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CINEMA/ESTRÉIAS
"TERRA DE SONHOS"
Filme do diretor irlandês narra trajetória de família que emigra para NY e enfrenta perda de filho
Sheridan vasculha a memória da morte
DO "THE INDEPENDENT"
É domingo à noite no pub Black
Lion, na Kilburn High Road, em
Londres. O "jukebox" está tocando "Dirty Old Town", de Shane
MacGowan. Os clientes estão sentados em grupinhos de dois ou
três, cada um com sua cerveja à
frente, falando animadamente,
arrancando da noite as últimas
gotas possíveis de diversão. Sentado em meio às outras pessoas,
anônimo, está Jim Sheridan, o várias vezes nomeado ao Oscar diretor responsável por filmes intransigentes como "Meu Pé Esquerdo" e "Em Nome do Pai".
A cena acima descrita aconteceu há 18 meses, e foi um momento memorável para nós, as 60 pessoas que se reuniram para assistir
ao filme ainda inacabado, "Terra
de Sonhos". Na época, ele ainda se
chamava "East of Harlem".
Nascido de uma família com
raízes no teatro, Sheridan participou na fundação da Companhia
de Teatro Projeto Dublin, nos
anos 1970, com seu irmão Peter,
que hoje é escritor. Em 1981 ele
entrou nos EUA clandestinamente e tomou as rédeas do Centro de
Artes de Nova York, antes de estudar cinema na Universidade de
Nova York.
"Terra de Sonhos" parece hoje,
na sua estréia, estar prestes a dividir as opiniões dos cinéfilos e da
crítica. Alguns saúdam essa história catártica de uma família que
encontra sua alma como o melhor
trabalho do diretor, outros criticam seu final muito adocicado e
desigual.
O filme é estrelado pelo relativamente desconhecido Paddy Considine, no papel de Johnny, um
ator irlandês desempregado que
emigra para Manhattan com sua
mulher, Sarah (Samantha Morton), e duas filhas (representadas
pelas irmãs na vida real Sarah e
Emma Bolger). Ostensivamente,
eles estão em Nova York para começar vida nova. Na realidade, estão fugindo da morte do filho menor, na Irlanda.
Sheridan convocou suas duas filhas mais velhas, Naomi e Kirsten,
para que cada uma escrevesse um
esboço de roteiro do filme baseado em suas memórias de Nova
York.
Quando volto a falar com Sheridan a situação já é muito diferente. Ele está em sua casa em Dublin
numa bela manhã de outono e me
recebe à porta usando robe azul.
"Fiz esse filme porque os irlandeses têm uma ligação íntima
com a cultura da morte", diz Sheridan, devagar. Os pais em meu
filme amam o filho morto mais do
que qualquer outra pessoa.
As irmãs Emma e Sarah Bolger,
ambas novatas como atrizes, são
uma revelação nos papéis das filhas de Sheridan na telona. "Foi
como brincar com meninas pela
primeira vez em minha vida", declara o diretor. "Quando eu era
menino, não havia meninas na
minha escola. Minha mulher disse que eu parecia gostar das crianças no filme mais do que das minhas próprias filhas. Naomi, minha filha mais velha, falou: "É claro que sim. Ele pode reescrever
essas meninas do jeito que quiser"."
Tradução Clara Allain
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