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"COISAS BELAS E SUJAS"
Diretor inglês fala sobre seu thriller, que envolve prostituição e tráfico de órgãos em Londres
Stephen Frears dialoga com o mal-estar
RAND RICHARDS COOPER
DO "NEW YORK TIMES"
O novo filme de Stephen Frears,
62, pouco tem a ver com a atmosfera leve das comédias românticas
que o celebrizaram, como "Um
Lugar Chamado Notting Hill" e
"Alta Fidelidade". Em "Coisas Belas e Sujas", um doutor nigeriano
e uma camareira turca trabalham
num hotel londrino em que prostituição e tráfico de órgãos são atividades comuns.
Leia abaixo entrevista com o diretor, em que ele encara com naturalidade a perturbação que seu
filme traz. "Os americanos assistem a "Plantão Médico" todas as
noites", afirma.
Pergunta - Seu novo filme traz
imigrantes ilegais que viram vítimas de uma rede sinistra de tráfico
de órgãos em Londres. O filme se
baseia em algum caso real?
Stephen Frears- Não. Mas um
advogado em Dublin assistiu a ele
outro dia e disse que um de seus
clientes, um africano, tinha sumido por alguns dias e depois reapareceu. Ele tinha passado por Londres, vendendo um de seus rins.
Isso acontece muito.
Pergunta - Você é um diretor raro, que se sente em casa de ambos
os lados do Atlântico. Trabalhou na
televisão britânica por 15 anos antes de "Minha Adorável Lavanderia" chamar a atenção de Hollywood, em 1985. Como foi chegar a
Hollywood já na casa dos 40 anos?
Frears- Quando eu estava na TV,
nos anos 70, trabalhei com os melhores roteiristas e diretores da
Inglaterra. Aprendi a construir
um drama e a contar histórias. O
que nós nunca aprendemos foi
como enfrentar o público. Se seus
pares lhe diziam ""foi muito bom",
você tinha mais um trabalho garantido. Já no cinema americano,
é muito simples: se você não lida
com o público, não tem chance.
Pergunta - Você não facilita as
coisas para o público: cirurgias feitas em salinhas, um coração tirado
de uma privada...
Frears- Mas os EUA assistem a
[série] ""Plantão Médico" todas as
noites!
Pergunta - Seu objetivo é instigar
ou entreter?
Frears- Não traço uma separação entre as duas coisas. Os thrillers instigam e entretêm ao mesmo tempo. Veja os filmes de Capra: falavam de problemas de sua
época. Não imagino que meu filme vá gerar alguma transformação. O que se espera é que se consiga expressar algo que não é dito.
Pergunta - Uma vez, você disse:
""Não podemos mais fazer de conta
que as coisas no Reino Unido ainda
são como eram". O que quis dizer?
Frears- Tenho duas casas
-uma aqui em Londres, onde vivo num mundo multicultural, e
uma no campo. Quando vou para
o campo, é como voltar aos anos
40. As pessoas têm medo. Se levo
um amigo negro comigo, elas
olham espantadas. A Inglaterra é
profundamente dividida.
Tradução de Clara Allain
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