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MÔNICA BERGAMO
Ana Ottoni/Folha Imagem
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JOSIANE SARTORI, 30, ENFERMEIRA "Toda mulher sonha em se casar", diz Josiane, que se unirá a José Nelson, 57, em janeiro. No detalhe, as fotos do casal, que se conheceu por meio do "Virando a Noite", da Rádio Globo
Nas ondas da madrugada
No fim de setembro, a
enfermeira Josiane Sartori
viveu uma madrugada
diferente ao lado do
inseparável rádio de pilha. Ela,
que trabalha à noite como
acompanhante de uma senhora
de 80 anos, sintonizou o
programa "Virando a Noite", da
Globo AM, e ouviu pela
primeira vez a voz do mineiro
"Ramón". "Tenho 44 anos e
estou em busca de uma
namorada, que tenha de 16 a 24
anos", disse ele, informando seu
telefone no ar. Josiane tem 30.
Sem namorado há dois anos,
decidiu arriscar. "Senti na hora:
era o homem que eu procurava.
Coisa do coração."
"Ramón" é, na verdade, José
Nelson, 57. Ao atender o
telefone, contou vantagem: "O
telefone não pára. Várias
meninas já ligaram". Josiane
retrucou: "Sou especial e quero
ser a sua escolhida". Encontro
marcado, ela viajou para Tebas
(MG) e passou dez dias ao lado
dele. "Vamos nos casar em
janeiro", anuncia ela, que vai
deixar a casa da mãe e se mudar
para MG. "Em São Paulo, você
encontra muita gente no metrô,
no ônibus. Mas dá medo de falar
com as pessoas."
"Muitos casamentos já
começaram aqui", conta Álvaro
Gimenez, locutor do programa,
transmitido das 2h às 4h. Aos 45
anos, cabelo loiro cortado à
moda Xororó, Gimenez é ídolo
dos ouvintes. Ganha presente
no Natal, lembrancinha de
viagem, bolo caseiro, cesta de
café da manhã. No meio da
madrugada, ajuda as pessoas a
encontrarem parentes,
empregos e grandes amores.
Gimenez comanda o "Virando
a Noite" há dois anos. Antes,
passou pela rádio Transamérica
e chegou a trabalhar como
operário no Japão.
O programa tem cerca de 10
mil ouvintes, segundo o Ibope.
Começa com notícias e flash-backs da MPB. Os ouvintes
ligam para se inscrever numa
fila. São cerca de 50 por dia.
Depois de 20 minutos no ar,
Gimenez entra em contato com
o primeiro da fila. Às 2h20 da
terça, ele falou com "Ariel", da
Vila Nova Cachoeirinha:
"Gostaria de um futuro
companheiro que tenha entre
48 e 55 anos". A ficha dela: 1,50
m, signo de capricórnio, 48
anos. "Está na flor da flor da
idade", brinca o locutor.
No dia seguinte, "Ariel", na
verdade Maria da Silva, já tinha
atendido 20 ligações. "Tenho até
um encontro marcado",
comemora ela, que trabalha de
madrugada, fazendo
artesanato. "Ariel" já namorou
dois ouvintes, mas não deu
certo. Ela continua tentando.
Severino Pedro da Gama é
porteiro de um edifício na
Pompéia. No marasmo da
madrugada, ele liga da portaria
para o "Band Coruja",
programa de Marcelo Batista,
33, na Band FM. "Adoro as
piadas", conta.
"Se Deus é pai, Daniel é Filho
e Boni é Sobrinho, Fábio é Júnior", diz o locutor da Band, para deleite do porteiro. Marcelo
tem como assistente Rodrigo
Muniz, o "Diguinho", 23, que já
foi um fã do programa. "Eu tinha um problema de pulmão e
passava a metade da semana no
hospital sozinho. De madrugada, ligava para o Marcelo." Curado, Rodrigo trocou a faculdade de engenharia pela de rádio e
TV e foi contratado.
O programa "Momentos
Inesquecíveis", da Tupi FM
(22h às 2h), procura fazer reflexões. "A paciência, por vezes, é
amarga. Mas seus frutos são doces", diz o locutor Edi Barbosa,
40. Com seu jeito romântico,
Edi ganhou fãs como a ouvinte
Odete, que já foi recebida por
ele no estúdio e lhe envia cartas
de amor. "Quando nos encontramos, me contenho e sufoco
meus desejos de te agarrar, beijar loucamente."
"Ela se apaixonou", diz Edi, de
camisa e calça social. No pescoço, uma corrente de ouro. "Presente da mãe. Tem que usar."
O aposentado Maurício Cândido Vilares, 64, está "cansado
de ficar sozinho". Nascido em
Portugal, viúvo há dez anos, os
filhos todos casados, ele se deita
"depois do "Jornal Nacional'",
acorda por volta das 2h e sintoniza o "Virando a Noite", da
Globo AM. Na terça, telefonou
para o estúdio. Seu objetivo: arrumar uma namorada. "Eu
queria mesmo era uma portuguesa, que é a mulher mais fiel
que existe. Mas é muito difícil
encontrar uma "patrícia" de 60
anos disponível. Elas ficam viúvas e não largam mais o luto."
Fã de Roberto Leal e torcedor
da Portuguesa, ele recebeu 12 telefonemas de pretendentes no
dia seguinte. Com três delas,
Hilda, Alice e Mara, decidiu
manter contato. Hilda, 60, soma
pontos por ser de família lusitana. Alice, 60, nasceu na Espanha
e "é muito simpática". Mara, 57,
mora até hoje com os pais.
"Gostei do jeito dela."
Maurício ainda não se encontrou com elas, mas já tem uma
predileta. "Por enquanto, a Mara é a que tem mais chances."
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