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Mos Def vai além dos clichês do rap
Norte-americano cria músicas sofisticadas com rimas variadas, que passam longe do machismo e da autorreferência
Ator de filmes como
"Rebobine, Por Favor", ele se
apresenta no Sesc Santo
André, hoje e amanhã, ao
lado da banda Black Rio
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
Elenque os clichês normalmente associados ao hip hop.
Mos Def está distante deles.
Nascido no Brooklyn, Nova
York, em dezembro de 1973,
Dante Terrell Smith-Bey não
costuma desfilar ostentando
joias gigantescas; suas letras
contornam o machismo e a auto-indulgência; violência e sofrimento não fizeram parte de
sua infância; e, acredite, como
ator ele realmente convence.
O rapper e ator está no Brasil
para dois shows dentro da oitava edição do festival Indie Hip
Hop, que acontece hoje e amanhã no Sesc Santo André. A Filial, Kamau, Parteum, Contra
Fluxo, entre outros, também
participam do evento.
Mos Def chega neste que é
provavelmente o melhor momento de sua carreira. Em junho, lançou "The Ecstatic", disco que traz uma vasta quantidade de referências, sons e rimas. Ganhou elogios por atuações em "Rebobine, Por Favor"
(2008) e no seriado "House".
Soul, funk, eletrônica, África
e Brasil estão em "The Ecstatic" -no hit "Casa Bey", ele
sampleia trecho de "Casa Forte", clássico da banda Black Rio.
(Por causa do sample, a filha
de um dos músicos da primeira
formação da banda notificou
judicialmente o rapper; à Folha, assessores dele afirmam
que os direitos foram pagos.)
Em São Paulo, a Black Rio
atual fará uma participação nos
shows do americano. Mos Def
falou por telefone à Folha.
FOLHA - Seu mais recente disco,
"The Ecstatic", é bastante variado e
cheio de influências. É o seu disco
mais poderoso?
MOS DEF - Tento ser diversificado em cada álbum. Não consigo
dizer se é o melhor ou não...
Acho que sim, estou bem satisfeito com ele.
FOLHA - Na faixa "Life in Marvelous
Times", você lembra de quando era
um garoto. Quando começou a se
interessar por música? Como foi sua
infância?
MOS DEF - Sempre estive cercado pelo hip hop. Sonhava em rimar, em ser um MC, mas nunca
que fosse fazer profissionalmente. Como garotos praticavam esportes, eu fazia música.
FOLHA - Você é o mais velho de 12
irmãos. Como foi a sua infância e
adolescência?
MOS DEF - Nós não tínhamos
dinheiro, mas ao mesmo tempo
não tínhamos consciência de
que éramos pobres. Havia muito amor em minha casa, muito
carinho, então o dinheiro realmente não importava. Às vezes
havia dinheiro, muitas vezes,
não. Mas temos de viver a vida,
certo?
FOLHA - Nos anos 1990, o hip hop
underground norte-americano ajudou a quebrar fronteiras. Você acha
que o rap hoje não consegue mais
inovar?
MOS DEF - Não concordo completamente com isso. Há certos
aspectos da cultura hip hop que
ganham os holofotes porque
geram boas histórias. O hip hop
ainda é vibrante, excitante. Sou
do Brooklyn e estou falando
com você, de São Paulo, sobre
minha cultura, minha vida.
Ainda tenho muita energia,
muitas pessoas querem ouvir o
que eu digo, e não apenas o que
eu digo, mas também gente como [Talib] Kwelli, Common... A
cultura hip hop está viva e bem.
FOLHA - Algumas pessoas estão escrevendo sobre uma possível "morte" do hip hop [Simon Reynolds, no
"Guardian"; e Sasha Frere-Jones, na
"New Yorker"]. O que acha disso? O
rap passa por uma crise criativa?
MOS DEF - O rap tornou-se música pop, e a música pop possui
algumas características... É difícil ser único no pop. Fazer algo original não é uma prioridade. Uma forma de música de
rua tornou-se uma música popular, e nesse caminho algumas
coisas foram perdidas. Mas não
há nada errado com isso.
FOLHA - Você ouve rap de outros
países?
MOS DEF - Sim, gosto de Racionais, por exemplo, de MV Bill,
que é um amigo. De outros caras que não lembro agora. O hip
hop está em todo o mundo.
FOLHA - A eleição de Barack Obama foi comemorada não apenas nos
EUA, mas em todo o mundo. Hoje
como avalia sua administração?
MOS DEF - Estou desapontado
com a decisão dele de estender
a guerra. Acho que ninguém esperava isso. A guerra do Afeganistão está no centro da sua administração, o que é triste, para
dizer o mínimo. Não acho que
seja humano ou necessário
mandar jovens para morrer do
outro lado do mundo.
FOLHA - Você é um dos poucos músicos que são elogiados pelas atuações no cinema. Há um gênero que
prefira fazer? Comédia, drama, policial?
MOS DEF - Nenhum em particular. O filme deve ter uma boa
história e ser produzido por
gente criativa.
INDIE HIP HOP
Quando: hoje e amanhã,
das 16h às 22h
Onde: Sesc Santo André (r. Tamarutaca, 302, Vila Guiomar; SP;
tel. 0/xx/11/4469-1200)
Quanto: ingressos esgotados
Classificação: 14 anos
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