EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

A coleção "Cadernos de Literatura Brasileira", que já se debruçou sobre a obra de autores como Clarice Lispector, Erico Verissimo, Adélia Prado, Ariano Suassuna, Lygia Fagundes Telles, João Cabral de Melo Neto e Jorge Amado, entre outros, chega à sua 19ª edição com um volume dedicado ao escritor, cineasta e dramaturgo amazonense Márcio Souza. Com o lançamento, a coleção do Instituto Moreira Salles passa a representar autores de quatro regiões do país.
Souza, autor de "Mad Maria", que inspirou a minissérie homônima exibida no início deste ano Rede Globo, celebrou a notícia da publicação sobre sua obra.
"Ter uma edição dos "Cadernos" dedicada a você equivale a ter sua obra publicada na Plêiade, na França. Sendo que esta publicação é especial porque inclui a literatura contemporânea e não se refugia no território seguro dos clássicos", ressalta Márcio Souza, que estará presente no lançamento da publicação. O evento é fechado para convidados.
Nascido no dia 4 de março de 1946, na cidade de Manaus, Márcio Gonçalves Bentes de Souza iniciou-se na crítica de cinema aos 13 anos, no jornal "O Trabalhista", onde seu pai trabalhava como operário gráfico. Aos 20, Souza entrou para o curso de ciências sociais da USP, que não concluiu.

Manuscritos
A estréia como ficcionista aconteceu aos 30 anos, com a publicação de "Galvez, o Imperador do Acre", romance que inaugura a tetralogia "Crônicas do Grão-Pará e Rio Negro". E cujos manuscritos originais tiveram as cinco páginas iniciais reproduzidas na edição dos "Cadernos de Literatura" dedicada a Souza.
A publicação tem ainda uma seção de ensaios, que inclui, entre outros, estudos do professor Randall Johnson, que trata da contribuição de Souza para o cinema, do crítico Jefferson Del Rios, que se debruça sobre o teatro do autor, e do professor Francisco Foot Hardman, que faz uma descrição abrangente da produção de Souza -Foot Hardman é autor de "Trem Fantasma", estudo sobre a rodovia Madeira-Mamoré, a mesmo em torno da qual gira o romance "Mad Maria".
Há também uma seção com depoimentos sobre Márcio Souza, feitos por Ignácio de Loyola Brandão, Antônio Torres e Francisco Weffort. Aí reproduzida, uma entrevista concedida pelo escritor em São Paulo traz mais de cem perguntas de um grupo de convidados que incluiu os escritores Lygia Fagundes Telles, Milton Hatoum e a professora de teoria literária Neide Gondim.

Futuro próximo
A série histórica de Márcio Souza, cujo terceiro volume, "Revolta", foi publicado há cerca de quatro meses, está perto de seu desfecho. No momento, o autor está finalizando o romance que fecha a tetralogia, "A Derrota", que se passa no início do século 21 e que deve ser lançado no segundo semestre de 2006.
"Erico Verissimo fez um painel da construção do Sul do país em "O Tempo e o Vento". Inspirado nele, a tetralogia fala da construção do Norte, com a invasão do Grão-Pará por dom Pedro em 1823. Foram 13 anos de guerra civil, que destruiu quase a metade da população que habitava o norte do país", conta Souza.
"Essas histórias não são conhecidas nem aqui no Norte do país. Há muitas publicações sobre o assunto por vir, e eu adianto um pouco, nesses livros, para o grande público."
Em janeiro, Márcio Souza volta a ensaiar com seu grupo de teatro manauara o musical "As Folias do Látex", que pretende estrear até início de maio no Festival de Ópera de Manaus.
O escritor também aguarda para o início do ano a estréia de dois trabalhos que fez para a televisão amazonense: um longa-metragem baseado em sua adaptação de "Hamlet" para o teatro. E um filme em três episódios sobre lendas da Amazônia.