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DVDs
Crítica/"Grand Prix"
Frankenheimer registra romantismo da F-1
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Nunca houve um filme
como "Grand Prix" -e
nunca haverá, pelo
simples fato de que a Fórmula 1
já não é mais o mundo épico e
romântico que era (ou parecia
ser) quatro décadas atrás,
quando o norte-americano
John Frankenheimer ousou levar às telas esse esporte essencialmente europeu.
Pouco importam os personagens um tanto caricatos e o entrecho dramático quase simplório que Frankenheimer
criou como arcabouço ficcional
para colocar nas telas o que de
fato lhe interessava: a atmosfera eletrizante das corridas, numa época em que os carros
eram quase tão velozes quanto
hoje, mas muito menos seguros
(assim como os circuitos), o
que tornava freqüentes os acidentes espetaculares e não raras as mortes.
De fato, o drama é básico: o
piloto norte-americano Pete
Aron (James Garner), depois
de tirar da pista acidentalmente seu companheiro de equipe
britânico Scott Stoddard (Brian
Bedford), conquista a mulher
deste (Jessica Walter), mas
perde o emprego na escuderia.
Até o fim do filme, depois de várias reviravoltas, eles voltarão a
disputar o pódio e a mulher.
Paralelamente a esse triângulo, acompanhamos a história
do piloto francês Jean-Pierre
Sarti (Yves Montand), que desenvolve um romance extraconjugal com uma jornalista
americana (Eva Marie Saint).
Por fim, há o amalucado italianinho Nino Barlini (Antonio
Sabàto), companheiro de Sarti
na Ferrari, que conquista e perde a bela hippie Lisa (Françoise
Hardy).
Isso tudo, de certo modo, importa apenas para acrescentar
uma dose de drama às corridas
propriamente ditas. É nelas
que reside a força perene de
"Grand Prix".
Inovação
Para conseguir mais veracidade e impacto, Frankenheimer inovou em várias frentes.
Filmou em 70 mm, acoplou câmeras nos próprios carros de
corrida (o que a TV faria anos
depois), filmou detalhes da dinâmica dos carros, captou em
som direto o rugido dos motores, misturou corridas encenadas com tomadas de GPs reais,
colocou lado a lado atores e pilotos de verdade.
O resultado é um marco não
só dos filmes sobre automobilismo, mas da maneira como o
cinema captou e mostrou até
hoje a própria idéia de velocidade. As corridas são mostradas ora como batalha (Mônaco), ora como balé (Clermont-Ferrand), ora como tragédia
(Monza).
A técnica do "split screen"
(tela dividida), nas mãos do mago do grafismo cinematográfico
Saul Bass, cria quadros próximos do abstracionismo geométrico. A música de Maurice Jarre, a um tempo delicada e retumbante, viraria a referência
máxima do gênero.
Para completar, vemos na tela heróis reais das pistas, que tinham sido ou viriam a ser campeões mundiais. Alguns, como
Jim Clark, Jochen Rindt, Jack
Brabham, aparecem com seus
próprios nomes, outros vivem
papéis: Graham Hill é Bob Turner, Phil Hill é Tim Randolph.
Esta edição, em DVD duplo, é
exemplar, com um "making of"
repleto de cenas de filmagens e
de treinamentos dos atores,
além de depoimentos de pilotos, elenco e membros da equipe técnica.
GRAND PRIX
Direção: John Frankenheimer
Distribuidora: Warner (R$ 34,90, em
média)
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