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São Paulo, sexta-feira, 05 de dezembro de 2003

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"COISAS BELAS E SUJAS"

Diretor inglês fala sobre seu thriller, que envolve prostituição e tráfico de órgãos em Londres

Stephen Frears dialoga com o mal-estar

RAND RICHARDS COOPER
DO "NEW YORK TIMES"

O novo filme de Stephen Frears, 62, pouco tem a ver com a atmosfera leve das comédias românticas que o celebrizaram, como "Um Lugar Chamado Notting Hill" e "Alta Fidelidade". Em "Coisas Belas e Sujas", um doutor nigeriano e uma camareira turca trabalham num hotel londrino em que prostituição e tráfico de órgãos são atividades comuns.
Leia abaixo entrevista com o diretor, em que ele encara com naturalidade a perturbação que seu filme traz. "Os americanos assistem a "Plantão Médico" todas as noites", afirma.
 

Pergunta - Seu novo filme traz imigrantes ilegais que viram vítimas de uma rede sinistra de tráfico de órgãos em Londres. O filme se baseia em algum caso real?
Stephen Frears-
Não. Mas um advogado em Dublin assistiu a ele outro dia e disse que um de seus clientes, um africano, tinha sumido por alguns dias e depois reapareceu. Ele tinha passado por Londres, vendendo um de seus rins. Isso acontece muito.

Pergunta - Você é um diretor raro, que se sente em casa de ambos os lados do Atlântico. Trabalhou na televisão britânica por 15 anos antes de "Minha Adorável Lavanderia" chamar a atenção de Hollywood, em 1985. Como foi chegar a Hollywood já na casa dos 40 anos?
Frears-
Quando eu estava na TV, nos anos 70, trabalhei com os melhores roteiristas e diretores da Inglaterra. Aprendi a construir um drama e a contar histórias. O que nós nunca aprendemos foi como enfrentar o público. Se seus pares lhe diziam ""foi muito bom", você tinha mais um trabalho garantido. Já no cinema americano, é muito simples: se você não lida com o público, não tem chance.

Pergunta - Você não facilita as coisas para o público: cirurgias feitas em salinhas, um coração tirado de uma privada...
Frears-
Mas os EUA assistem a [série] ""Plantão Médico" todas as noites!

Pergunta - Seu objetivo é instigar ou entreter?
Frears-
Não traço uma separação entre as duas coisas. Os thrillers instigam e entretêm ao mesmo tempo. Veja os filmes de Capra: falavam de problemas de sua época. Não imagino que meu filme vá gerar alguma transformação. O que se espera é que se consiga expressar algo que não é dito.

Pergunta - Uma vez, você disse: ""Não podemos mais fazer de conta que as coisas no Reino Unido ainda são como eram". O que quis dizer?
Frears-
Tenho duas casas -uma aqui em Londres, onde vivo num mundo multicultural, e uma no campo. Quando vou para o campo, é como voltar aos anos 40. As pessoas têm medo. Se levo um amigo negro comigo, elas olham espantadas. A Inglaterra é profundamente dividida.


Tradução de Clara Allain


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