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Tradutor busca "minimalismo" do original
DO ENVIADO ESPECIAL
"Almost Nothing" e "At The
Table", respectivamente "Quase Nada" e "À Mesa", vão cumprir temporada conjunta no
Jerwood Theatre Upstairs, uma
das salas do Royal Court em
Londres, entre os dias 5 e 28 de
fevereiro.
As peças de Marcos Barbosa
foram traduzidas por Mark
O'Thomas e serão dirigidas por
Roxana Silbert. Ambos os espetáculos terão intérpretes locais.
Particularmente em "À Mesa", O'Thomas afirma à Folha
que Barbosa toca em um tema
sensível, o da pedofilia, assunto
bastante caro à sociedade britânica e de qualquer parte do planeta.
"O modo como o autor estrutura os diálogos para tratar de
um assunto difícil é o que interessa", diz O'Thomas.
Oscilando entre passado e
presente, "À Mesa" expõe como o assédio de um homem
adulto interferiu na vida de
meninos que frequentavam
um clube. Não há cenas explícitas de abuso. A habilidade de
realizar um manejo dos diálogos em planos temporais distintos coloca o espectador a par
da grande tensão que está em
jogo.
"É uma linguagem baseada
na economia de palavras, usadas aqui em seu efeito máximo", afirma O'Thomas. Como
tradutor, ele diz se esforçar para captar o minimalismo de
Barbosa na língua inglesa.
Intercâmbio
A produção de duas peças de
Barbosa pelo Royal Court coroa quatro anos de intercâmbio
da instituição com o Brasil.
Desde o final de 1999, a coordenadora de assuntos internacionais do teatro, Elyse Dodgson,
visita cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador por conta de eventos afins.
Em novembro passado, durante uma oficina de dramaturgos ingleses com dez autores brasileiros no Centro Cultural São Paulo, Dodgson se disse surpresa com a evolução dos projetos no país, tanto por parte do interesse de jovens escritores, quanto de instituições que firmaram parcerias, como o British Council, o Sesi, a Prefeitura de São Paulo e o teatro Vila Velha (BA).
Em janeiro de 2003, aconteceu em Londres a Semana Brasileira de Nova Dramaturgia,
com leitura de peças traduzidas de Bia Gonçalves, Celso Cruz, Pedro Vicente (trio paulista), Cacilda Povoas (baiana) e Barbosa, todos participantes de
oficinas com autores do Royal Court.
Marcos Barbosa desconfia do real efeito do epíteto "nova dramaturgia", repetido aos quatro
ventos num país que ainda dificilmente encontra Plínio Marcos nas livrarias, mas é testemunha de que há muita gente escrevendo para teatro.
Para ficar no Nordeste, citam-se Cláudia Barral na Bahia
e Luiz Felipe Botelho em Pernambuco. A edição 2003 do
Prêmio Funarte de Dramaturgia teve 950 inscritos de todo o
país.
"Dói em mim ouvir atriz famosa dizendo que está embarcando para o exterior para procurar texto. Se se quer associar a busca de um texto a uma viagem, pode-se buscá-lo Brasil
adentro, que se descobrirá novos mundos e novos dramaturgos", diz Barbosa.
(VALMIR SANTOS)
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