São Paulo, sábado, 05 de dezembro de 2009

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Mos Def vai além dos clichês do rap

Norte-americano cria músicas sofisticadas com rimas variadas, que passam longe do machismo e da autorreferência

Ator de filmes como "Rebobine, Por Favor", ele se apresenta no Sesc Santo André, hoje e amanhã, ao lado da banda Black Rio


THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

Elenque os clichês normalmente associados ao hip hop. Mos Def está distante deles. Nascido no Brooklyn, Nova York, em dezembro de 1973, Dante Terrell Smith-Bey não costuma desfilar ostentando joias gigantescas; suas letras contornam o machismo e a auto-indulgência; violência e sofrimento não fizeram parte de sua infância; e, acredite, como ator ele realmente convence.
O rapper e ator está no Brasil para dois shows dentro da oitava edição do festival Indie Hip Hop, que acontece hoje e amanhã no Sesc Santo André. A Filial, Kamau, Parteum, Contra Fluxo, entre outros, também participam do evento.
Mos Def chega neste que é provavelmente o melhor momento de sua carreira. Em junho, lançou "The Ecstatic", disco que traz uma vasta quantidade de referências, sons e rimas. Ganhou elogios por atuações em "Rebobine, Por Favor" (2008) e no seriado "House".
Soul, funk, eletrônica, África e Brasil estão em "The Ecstatic" -no hit "Casa Bey", ele sampleia trecho de "Casa Forte", clássico da banda Black Rio. (Por causa do sample, a filha de um dos músicos da primeira formação da banda notificou judicialmente o rapper; à Folha, assessores dele afirmam que os direitos foram pagos.)
Em São Paulo, a Black Rio atual fará uma participação nos shows do americano. Mos Def falou por telefone à Folha.

 

FOLHA - Seu mais recente disco, "The Ecstatic", é bastante variado e cheio de influências. É o seu disco mais poderoso?
MOS DEF
- Tento ser diversificado em cada álbum. Não consigo dizer se é o melhor ou não... Acho que sim, estou bem satisfeito com ele.

FOLHA - Na faixa "Life in Marvelous Times", você lembra de quando era um garoto. Quando começou a se interessar por música? Como foi sua infância?
MOS DEF
- Sempre estive cercado pelo hip hop. Sonhava em rimar, em ser um MC, mas nunca que fosse fazer profissionalmente. Como garotos praticavam esportes, eu fazia música.

FOLHA - Você é o mais velho de 12 irmãos. Como foi a sua infância e adolescência?
MOS DEF
- Nós não tínhamos dinheiro, mas ao mesmo tempo não tínhamos consciência de que éramos pobres. Havia muito amor em minha casa, muito carinho, então o dinheiro realmente não importava. Às vezes havia dinheiro, muitas vezes, não. Mas temos de viver a vida, certo?

FOLHA - Nos anos 1990, o hip hop underground norte-americano ajudou a quebrar fronteiras. Você acha que o rap hoje não consegue mais inovar?
MOS DEF
- Não concordo completamente com isso. Há certos aspectos da cultura hip hop que ganham os holofotes porque geram boas histórias. O hip hop ainda é vibrante, excitante. Sou do Brooklyn e estou falando com você, de São Paulo, sobre minha cultura, minha vida. Ainda tenho muita energia, muitas pessoas querem ouvir o que eu digo, e não apenas o que eu digo, mas também gente como [Talib] Kwelli, Common... A cultura hip hop está viva e bem.

FOLHA - Algumas pessoas estão escrevendo sobre uma possível "morte" do hip hop [Simon Reynolds, no "Guardian"; e Sasha Frere-Jones, na "New Yorker"]. O que acha disso? O rap passa por uma crise criativa?
MOS DEF
- O rap tornou-se música pop, e a música pop possui algumas características... É difícil ser único no pop. Fazer algo original não é uma prioridade. Uma forma de música de rua tornou-se uma música popular, e nesse caminho algumas coisas foram perdidas. Mas não há nada errado com isso.

FOLHA - Você ouve rap de outros países?
MOS DEF
- Sim, gosto de Racionais, por exemplo, de MV Bill, que é um amigo. De outros caras que não lembro agora. O hip hop está em todo o mundo.

FOLHA - A eleição de Barack Obama foi comemorada não apenas nos EUA, mas em todo o mundo. Hoje como avalia sua administração?
MOS DEF
- Estou desapontado com a decisão dele de estender a guerra. Acho que ninguém esperava isso. A guerra do Afeganistão está no centro da sua administração, o que é triste, para dizer o mínimo. Não acho que seja humano ou necessário mandar jovens para morrer do outro lado do mundo.

FOLHA - Você é um dos poucos músicos que são elogiados pelas atuações no cinema. Há um gênero que prefira fazer? Comédia, drama, policial?
MOS DEF
- Nenhum em particular. O filme deve ter uma boa história e ser produzido por gente criativa.


INDIE HIP HOP

Quando: hoje e amanhã, das 16h às 22h
Onde: Sesc Santo André (r. Tamarutaca, 302, Vila Guiomar; SP; tel. 0/xx/11/4469-1200)
Quanto: ingressos esgotados
Classificação: 14 anos




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