São Paulo, domingo, 05 de novembro de 2006

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DVDs

Crítica/"Grand Prix"

Frankenheimer registra romantismo da F-1

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Nunca houve um filme como "Grand Prix" -e nunca haverá, pelo simples fato de que a Fórmula 1 já não é mais o mundo épico e romântico que era (ou parecia ser) quatro décadas atrás, quando o norte-americano John Frankenheimer ousou levar às telas esse esporte essencialmente europeu.
Pouco importam os personagens um tanto caricatos e o entrecho dramático quase simplório que Frankenheimer criou como arcabouço ficcional para colocar nas telas o que de fato lhe interessava: a atmosfera eletrizante das corridas, numa época em que os carros eram quase tão velozes quanto hoje, mas muito menos seguros (assim como os circuitos), o que tornava freqüentes os acidentes espetaculares e não raras as mortes.
De fato, o drama é básico: o piloto norte-americano Pete Aron (James Garner), depois de tirar da pista acidentalmente seu companheiro de equipe britânico Scott Stoddard (Brian Bedford), conquista a mulher deste (Jessica Walter), mas perde o emprego na escuderia. Até o fim do filme, depois de várias reviravoltas, eles voltarão a disputar o pódio e a mulher.
Paralelamente a esse triângulo, acompanhamos a história do piloto francês Jean-Pierre Sarti (Yves Montand), que desenvolve um romance extraconjugal com uma jornalista americana (Eva Marie Saint). Por fim, há o amalucado italianinho Nino Barlini (Antonio Sabàto), companheiro de Sarti na Ferrari, que conquista e perde a bela hippie Lisa (Françoise Hardy).
Isso tudo, de certo modo, importa apenas para acrescentar uma dose de drama às corridas propriamente ditas. É nelas que reside a força perene de "Grand Prix".

Inovação
Para conseguir mais veracidade e impacto, Frankenheimer inovou em várias frentes. Filmou em 70 mm, acoplou câmeras nos próprios carros de corrida (o que a TV faria anos depois), filmou detalhes da dinâmica dos carros, captou em som direto o rugido dos motores, misturou corridas encenadas com tomadas de GPs reais, colocou lado a lado atores e pilotos de verdade.
O resultado é um marco não só dos filmes sobre automobilismo, mas da maneira como o cinema captou e mostrou até hoje a própria idéia de velocidade. As corridas são mostradas ora como batalha (Mônaco), ora como balé (Clermont-Ferrand), ora como tragédia (Monza).
A técnica do "split screen" (tela dividida), nas mãos do mago do grafismo cinematográfico Saul Bass, cria quadros próximos do abstracionismo geométrico. A música de Maurice Jarre, a um tempo delicada e retumbante, viraria a referência máxima do gênero.
Para completar, vemos na tela heróis reais das pistas, que tinham sido ou viriam a ser campeões mundiais. Alguns, como Jim Clark, Jochen Rindt, Jack Brabham, aparecem com seus próprios nomes, outros vivem papéis: Graham Hill é Bob Turner, Phil Hill é Tim Randolph.
Esta edição, em DVD duplo, é exemplar, com um "making of" repleto de cenas de filmagens e de treinamentos dos atores, além de depoimentos de pilotos, elenco e membros da equipe técnica.

GRAND PRIX     


Direção: John Frankenheimer
Distribuidora: Warner (R$ 34,90, em média)



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