São Paulo, segunda-feira, 06 de janeiro de 2003

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DISCOS/LANÇAMENTOS

No país pela primeira vez em versão digital, álbuns mostram como o grupo assentou os tijolos do hard rock

Distorções do Grand Funk chegam ao CD

DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Cinquentões vão abrir um sorriso de orelha a orelha. Já as novas gerações, que muito provavelmente jamais ouviram falar de Grand Funk Railroad, terão agora a chance de ouvir, remasterizada, parte da discografia original do power trio que assentou os primeiros tijolos do que viria a ser o hard rock e seu primo punk, o heavy metal.
Gravados em um impressionante intervalo de um ano, entre 1969 e 1970 -dois anos depois a banda lançaria outros quatro-, "On Time", "Grand Funk", "Closer to Home" e "Live Album" ganham pela primeira vez no Brasil versão em CD, com encartes ilustrados e enriquecidos com uma série de entrevistas e curiosidades sobre o grupo formado em 1968 pelo vocalista Mark Farner, o baterista Don Brewer e o baixista Mel Schacher, em Flint, cidadezinha industrial ao norte da não menos rock'n'roll Detroit, berço de MC5 e Stooges.
Ainda que tenham vendido menos do que seus sucessores na década de 70, até um pouco menos "consistentes" que estes, "On Time" e "Grand Funk", produzidos com um intervalo de seis meses entre um e outro, servem no mínimo para dar uma idéia do barulho e -os ídolos de então eram Hendrix e Janis Joplin- do potencial pop do Grand Funk Railroad. Para quem gosta de blues, distorção e bateria, esses discos são, certamente, obrigatórios.
Sintonizado com o espírito libertário da época, dos acordes inconfundíveis de "Born to Be Wild" (Steppenwolf), o Grand Funk já passava os mesmo recados um ano antes, com "Are You Ready", "High in a Horse" e "Into the Sun", gravados em "On Time" ao lado do épico meloso "Heartbreaker" e da psicodelia experimental de "T.N.U.C." (com direito a um solo de bateria de "meia hora" de Don Brewer).
Contemporâneo mais blueseiro e afeito ao improviso do que o Black Sabbath, o Grand Funk compôs também a sua "Paranoid", que viraria bolacha no final de 69 no álbum "Grand Funk", conhecido por alguns como o "Red Album" (álbum vermelho) da banda. O climão sombrio dos vocais, o baixo cavalgado e os pedais wah-wah não deixam dúvidas de por que ambas as bandas merecem um lugar lá no alto da árvore genealógica de grupos que viriam depois, como AC/DC, Guns'n Roses, Kiss etc.
Pais do hard, primos do heavy, o Grand Funk poderia ser lembrado aqui ainda como um dos pioneiros de outro gênero usado na sempre falha tentativa de classificar as bandas de metal: o "arena rock", rótulo colado àqueles grupos que, acima de tudo, funcionam muito melhor em cima de um palco. Originalmente um disco duplo, "Live Album", que compila canções de "On Time", "Grand Funk" e "Closer to Home", é o melhor dos lançamentos que chega nesta leva ao Brasil.
Responsável por elevar o trio ao posto número 5 da lista da revista "Billboard", o registro ao vivo de dois ou três shows da turnê do verão de 70 do Grand Funk vendeu por volta de 1 milhão de títulos na época e garantiu o sucesso mercadológico da banda por pelo menos outros dois anos, período que viu o lançamento de "E Pluribus Funk", "Phoenix" e do clássico de 1973 "We're an American Band", também reeditados recentemente pela Capitol americana e que devem chegar ao Brasil neste ano pela EMI.
Batizada sobre o nome da estrada de trem Grand Trunk Railroad, a mesma em que o pai do vocalista Mark Farner foi morto em um acidente de carro, a banda decidiu encurtar definitivamente o seu nome para Grand Funk, em 1973, logo após a entrada do tecladista Craig Frost.
Em 1976, tendo emplacado mais alguns hits, como "Loco-Motion", e trabalhado ao lado de Frank Zappa, o grupo se separou, voltando para apresentações esporádicas durante os anos 80 e 90 e gravando alguns discos de pouca relevância. Farner, definitivamente afastado do Grand Funk, continua a se apresentar pelos EUA em favor de causas cristãs e beneficentes. Escute o velho.


ON TIME (1969), GRAND FUNK (1969), CLOSER TO HOME (1970) e LIVE ALBUM (1970). Reedições masterizadas com faixas bônus. Artista: Grand Funk Railroad. Gravadora: EMI. Quanto: R$ 29.


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