São Paulo, sexta-feira, 06 de fevereiro de 2004

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"GANDAHAR - OS ANOS DE LUZ"

Ontem e hoje duelam em desenho

DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Gandahar é um paraíso tentando equilibrar-se no presente. Repleta de beldades seminuas, que a governam, e de heróis corajosos dispostos a enfrentar feras mutantes de toda a sorte, orgulha-se de ter deixado no passado guerras e catástrofes científicas que marcaram sua história. Mas, agora, é o futuro que a preocupa.
O que será dos amigos da luz, do prazer e da natureza diante do exército de "homens-metal", sem vida, que de repente invadiu a capital do reino de Ambissextra? Como desviar os olhos da recém-descoberta e imensa população de "transformados", que sofreu na pele as consequências da genética gandahariana?
"Gandahar era salva daqui há mil anos. Gandahar será destruída mil anos atrás", reza a profecia de um "transformado", com os membros fora de lugar e, por isso mesmo, avesso ao seu presente.
Ficção científica, política, sexo, enfim, todos os ingredientes de uma boa história do gênero fantástico estão em "Gandahar - Os Anos de Luz", longa animado de René Laloux, que entra em cartaz hoje no CineSesc.
Levado às telas pela primeira vez em 1988, se não bastasse, o longa de Laloux -diretor do cult "Planeta Selvagem", de 1973, e de "Time Masters", com desenhos do mestre Moebius- tem ainda o reforço de Phillipe Caza, desenhista da antológica revista francesa "Metal Hurlant". Mas, para dizer a verdade, não basta.
Tudo o que, 30 anos atrás, fez a cabeça do papa do filme B, Roger Corman, para que produzisse "Planeta Selvagem" também está em "Gandahar". Mas sofre o... efeito dos tempos.
Soam ingênuas as preocupações proto-ecológicas do herói Sylvain. Parece datado o "portal do tempo" comandado pelo maligno Metamorfo...
Assim, os 105 minutos de "Gandahar" oscilam entre momentos visuais magníficos e outros de discursos constrangedores. Alterna uma nostalgia gostosa dos quadrinhos europeus de décadas passadas com um resultado muitas vezes grosseiro, comprometido pela lógica de (corte de) custos que recaiu sobre a animação contemporânea. Um insolucionável paradoxo espaço-tempo, que, hoje, não desce de jeito nenhum.


Gandahar - Os Anos de Luz
Gandahar, Les Années Lumière
  
Produção: França, 1988
Direção: René Laloux e Phillippe Caza
Quando: a partir de hoje, às 15h30, no CineSesc



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