São Paulo, domingo, 05 de novembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Namoradinha rebelde

Regina Duarte defende uma TV "menos focada em números", quer fazer humor e lamenta ser excluída do cinema atual

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Regina Duarte cansou de falar sobre medo, reclama da TV atual, "focada nos números e em programas de fácil digestão", e vê no cinema nacional uma panelinha que a exclui.
Essa Regina que concedeu entrevista à Folha na última quarta-feira está bem mais para Malu, a socióloga divorciada que interpretou há quase 30 anos no inovador seriado "Malu Mulher", da Globo -a ser lançado em DVD neste mês-, do que para Helena, seu atual papel em "Páginas da Vida", novela das oito da emissora.
As duas heroínas guardam alguma semelhança, visto que Manoel Carlos, "pai" de Helena, foi um dos roteiristas de "Malu". Mas, ao falar de sexo, virgindade e orgasmo, a personagem do fim dos anos 70 chacoalhava a sociedade e incomodava a censura. Hoje, Helena volta a alguns desses temas "femininos", mas sem a rebeldia e o frescor daqueles tempos.
Aos 59 anos, 42 de televisão, a atriz, apesar de defender uma programação mais moderna e de esperar por um papel que quebre a seqüência de heroínas românticas, não abre mão do título de "namoradinha do Brasil" e afirma não querer incluir uma vilã em seu currículo. Saiba por que na entrevista que segue abaixo e à pág. E5, na qual ela fala também sobre Lula e o programa de computador que a rejuvenesce na novela.

 

FOLHA - "Malu Mulher" falava de sexo, virgindade, menstruação, e o tom era transgressor. Hoje, Helena [de "Páginas da Vida"] aborda temas semelhantes, mas não há o efeito inovador, virou conversa cotidiana. Esse tipo de argumento perdeu a força, acabou banalizado?
REGINA DUARTE
- A sociedade derrubou tabus, e atualmente é difícil escolher um tema que possa significar escândalo, que seja revolucionário ou que ainda não tenha sido discutido. Mas não podemos comparar "Malu Mulher" com "Páginas da Vida". Uma coisa é um seriado com um episódio por semana, outra é uma novela com 200 capítulos. É claro que Helena tem cenas tão contundentes quanto Malu, mas é impossível manter isso todos os dias. E faz parte da novela esse tom de crônica do cotidiano.

FOLHA - Como estava sua vida e sua carreira à época de "Malu"?
REGINA
- Vivia uma situação exatamente igual à da personagem. Tinha acabado de me separar e estava assustada, machucada, com dois filhos para criar e não mais sob a tutela do meu pai. Fazer o seriado me fortaleceu, foi terapêutico. Pude entender sentimentos, e talvez demorasse anos para isso.

FOLHA - É verdade que Malu foi inspirada em Ruth Cardoso?
REGINA
- Não é bem assim. Ela foi inspirada na mulher que surgia na época, no "boom" no número de desquites. Foi escolhida a profissão de socióloga, que estava em alta naquele tempo, e a mais conhecida era dona Ruth. Fizemos uma visita para ela dar uma idéia de como vivia, morava, do que gostava.

FOLHA - A dona Ruth tomava muito uísque, como Malu [risos]?
REGINA
- Não, não. E era muito bem casada [risos]. A situação dela era outra. Nós nos inspiramos nas roupas, nos quadros da casa, no universo dela.

FOLHA - "Malu Mulher" parece mais moderno do que muitos programas atuais, não concorda?
REGINA
- Concordo totalmente. Gostaria que houvesse hoje mais programas com aquela qualidade, não só na forma como no conteúdo. O motivo de não haver é um fenômeno a ser estudado. Hoje a programação passou a se preocupar muito com os números do Ibope. E não sei por que alguém inventou que a massa gosta de coisas leves, fáceis, de fácil digestão.

FOLHA - Você é mais politizada hoje ou quando fez "Malu Mulher"?
REGINA
- Desde quando fiquei grávida do meu primeiro filho, que agora fez 33 anos, comecei a me interessar por política. Se quero um mundo melhor, não adianta ficar romanticamente desejando. Tem que votar direito, conhecer os candidatos e se engajar em algumas causas do interesse geral da nação.

FOLHA - Você não tem planos de fazer um papel menos romântico, mais próximo da Viúva Porcina?
REGINA
- Seria muito bem-vinda uma proposta com essa qualidade e energia. Não gostaria de repetir a Porcina, mas queria algo naquela linha de humor.

FOLHA - E atuar como vilã?
REGINA
- Vilã em televisão eu não gosto. Para mim não.

FOLHA - Por que não?
REGINA
- Ah, não gosto. Acho pesado, carregado. Gosto de personagens construtivos, não dos destrutivos. Só para cima, alto astral, gente que quer crescer, que não está preocupada em pisar em ninguém para conseguir o que quer na vida.


Texto Anterior: Horário nobre na TV Aberta
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.