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CINEMA MEMÓRIA
Morre exibidor pioneiro de filmes de arte em SP
LEON CAKOFF
da Equipe de Articulistas
Difícil imaginar o que teria sido
dos cinéfilos brasileiros sem o trabalho abnegado de Dante Ancona
Lopez, que morreu no último dia
30, aos 90 anos.
Certamente, nomes de alguns
dos grandes gênios do cinema como Fellini, Bergman, Bresson,
Antonioni e Kurosawa não seriam tão populares entre nós.
Dante criou em São Paulo, ao
inaugurar em 1957 o antigo Cine
Coral, na rua Sete de Abril, com o
filme de Fellini "La Dolce Vita",
um novo conceito de programação, que espalhou seguidores pelo
país: o do cinema de arte.
Os exibidores de então, nada
distintos dos de hoje, totalmente
dependentes da máquina hollywoodiana, viam em Dante a figura de um louco que acreditava em
filmes, autores e cinematografias
de países completamente à margem do massificado. Felizmente,
a sua programação fazia sucesso e
passou a ter o mais forte aliado
possível da época, os exibidores
Julio e Florentino Llorente e Antonio Serrador. E foi para o extinto Circuito Serrador que Dante
Ancona Lopez reformou o cine
Trianon, que foi reinaugurado,
em 1967, como Belas Artes, então
com três salas, escrevendo uma
das mais bem-sucedidas histórias
da programação de cinema em
São Paulo. Gostava de dialogar
com o seu público, criando sempre frases para os anúncios dos
filmes que lançava, acompanhados do seu lema "Espetáculo, Polêmica e Arte".
Antes do Belas Artes vieram as
iniciativas de criar e presidir a Sociedade Amigos da Cinemateca,
em 1962, e inaugurar o Cine Picolini, na Rua Augusta, em 1965. Foi
também publicitário e radialista ,
dirigindo nos anos 40 um programa na Rádio Cruzeiro do Sul ao
lado de Francisco Alves. Como
publicitário, dirigiu os suplementos do jornal "A Gazeta" e ingressou no cinema, em 1933, quando
cuidou para a RKO da campanha
de lançamento de "King Kong".
Fiel amigo de Luis Carlos Prestes,
Dante desafiou o regime militar
promovendo exibições clandestinas nos porões do Belas Artes
com filmes proibidos. Suas ligações com o PC valeram a sua prisão pelo Doi-Codi em 1975.
Dante adorava contar as suas
histórias de braços-de-ferro contra o reino de imbecis que dizia
dominar o meio cinematográfico.
Um de seus capítulos mais curiosos teria acontecido às vésperas
do lançamento, por sua iniciativa,
em 1961, do filme de Alain Resnais, "O Ano Passado em Marienbad". Alarmados, os exibidores
teriam pedido a Dante para não
lançar o filme, temendo a debandada do público dos cinemas,
achando que esta seria a tendência dos filmes a partir dos anos 60.
Os últimos trabalhos de Dante
Ancona Lopez no cinema foram a
transformação do Cine Rio, no
Conjunto Nacional, em CineArte,
e a assessoria que deu ao efêmero
Cine-Clube Elétrico.
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