São Paulo, quinta-feira, 05 de dezembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Coleção Paulicéia resgata perfis, bairros, momentos históricos e ficções paulistas

Saudosa São Paulo

IVAN FINOTTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Com 14 meses de antecedência, a Boitempo começa a comemorar os 450 anos da cidade de São Paulo: a editora lança hoje os seis primeiros livros da Paulicéia, uma coleção que abordará temas relacionados à maior capital brasileira e ao seu Estado.
O lançamento, com noite de autógrafos e exposição de fotos e aquarelas, se dá hoje à noite no Sesc Vila Mariana. Os títulos abordam os bairros do Brás e da Vila Madalena, os momentos históricos referentes à Semana de 22 e à Democracia Corintiana, um perfil de Adoniran Barbosa e uma ficção urbana dos anos 20.
Como se vê, é uma série aberta, que abriga quatro módulos: retratos de personalidades, momentos históricos, regiões da capital e do Estado e, por fim, romances ou contos com temática paulista.
"É uma coleção sem previsão de número de títulos; pode-se dizer que é infinita", diz a editora Ivana Jinkings. Cada livro sai com 3.000 exemplares e devem ser lançados seis ou oito novos títulos por ano.
Abre a coleção um texto questionador: "Semana de 22 - Entre Vaias e Aplausos", da historiadora Marcia Camargos. Em vez de festejar a semana modernista e saudar os inovadores artistas, Camargos polemiza e fornece uma lista dos artistas ausentes.
"Por desconhecimento e porque tudo foi feito em cima da hora, houve ausências notáveis. Não teve teatro, por exemplo, apesar de o evento se passar em um", diz.
"Sem tirar a importância que a Semana teve, é preciso colocá-la no lugar. Hoje há a tendência de mitificação e sacralização", diz a historiadora, que pesquisou livros e jornais da época.
Para ficar ainda na década de 20, a Boitempo publica "Ronda da Meia-Noite", de Sylvio Floreal, uma reunião de contos sobre a marginália paulistana da época. Floreal, cujo nome verdadeiro era Domingos Alexandre, foi servente de pedreiro, redator de manifestos operários, jornalista e funcionário dos correios. Morreu em São Paulo, em 1929 (não se sabe o ano em que nasceu), e publicou quatro livros -incluindo esse "Ronda", lançado em 1925 e esquecido há décadas.
Entre as regiões da cidade, o Brás e a Vila Madalena são as primeiras a ir para a estante. A Vila foi radiografada pelo jornalista e artista plástico Enio Squeff, que empresta ainda suas aquarelas para ilustrar o texto.
Já o Brás ficou a cargo de Lourenço Diaféria, que escreveu não memórias, mas "esquecimentos". "Nasci lá, na pior rua do bairro, e sempre volto lá para ver se o Brás ainda existe", diz o jornalista.
Inaugura a série de retratos de paulistanos um perfil do sambista Adoniran Barbosa. Elaborado pelos jornalistas Flávio Moura e André Nigri, o texto traça a trajetória de Adoniran privilegiando sua passagem pelo rádio.
Por fim, o jogador Sócrates e o jornalista Ricardo Gozzi traçam um panorama da Democracia Corintiana, importante mobilização de atletas nos anos 80. "Não fosse em São Paulo, não teríamos conseguido tanto apoio. A torcida do Flamengo poderia ter apoiado, mas não é tão concentrada na capital como a do Corinthians", diagnostica o doutor.


COLEÇÃO PAULICÉIA. Editora: Boitempo (tel. 0/xx/11/3865-6947). Quanto: de R$ 26 a R$ 28. Mostra e lançamento: hoje, às 19h30. Onde: Sesc Vila Mariana (r. Pelotas, 141, São Paulo).


Texto Anterior: Contardo Calligaris: Na passarela de Miss Mundo, lá vamos nós
Próximo Texto: Panorâmica - Cinema: Sundance seleciona três brasileiros
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.