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Coleção Paulicéia resgata perfis, bairros, momentos históricos e ficções paulistas
Saudosa São Paulo
IVAN FINOTTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Com 14 meses de antecedência,
a Boitempo começa a comemorar
os 450 anos da cidade de São Paulo: a editora lança hoje os seis primeiros livros da Paulicéia, uma
coleção que abordará temas relacionados à maior capital brasileira e ao seu Estado.
O lançamento, com noite de autógrafos e exposição de fotos e
aquarelas, se dá hoje à noite no
Sesc Vila Mariana. Os títulos
abordam os bairros do Brás e da
Vila Madalena, os momentos históricos referentes à Semana de 22
e à Democracia Corintiana, um
perfil de Adoniran Barbosa e uma
ficção urbana dos anos 20.
Como se vê, é uma série aberta,
que abriga quatro módulos: retratos de personalidades, momentos
históricos, regiões da capital e do
Estado e, por fim, romances ou
contos com temática paulista.
"É uma coleção sem previsão de
número de títulos; pode-se dizer
que é infinita", diz a editora Ivana
Jinkings. Cada livro sai com 3.000
exemplares e devem ser lançados
seis ou oito novos títulos por ano.
Abre a coleção um texto questionador: "Semana de 22 - Entre
Vaias e Aplausos", da historiadora Marcia Camargos. Em vez de
festejar a semana modernista e
saudar os inovadores artistas, Camargos polemiza e fornece uma
lista dos artistas ausentes.
"Por desconhecimento e porque tudo foi feito em cima da hora, houve ausências notáveis. Não
teve teatro, por exemplo, apesar
de o evento se passar em um", diz.
"Sem tirar a importância que a
Semana teve, é preciso colocá-la
no lugar. Hoje há a tendência de
mitificação e sacralização", diz a
historiadora, que pesquisou livros
e jornais da época.
Para ficar ainda na década de 20,
a Boitempo publica "Ronda da
Meia-Noite", de Sylvio Floreal,
uma reunião de contos sobre a
marginália paulistana da época.
Floreal, cujo nome verdadeiro era
Domingos Alexandre, foi servente de pedreiro, redator de manifestos operários, jornalista e funcionário dos correios. Morreu em
São Paulo, em 1929 (não se sabe o
ano em que nasceu), e publicou
quatro livros -incluindo esse
"Ronda", lançado em 1925 e esquecido há décadas.
Entre as regiões da cidade, o
Brás e a Vila Madalena são as primeiras a ir para a estante. A Vila
foi radiografada pelo jornalista e
artista plástico Enio Squeff, que
empresta ainda suas aquarelas
para ilustrar o texto.
Já o Brás ficou a cargo de Lourenço Diaféria, que escreveu não
memórias, mas "esquecimentos".
"Nasci lá, na pior rua do bairro, e
sempre volto lá para ver se o Brás
ainda existe", diz o jornalista.
Inaugura a série de retratos de
paulistanos um perfil do sambista
Adoniran Barbosa. Elaborado pelos jornalistas Flávio Moura e André Nigri, o texto traça a trajetória
de Adoniran privilegiando sua
passagem pelo rádio.
Por fim, o jogador Sócrates e o
jornalista Ricardo Gozzi traçam
um panorama da Democracia
Corintiana, importante mobilização de atletas nos anos 80. "Não
fosse em São Paulo, não teríamos
conseguido tanto apoio. A torcida
do Flamengo poderia ter apoiado,
mas não é tão concentrada na capital como a do Corinthians",
diagnostica o doutor.
COLEÇÃO PAULICÉIA. Editora:
Boitempo (tel. 0/xx/11/3865-6947).
Quanto: de R$ 26 a R$ 28. Mostra e
lançamento: hoje, às 19h30. Onde: Sesc
Vila Mariana (r. Pelotas, 141, São Paulo).
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