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CRÍTICA DRAMA
Claire Denis recusa o discurso panfletário
"Minha Terra, África", da diretora francesa, retrata choque entre o francês e o "outro" em contexto colonialista
RICARDO CALIL
CRÍTICO DA FOLHA
É uma injustiça que a francesa Claire Denis raramente
seja lembrada nas discussões sobre os grandes cineastas contemporâneos.
Porque ela vem construindo discretamente uma das
obras mais sólidas e singulares do cinema de hoje.
Um de seus poucos filmes
a ser lançado comercialmente no Brasil, "Minha Terra,
África" não está entre os
maiores trabalhos de uma
carreira que inclui obras-primas como "Bom Trabalho"
(1999) e "Desejo e Obsessão"
(2001). Mas oferece uma experiência muito superior à
média da oferta do circuito.
Ex-assistente de Wim
Wenders, Denis retorna a um
de seus temas preferidos: o
choque entre o francês e o
"outro".
Algo que já estava insinuado em "Bom Trabalho", nas
memórias do expedicionário
da Legião Estrangeira que liderou tropas na África. Ou
em "35 Doses de Rum", no retrato do cotidiano de um imigrante africano e sua filha.
Em "Minha Terra, África",
a ação se passa em um país
não identificado, devastado
pelo confronto entre o governo e rebeldes.
Em meio ao fogo cruzado,
encontra-se Maria Vial (Isabelle Huppert), mulher branca que se recusa a abandonar
suas plantações de café ou a
reconhecer o perigo que
ameaça sua família.
TALHADO NO CORPO
Enquanto ela aceita abrigar um líder rebelde em sua
casa e vê seu filho perder a
sanidade com a situação, seu
ex-marido André (Christopher Lambert) negocia com
uma autoridade local, pelas
costas de Maria, uma forma
de vender a plantação e fugir.
Como de hábito no cinema
de Denis, o drama individual
se amalgama ao político. E o
drama, no caso, é o do deslocamento: Maria se vê como
africana, mas é enxergada
como francesa -como ocorreu, por exemplo, com os
"pied-noirs" que colonizaram o norte da África.
Mas não espere de um filme de Denis qualquer coisa
remotamente panfletária
-ou mesmo didática.
Adepta de um cinema antes sensorial que discursivo,
que confia mais nas imagens
do que nas palavras, a política interessa à cineasta desde
que possa ser talhada no corpo de seus personagens.
E o rosto de Huppert, como
um monumento em ruínas,
diz mais sobre o fantasma do
colonialismo do que dezenas
de teses acadêmicas.
Recusar o panfletário não
significa abdicar de uma posição política. O olhar de Denis pode não ser óbvio, mas é
claro -e as dedicatórias do
filme não deixam dúvidas.
A cineasta está do lado dos
órfãos -seja a mulher branca que não quer abandonar a
terra que ama, sejam os garotos africanos que perderam
os pais na guerra.
MINHA TERRA, ÁFRICA
DIREÇÃO Claire Denis
PRODUÇÃO França, 2009
COM Isabelle Huppert e
Christopher Lambert
ONDE no Reserva Cultural
CLASSIFICAÇÃO não informada
AVALIAÇÃO ótimo
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