carreira de mais de 40 anos, está indicado em três categorias do Grammy Latino. Os resultados serão anunciados em novembro, nos EUA.
Para "Cantora", Sosa convidou dois brasileiros, Caetano Veloso, com quem canta "Coração Vagabundo", de Caetano; e Daniela Mercury, que gravou "O Que Será?", de Chico Buarque e Milton Nascimento. A volta de Sosa aos palcos argentinos, após o exílio, havia ocorrido em 1982, quando realizou shows no Teatro Ópera, compilados num disco, "Mercedes Sosa en Argentina".


Colaborou DENISE MOTA , em Montevidéu


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