São Paulo, quarta, 6 de janeiro de 1999

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TEATRO
"Dolores", que estréia no Rio, procura desvencilhar cantora da dor-de-cotovelo de sua imagem melancólica
Musical apresenta Dolores Duran alegre

Divulgação
Cena do espetáculo "Dolores", que estréia hoje no CCBB, no Rio


ANNA LEE
da Sucursal do Rio

Qual a melhor tradução para Dolores Duran? Dor-de-cotovelo. Essa é a resposta que Antonio de Bonis, diretor do musical "Dolores" -que estréia hoje no Teatro 2 do Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio-, diz não ter dúvida de que ouviria da maioria das pessoas, pelo menos das que não conheceram a cantora de perto.
"Tenho certeza de que muita gente pensa que, porque cantava músicas melancólicas e tristes, Dolores Duran também era assim. Entre as pessoas que conviveram com Dolores, é unanimidade dizer que ela era alegre, espontânea, brilhante, divertida."
Nem mesmo o episódio de sua morte, "aparentemente trágico", diz Douglas Dwight -responsável pela pesquisa e roteiro do musical junto com Fátima Valença-, "tem a ver com essa visão melancólica que se tem sobre ela". "Pelo contrário, é a prova de que ela foi uma mulher que fazia tudo de forma intensa, até morrer."
Na manhã de 23 de outubro de 1959, a cantora, então com 29 anos, chegou em casa muito cansada. Na noite anterior, após o término de seu show na boate Little Club, saíra com amigos para uma festa da Semana da Asa, no Clube da Aeronáutica. De lá, o grupo resolveu dar uma esticada até o Kilt Club. Depois da noitada, tudo o que queria, como disse para Rita, sua empregada, era "dormir até morrer".
Dolores morreu dormindo, provavelmente em consequência de uma deficiência cardíaca crônica. "No espetáculo, o episódio da morte dela dá início a um "flashback' em sua vida. Mas essa frase ("Vou dormir até morrer'), apesar de ter se tornado célebre, não tem tanto peso. Ela falava que queria fazer amor até morrer, queria comer até morrer", disse De Bonis.
O musical começa com Soraya Ravenle, que faz Dolores, cantando "A Noite do Meu Bem". Depois é retratado o diálogo com a empregada e, no espaço entre o tempo em que ela diz que vai dormir até sua morte, são mostrados os fatos marcantes de sua trajetória.
"Dolores foi uma mulher de vida simples e morreu muito jovem. Não teve tempo suficiente para viver escândalos, ascensão e decadência. Dramaturgicamente, sua trajetória não tem grandes apelos", diz De Bonis.
"Então resolvi valorizar o universo dela. Dolores viveu um período muito rico da música popular brasileira, em Copacabana nos áureos tempos das boates, da boêmia e do glamour dos anos 50."
De Bonis não teve preocupação de ser fiel à imagem física de Dolores, que era mulata, gorda, de rosto redondo e voz grave. "Eu não queria fazer uma caricatura de Dolores Duran. O público tem que acreditar que aquela pessoa que está ali, no caso, a Soraya, que é branca, magra, de voz aguda, tem o espírito que a outra pessoa tinha."
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Espetáculo: Dolores
Direção: Antonio de Bonis
Direção musical: Tim Rescala
Com: Soraya Ravenle, Ana Velloso
Onde: Teatro 2 do CCBB (r. Primeiro de Março, 66, Centro, tel. 021/216-0267)
Quando: qua a dom, às 19h; até 7/2
Quanto: R$ 10

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A colunista Maria Ercilia está em férias.


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