|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
Artista permanece símbolo da vertente formalista da MPB
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
Desde a aparição do menino-prodígio de uma segunda
dentição da bossa, a trajetória de
Edu Lobo tem sido sucessão de
guinadas fortes, embora pouco
perceptíveis ao olho público.
O artista que progrediu rumo à
discrição ampla, geral e irrestrita
já foi, acredite, um pop star. Garotão que casava sofisticação artística e atributos físicos, disputou
com garra a preferência popular
na avassaladora era dos festivais.
A primeira guinada aconteceu
após o intervalo 65-67, anos de supremacia da canção de protesto,
que em Edu se traduziu em pesquisa dos ritmos e saberes nordestinos e manifestos indignados
de protesto nacional-popular.
Chamou-se tropicalismo a guinada. A partir dela, a MPB rachou
entre a corrente formalista (de
Edu, de Chico Buarque, de Elis
Regina, do já desaparecido Geraldo Vandré) e a outra, para a qual
virtuosismo musical seria quanto
muito um quesito entre vários.
A resposta de Edu foi um afastamento progressivo do estrelato
histérico que seduzia ídolos tão
diversos como Chico, Caetano
Veloso, Rita Lee e Roberto Carlos.
A pedra de toque desse segundo
Edu é o álbum de 73, que cuspia resposta em
latim à sanha censora da ditadura.
No meio de toadas já postas fora
de moda pela tropicália (como a
literal "Viola Fora de Moda"),
Edu avisava com uma missa em
latim que estava sendo amordaçado. E "Edu Lobo" formava, com
"Milagre dos Peixes" , de Milton
Nascimento, e "Amazonas", de
Naná Vasconcelos, a trinca de discos "mudos" mais eloqüentes da
história do Brasil ditatorial.
A missa breve repercutiu em introspecção crescente, que elaborou momentos assombrosos de
boa música formalista -"Uma
Vez um Caso" (76), "Lero-Lero"
(78), o LP com Tom Jobim.
O ápice com Jobim remeteria a
outra gigantesca virada: a partir
da coalizão com Chico, virou
compositor de trilhas sonoras escondido quase sempre por trás de
outros intérpretes. Só em 94 voltaria a aparecer como dono único
de um disco, agora já em fase independente, de projeção limitada.
Pequeno mistério da MPB, o
porquê da aversão ao estrelato
por parte de um de seus mais consistentes astros musicais nos anos
60 talvez estivesse dentro dele
próprio, de sua rigidez, intransigência e ojeriza ao "estrangeiro".
Mas nem isso seria suficiente
para uma explicação integral. Um
de seus momentos mais meigos e
espantosos pode ser encontrado
no LP gringo "Sergio Mendes Presents Edu Lobo" (70): uma versão
cantarolada, brasileiríssima, quase tropicalista, de "Hey Jude", dos
Beatles. Hoje, Caetano e Gil parecem mais Edu que Edu -o primeiro como intérprete formalista
de canções em espanhol e inglês, o
segundo como político esquerdista. Edu Lobo? Edu Lobo permanece Edu Lobo e nos mantém na
contínua espera de suas canções
rígidas, belas e aguerridas.
Texto Anterior: Viola fora de moda Próximo Texto: Outros lançamentos - Anarquia roqueira: No Descompasso do Transe Retalhos do Meu Silêncio Índice
|