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ARTIGO
País corre risco de levar "vazio" a Veneza
MÁRCIA FORTES
ESPECIAL PARA A FOLHA
Muito já se falou e publicou
sobre esta que ficou conhecida
como a Bienal do Vazio, que
deixou vazio um andar inteiro
do prédio da Bienal. Prós e contras à parte, acho mesmo que já
é hora de deixarmos a discussão sobre essa Bienal e voltarmos o foco para outra questão:
o pavilhão do Brasil na próxima
Bienal de Veneza, que será
inaugurada em 4 de junho de
2009. Afinal, essa Bienal de São
Paulo já está vazia mesmo, falem o que quiserem, mas a
oportunidade de "enchê-la" já
era, passou.
O problema premente agora
é outro e, se não o encararmos
imediatamente, perigamos
perpetuar um conceito e apresentarmos em Veneza o "Pavilhão do Vazio".
Vamos lá. Para quem não sabe, a Bienal de São Paulo foi
fundada em 1950 nos moldes
da Biennale di Venezia, cujo
formato inclui uma mostra coletiva central ladeada por pavilhões nacionais, onde diversos
países apresentam por conta
própria um ou mais artistas.
Aqui em São Paulo, isso acabou com a 27ª Bienal, quando a
curadora Lisette Lagnado e
seus co-curadores aboliram as
representações nacionais optando pelo coletivismo geral
-criando assim um modelo
mais contemporâneo para a
Bienal de São Paulo, que foi seguido nesta atual edição. A Bienal de Veneza, por sua vez,
mantém o modelo e lidera o
ranking das grandes bienais de
arte até os dias de hoje.
Retrógrada ou não, fato é que
hordas de amantes da arte
voam para Veneza a cada dois
anos para ver a Bienal, fazendo
filas que serpenteiam ao redor
dos pavilhões de países como
EUA, Alemanha e Inglaterra.
Convite-roubada
Sob o intenso sol italiano de
junho, artistas, curadores, críticos e colecionadores de arte
contemporânea (boa parte deles vestidos de preto como se
estivessem no asfalto urbano
de Nova York) circulam de um
pavilhão ao outro vendo, vivenciando e comentando a arte
apresentada por cada país.
E é nesse momento que a história vai se reescrevendo nas
páginas da arte contemporânea; são nos pavilhões de Veneza que os gênios se afirmam, os
talentos se confirmam, sucesso
e fama se propagam. Uma boa
apresentação em Veneza pode
render o resto da carreira de
determinado artista. Assim como uma má apresentação pode
ser fatal.
No total, 29 países mantêm
pavilhões nos Giardini em Veneza. Existem outros, mas estes estão fora da área nobre dos
Giardini. É claro que o Brasil
não deixaria por menos: mantém seu pavilhão ali, de arquitetura moderna e com piscina
nos fundos, próximo ao pavilhão de Israel.
E é aí que começam nossos
problemas: o pequeno prédio
está sedento por uma reforma
já há algumas edições da Bienal, perderam-se as letras que
diziam "Padiglione Brasile". A
não ser que o governo brasileiro -através da Fundação Bienal de São Paulo que é a instituição responsável pela representação nacional na Bienal de
Veneza- tenha patrocinado a
tal reforma de 2007 para cá, as
condições do nosso Pavilhão
em junho de 2009 deverão estar ainda piores. Bem deprê.
Mas a batata quente mesmo é
a arte. Cadê ela, o que esperar
da arte de nosso país em Veneza? Até o momento, nem todos
os países indicaram seus artistas, mas ao menos anunciaram
os curadores/comissários responsáveis pela seleção dos artistas. O Brasil, nem isso.
Mesmo que se anunciem curador esta semana, e que este
faça convite oficial ao artista na
semana que vem, já seria o chamado "convite-roubada". Imagine a pressão: o pobre do artista irá representar o seu país na
maior das bienais mundiais,
mas terá menos de quatro meses para ter uma grande idéia,
propor e conseguir aprovação
da mesma por parte do curador, captar boa parte do dinheiro para sua produção (pois, como sabemos, a Fundação Bienal não tem sido exatamente
eficaz na captação de recursos)
e produzir a obra.
Digo menos de quatro meses
porque tudo terá que estar finalizado até meados de março,
pois certamente não haverá
fundos para um transporte aéreo e a obra deverá seguir de
navio do porto de Santos até a
bela Venezia, cumprindo uma
via sacra de cerca de dez semanas entre os primeiros papéis
requeridos pela burocracia brasileira e o aporte em solo ítalo.
Tudo isso com a seguinte
pressão extra: nosso querido
artista estará competindo (sim,
a Bienal de Veneza é uma competição que premia os melhores pavilhões) com artistas do
calibre de um Bruce Nauman,
que representará os EUA.
Enfim, seja o que Deus quiser.
MÁRCIA FORTES é jornalista e sócia da galeria
Fortes Vilaça
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