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Namoradinha rebelde
Regina Duarte defende uma TV "menos
focada em números", quer fazer humor
e lamenta ser excluída do cinema atual
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Regina Duarte cansou de falar sobre medo, reclama da TV
atual, "focada nos números e
em programas de fácil digestão", e vê no cinema nacional
uma panelinha que a exclui.
Essa Regina que concedeu
entrevista à Folha na última
quarta-feira está bem mais para Malu, a socióloga divorciada
que interpretou há quase 30
anos no inovador seriado "Malu Mulher", da Globo -a ser
lançado em DVD neste mês-,
do que para Helena, seu atual
papel em "Páginas da Vida",
novela das oito da emissora.
As duas heroínas guardam
alguma semelhança, visto que
Manoel Carlos, "pai" de Helena, foi um dos roteiristas de
"Malu". Mas, ao falar de sexo,
virgindade e orgasmo, a personagem do fim dos anos 70 chacoalhava a sociedade e incomodava a censura. Hoje, Helena
volta a alguns desses temas "femininos", mas sem a rebeldia e
o frescor daqueles tempos.
Aos 59 anos, 42 de televisão,
a atriz, apesar de defender uma
programação mais moderna e
de esperar por um papel que
quebre a seqüência de heroínas
românticas, não abre mão do
título de "namoradinha do Brasil" e afirma não querer incluir
uma vilã em seu currículo.
Saiba por que na entrevista
que segue abaixo e à pág. E5, na
qual ela fala também sobre Lula e o programa de computador
que a rejuvenesce na novela.
FOLHA - "Malu Mulher" falava de
sexo, virgindade, menstruação, e o
tom era transgressor. Hoje, Helena
[de "Páginas da Vida"] aborda temas semelhantes, mas não há o
efeito inovador, virou conversa cotidiana. Esse tipo de argumento perdeu a força, acabou banalizado?
REGINA DUARTE - A sociedade
derrubou tabus, e atualmente é
difícil escolher um tema que
possa significar escândalo, que
seja revolucionário ou que ainda não tenha sido discutido.
Mas não podemos comparar
"Malu Mulher" com "Páginas
da Vida". Uma coisa é um seriado com um episódio por semana, outra é uma novela com 200
capítulos. É claro que Helena
tem cenas tão contundentes
quanto Malu, mas é impossível
manter isso todos os dias. E faz
parte da novela esse tom de
crônica do cotidiano.
FOLHA - Como estava sua vida e
sua carreira à época de "Malu"?
REGINA - Vivia uma situação
exatamente igual à da personagem. Tinha acabado de me separar e estava assustada, machucada, com dois filhos para
criar e não mais sob a tutela do
meu pai. Fazer o seriado me
fortaleceu, foi terapêutico. Pude entender sentimentos, e talvez demorasse anos para isso.
FOLHA - É verdade que Malu foi
inspirada em Ruth Cardoso?
REGINA - Não é bem assim. Ela
foi inspirada na mulher que
surgia na época, no "boom" no
número de desquites. Foi escolhida a profissão de socióloga,
que estava em alta naquele
tempo, e a mais conhecida era
dona Ruth. Fizemos uma visita
para ela dar uma idéia de como
vivia, morava, do que gostava.
FOLHA - A dona Ruth tomava muito uísque, como Malu [risos]?
REGINA - Não, não. E era muito
bem casada [risos]. A situação
dela era outra. Nós nos inspiramos nas roupas, nos quadros da
casa, no universo dela.
FOLHA - "Malu Mulher" parece
mais moderno do que muitos programas atuais, não concorda?
REGINA - Concordo totalmente.
Gostaria que houvesse hoje
mais programas com aquela
qualidade, não só na forma como no conteúdo. O motivo de
não haver é um fenômeno a ser
estudado. Hoje a programação
passou a se preocupar muito
com os números do Ibope. E
não sei por que alguém inventou que a massa gosta de coisas
leves, fáceis, de fácil digestão.
FOLHA - Você é mais politizada hoje ou quando fez "Malu Mulher"?
REGINA - Desde quando fiquei
grávida do meu primeiro filho,
que agora fez 33 anos, comecei
a me interessar por política. Se
quero um mundo melhor, não
adianta ficar romanticamente
desejando. Tem que votar direito, conhecer os candidatos e
se engajar em algumas causas
do interesse geral da nação.
FOLHA - Você não tem planos de
fazer um papel menos romântico,
mais próximo da Viúva Porcina?
REGINA - Seria muito bem-vinda uma proposta com essa qualidade e energia. Não gostaria
de repetir a Porcina, mas queria
algo naquela linha de humor.
FOLHA - E atuar como vilã?
REGINA - Vilã em televisão eu
não gosto. Para mim não.
FOLHA - Por que não?
REGINA - Ah, não gosto. Acho
pesado, carregado. Gosto de
personagens construtivos, não
dos destrutivos. Só para cima,
alto astral, gente que quer crescer, que não está preocupada
em pisar em ninguém para conseguir o que quer na vida.
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