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Robert Crumb ilustra ode ao blueseiro desconhecido
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
"Eu adoro música. No entanto,
não sou um grande músico. No
máximo, arranho um banjo ou
um violão. Para mim, a música é o
maior dos prazeres, com o sexo."
Foi com essas duas coisas na cabeça -e ocasionalmente uma
pastilha de LSD durante os anos
60- que Robert Crumb criou
uma das obras mais importantes
do quadrinho americano.
Música para ele, que fique claro,
são "só" aquelas velhas canções
caipiras da América negra registradas em discos de 78 rotações
das décadas de 20 e 30.
Toda a paixão do quadrinista
pela cultura crua de seus ancestrais está registrada em "Blues",
antologia de HQs, pôsteres e capas de discos que Crumb criou
em homenagem a seus heróis, como Robert Johnson, Tommy
Johnson e um quase desconhecido Charley Patton.
Colocando na ponta do pincel o
resultado de suas peregrinações
por sebos e armários dos antigos
bairros negros do Mississippi, o
quadrinista, que tem pavor pela
música moderna e não por acaso
se refugiou em um vilarejo ao sul
da França, traça um retrato anedótico ao mesmo tempo da cultura rural daquela época e dos primórdios quase artesanais daquilo
que viria a ser a poderosa indústria fonográfica americana.
Mais que uma declaração de
amor ao estilo, "Blues" é também
uma tentativa desesperada do artista de gritar mais alto que as big
bands de Duke Ellington, os musicais da Broadway, o rock psicodélico de Jimi Hendrix e a soul
music dos artistas da Motown.
"A cultura moderna é assim. Há
tamanha pressão para vender as
novidades que aquilo que as precede acaba sendo sepultado sem
remorso. Não se ganha dinheiro
repetindo as velhas coisas do passado", escreve no posfácio do livro o autor de "As Velhas Canções São as Melhores", "É a Vida"
e "Onde Foi Parar Toda Aquela
Música dos Nossos Avós?".
Incorrigivelmente político,
Crumb entrega seu interesse por
esse tipo específico de blues exatamente pelo que ele reunia de mais
subversivo: as festas populares, as
mulheres que entravam e saíam
da vida desses artistas (ou seria o
contrário?) e o sentimento anti-cristão que despertavam nos puritanos fervorosos da época.
Na maioria inéditas no Brasil, as
HQs de "Blues" foram reunidas
pela primeira vez na coletânea
"Crumb Draws the Blues", lançada em 93 pela Last Gasp. Já os pôsteres e encartes -incluindo os da
banda de Crumb Cheap Suit Serenaders e de sua amiga Janis Joplin- já foram compilados em
edições francesas e holandesas.
BLUES. Autor: Robert Crumb. Tradução:
Daniel Galera. Editora: Conrad. Quanto:
R$ 45 (108 págs., capa dura, cor).
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