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SAMBA/CRÍTICA
Walter Alfaiate homenageia antigo parceiro em CD com músicas inéditas
DA SUCURSAL DO RIO
Walter Nunes e Mauro
Duarte se conheceram em
1947, ambos com 17 anos. Tornaram-se grandes amigos, parceiros, companheiros de blocos e escolas de samba. O primeiro, que
nos anos 90 assumiu o nome artístico Walter Alfaiate por causa
de sua profissão, homenageia
agora o segundo, morto em 1989,
no CD "Tributo a Mauro Duarte".
Das 12 faixas do disco, apenas
uma, "Falsa Euforia", não é inédita -foi gravada pelo grupo Família Roitman. Alfaiate realiza assim
o sonho de esvaziar um pouco o
baú do amigo e o seu próprio, já
que seis músicas são parcerias dos
dois.
"Não quis regravar as conhecidas. Era uma chance para eu mostrar esses sambas. Daqui a pouco
eu vou embora e isso se perde",
justifica Alfaiate, que contou com
a ajuda de Cristina Buarque e
Paulo Cesar Pinheiro na montagem do repertório.
A opção tem o óbvio senão de
deixar de fora as maiores criações
de Duarte, como "Lama" ("Por isso não adianta/ Estar no mais alto
degrau da fama/ Com a moral/
Toda enterrada na lama") e "Lamentação" ("Meus olhos água/
Meu peito mágoa/ Minha boca
vazia/ Igual minhas mãos/ E meus
ouvidos cheios de lamentação"),
que explicam por que Elton Medeiros já chamou o amigo de "insuperável em tom menor".
Esses sambas mais lentos, a que
Elton se referiu, estão bem representados no CD de Alfaiate em
"Ainda Precisarás de Mim",
"Nossos Esforços" (letra de Paulo
Cesar Pinheiro), "Jeito do Cachimbo" e "Vem Ver, João".
O Mauro Duarte mais alegre,
cronista, que misturava amor e
cotidiano, está em "Arroz e Feijão", parceria com Alfaiate. E o
autor de sambas-enredo aparece
em "Fonte dos Amores", parceria
com Alfaiate e Wilson Moreira
derrotada na Portela, e "Vila",
uma das homenagens que Duarte
e Pinheiro fizeram para escolas de
samba -as mais famosas são
"Portela na Avenida" e "Serrinha"
(para o Império Serrano), gravadas por Clara Nunes.
"Eu e Mauro estávamos sempre
juntos nos vários blocos de Botafogo [zona sul do Rio], como o
Foliões de Botafogo e o Paraíso
das Cabrochas, nas escolas de
samba do bairro e também na
Portela", relembra Alfaiate.
Os dois amigos, também botafoguenses no futebol, são os nomes mais associados ao chamado
"samba de Botafogo", que combina sofisticação melódica e poética
a partir de temas aparentemente
banais. Zorba Devagar e Mical,
ainda freqüentando rodas de
samba no Rio, são outros. Quem
já contribuiu muito para que esses compositores fossem lembrados foi outro filho do bairro: Paulinho da Viola.
Ele gravou várias músicas do
grupo, como "Lamentação",
"Cuidado, Teu Orgulho te Mata"
(Duarte/Alfaiate) e "A-M-O-R
Amor" (Alfaiate), e ainda fez, em
1993, um show dedicado ao "samba de Botafogo". Foi também parceiro de Duarte em "Reclamação"
e "Foi Demais", e substituído por
ele, quando optou pela carreira
solo, no conjunto Os Cinco
Crioulos, que fez história nos
anos 60.
O estilo de Bolacha -apelido
de Duarte por causa de seu rosto
arredondado- e Alfaiate, no
qual a tristeza costuma guardar
uma pitada de humor, pode ser
exemplificado no CD pela parceria "Constantemente": "Dona
Sorte eu nem conheço/ Ando
alheio à felicidade/ Espero encontrá-la um dia/ Seja qual for a minha idade".
(LFV)
Tributo a Mauro Duarte
Artista: Walter Alfaiate
Lançamento: CPC-Umes
Quanto: R$ 22, em média
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