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Cantora Mercedes Sosa morre aos 74
Ícone da música popular e da resistência política na ditadura argentina, artista morreu na madrugada de ontem
Juca Ferreira, ministro da Cultura do Brasil, seguiu para Buenos Aires para representar Lula nas homenagens a Sosa
SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES
A cantora argentina Mercedes Sosa morreu na madrugada
de ontem, aos 74 anos, em Buenos Aires. Ela havia sido internada no último dia 18, com disfunção renal. O seu quadro se
agravou ao longo dos dias, comprometendo fígado, pulmões e
a atividade cardiorrespiratória.
Sosa era cardiopata.
O corpo da cantora foi velado
por uma multidão de fãs, desde
o meio-dia de ontem, na sede
do Congresso Nacional. "Ela
merece este lugar. Ninguém como Mercedes soube valorizar
nossa identidade. Ela é a voz da
pátria, a voz da terra", afirmou
o secretário de Cultura da Nação, Jorge Coscia.
A presidente da Argentina,
Cristina Kirchner, avisou a
Coscia que decretaria luto oficial e adiantaria sua volta do sul
do país, para comparecer ao velório, onde estiveram dezenas
de artistas e diversos políticos.
O ministro da Cultura do
Brasil, Juca Ferreira, chegaria
nesta madrugada a Buenos Aires como representante do presidente Lula para as homenagens a Sosa.
No adeus a cantora, os fãs enfrentaram pacientemente longas filas, depositaram flores no
salão do Congresso onde estava
seu corpo e, em alguns momentos, cantaram seus sucessos e
aplaudiram.
Na tarde de hoje, o corpo de
Sosa sairia em cortejo para o
cemitério La Chacarita, onde
será cremado. A pedido da cantora, suas cinzas serão distribuídas entre as províncias de
Tucumán, onde nasceu; Mendoza, onde iniciou a carreira
profissional; e Buenos Aires,
onde viveu a maior parte de
sua vida.
A família de Sosa divulgou
pela internet (www.merce
dessosa.com.ar) um agradecimento aos fãs. "Ela passou esses últimos momentos em paz,
lutando aguerridamente contra uma morte que acabou ganhando a batalha."
Na última quarta, quando
Sosa foi induzida ao coma e
passou a respirar com auxílio
de aparelhos, dado o agravamento de sua condição de saúde, o filho e empresário da cantora, Fabián Mathus, 39, conversou com a imprensa.
Ele contou que, enquanto esteve consciente, Sosa recebeu
visitas e pediu que mantivesse
a TV ligada no noticiário sobre
os protestos sociais que ocorriam em Buenos Aires.
"Ela viveu plenamente seus
74 anos. Fez quase tudo que
quis. Não teve nenhum medo
ou barreira que a limitasse.
Mercedes sempre foi um símbolo de liberdade", afirmou.
Com a morte de Mercedes
Sosa, a Argentina se despede
não só de uma de suas maiores
vozes mas também de um símbolo da luta civil em defesa da
democracia no país.
"Esses prêmios que ganhei
não são prêmios só porque eu
canto, mas porque penso, penso nos seres humanos, na injustiça. Acho que, se eu não
pensasse assim, meu destino
teria sido outro", diz Sosa, num
depoimento para o "making of"
de seu último disco, "Cantora".
Sosa exilou-se em Paris, em
1979, e em seguida em Madri, a
partir do ano seguinte, depois
de ter sido detida durante um
show na cidade de La Plata
(Buenos Aires) em 1979, quando vigorava a ditadura do general Jorge Videla. Ela foi proibida de cantar em seu país.
A música de Sosa esteve associada desde seus primeiros
álbuns, como "Yo No Canto
Por Cantar" (1966), à valorização dos sentimentos e modos
de vida populares. Ela é um expoente do chamado "novo cancioneiro argentino", que procurou dotar de consistência
política a canção folclórica.
Tornaram-se mundialmente
conhecidas suas interpretações
de canções como "Gracias a la
Vida", de Violeta Parra.
"Cantora", seu 36º álbum
numa carreira de mais de 40
anos, está indicado em três categorias do Grammy Latino. Os
resultados serão anunciados
em novembro, nos EUA.
Para "Cantora", Sosa convidou dois brasileiros, Caetano
Veloso, com quem canta "Coração Vagabundo", de Caetano;
e Daniela Mercury, que gravou
"O Que Será?", de Chico Buarque e Milton Nascimento.
A volta de Sosa aos palcos argentinos, após o exílio, havia
ocorrido em 1982, quando realizou shows no Teatro Ópera,
compilados num disco, "Mercedes Sosa en Argentina".
Colaborou DENISE MOTA , em Montevidéu
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