São Paulo, segunda-feira, 06 de fevereiro de 2006 |
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Diretor de "Capote" conta à Folha como foi filmar a história do escritor de "A Sangue Frio" Jornalismo de luxo
SÉRGIO DÁVILA DA REPORTAGEM LOCAL A conversa deveria girar em torno principalmente de "Capote", o filme, indicado na terça a cinco Oscars, incluindo filme, direção, roteiro adaptado e ator. Mas o diretor estreante Bennett Miller acabou falando de muito mais, da crise no jornalismo a política, de George W. Bush a Glauber Rocha. Apesar de ter sido indicado ao Oscar já em seu primeiro longa de ficção, Miller, 38, é tão desconhecido do grande público que o site especializado IMDb traz apenas três informações biográficas: que ele nasceu em 1967, que se formou na Mamaroneck High School em 1985 e que foi colega de classe de Dan Futterman. Onde? Quem? Mamaroneck é uma cidadezinha no interior de Nova York, onde ele nasceu. Ator, Futterman é amigo de infância de Miller e o responsável por apresentar ao diretor o universo de Truman Capote (1924-1984). Considerado um dos criadores do chamado jornalismo literário (ou novo jornalismo), Capote é autor de duas obras importantes, "Bonequinha de Luxo" (1958), de ficção, e "A Sangue Frio" (1966), em que investiga um crime bárbaro acontecido numa cidadezinha do Kansas em 1959. O último e a conturbada vida do escritor são a base de "Capote", o filme, segundo roteiro de Futterman, baseado na biografia de Gerald Clarke. Antes disso, Bennett Miller só dirigiu o documentário "The Cruise" (1998), sobre o guia turístico nova-iorquino Timothy "Speed" Levitch (que lhe valeu prêmios em Berlim e no Emmy), e comerciais de TV, "dezenas e dezenas deles, enquanto esperava e aperfeiçoava minha técnica", disse ele, por telefone, à Folha. "Capote" estréia no Brasil no dia 24. Folha - Por que Capote, por que este assunto agora? Bennett Miller - Eu estava procurando um filme para dirigir já há alguns anos, sem muito sucesso. Futterman, meu amigo desde os 12 anos, me mandou o roteiro. Ao lê-lo, achei que Capote era particularmente relevante hoje. E há algumas razões para isso. Primeiro, porque me sinto culturalmente deslocado do ciclo atual. Quando vou procurar a origem disso, de por que as coisas começaram a ficar do jeito que ficaram, chego a Capote. O que ele realmente fez foi perceber antes para onde nossa cultura estava indo, em termos de jornalismo, celebridade. Outra razão, talvez maior, é que Capote é um desses personagens cuja vida e morte representam muito mais do que eles próprios. Representam uma verdadeira tragédia americana, sobre uma pessoa que realmente tem tudo que alguém pode querer, talento, dinheiro, sucesso, fama e todo o resto, e não consegue evitar destruir a si mesmo. Por fim, o tema de pessoas não entendendo realmente as conseqüências do que fazem para conseguir o que querem. Essa, aliás, é uma tendência moderna, que se aplica igualmente a indivíduos, empresas e países. Folha - Nesse sentido, "Capote"
pode ser visto como um filme político, a biografia de uma pessoa
abertamente gay feita nos EUA de
hoje. Concorda? Folha - O sr. acompanhava o jornalismo literário, gênero que Capote ajudou a inventar? Folha - O sr. deve estar ciente da
crise por que passa o jornalismo
hoje, no seu país especialmente
motivada pelos casos de Jayson
Blair e Judith Miller no "New York
Times". Há também a queda em
vendas e publicidade. O sr. acha
que a indústria que fez de Capote o
que Capote foi está morrendo? Folha - Por que a escolha de Philip Seymour Hoffman? Folha - O sr. é desconhecido do
grande público. Quais as suas influências? Li que Jim Jarmusch é
um diretor que o sr. respeita. Folha - Algum brasileiro? Folha - Glauber Rocha, para começar. E Eduardo Coutinho. Folha - "Terra em Transe". |
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