São Paulo, segunda-feira, 06 de fevereiro de 2006

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SAMBA/CRÍTICA

Walter Alfaiate homenageia antigo parceiro em CD com músicas inéditas

DA SUCURSAL DO RIO

Walter Nunes e Mauro Duarte se conheceram em 1947, ambos com 17 anos. Tornaram-se grandes amigos, parceiros, companheiros de blocos e escolas de samba. O primeiro, que nos anos 90 assumiu o nome artístico Walter Alfaiate por causa de sua profissão, homenageia agora o segundo, morto em 1989, no CD "Tributo a Mauro Duarte".
Das 12 faixas do disco, apenas uma, "Falsa Euforia", não é inédita -foi gravada pelo grupo Família Roitman. Alfaiate realiza assim o sonho de esvaziar um pouco o baú do amigo e o seu próprio, já que seis músicas são parcerias dos dois.
"Não quis regravar as conhecidas. Era uma chance para eu mostrar esses sambas. Daqui a pouco eu vou embora e isso se perde", justifica Alfaiate, que contou com a ajuda de Cristina Buarque e Paulo Cesar Pinheiro na montagem do repertório.
A opção tem o óbvio senão de deixar de fora as maiores criações de Duarte, como "Lama" ("Por isso não adianta/ Estar no mais alto degrau da fama/ Com a moral/ Toda enterrada na lama") e "Lamentação" ("Meus olhos água/ Meu peito mágoa/ Minha boca vazia/ Igual minhas mãos/ E meus ouvidos cheios de lamentação"), que explicam por que Elton Medeiros já chamou o amigo de "insuperável em tom menor".
Esses sambas mais lentos, a que Elton se referiu, estão bem representados no CD de Alfaiate em "Ainda Precisarás de Mim", "Nossos Esforços" (letra de Paulo Cesar Pinheiro), "Jeito do Cachimbo" e "Vem Ver, João".
O Mauro Duarte mais alegre, cronista, que misturava amor e cotidiano, está em "Arroz e Feijão", parceria com Alfaiate. E o autor de sambas-enredo aparece em "Fonte dos Amores", parceria com Alfaiate e Wilson Moreira derrotada na Portela, e "Vila", uma das homenagens que Duarte e Pinheiro fizeram para escolas de samba -as mais famosas são "Portela na Avenida" e "Serrinha" (para o Império Serrano), gravadas por Clara Nunes.
"Eu e Mauro estávamos sempre juntos nos vários blocos de Botafogo [zona sul do Rio], como o Foliões de Botafogo e o Paraíso das Cabrochas, nas escolas de samba do bairro e também na Portela", relembra Alfaiate.
Os dois amigos, também botafoguenses no futebol, são os nomes mais associados ao chamado "samba de Botafogo", que combina sofisticação melódica e poética a partir de temas aparentemente banais. Zorba Devagar e Mical, ainda freqüentando rodas de samba no Rio, são outros. Quem já contribuiu muito para que esses compositores fossem lembrados foi outro filho do bairro: Paulinho da Viola.
Ele gravou várias músicas do grupo, como "Lamentação", "Cuidado, Teu Orgulho te Mata" (Duarte/Alfaiate) e "A-M-O-R Amor" (Alfaiate), e ainda fez, em 1993, um show dedicado ao "samba de Botafogo". Foi também parceiro de Duarte em "Reclamação" e "Foi Demais", e substituído por ele, quando optou pela carreira solo, no conjunto Os Cinco Crioulos, que fez história nos anos 60.
O estilo de Bolacha -apelido de Duarte por causa de seu rosto arredondado- e Alfaiate, no qual a tristeza costuma guardar uma pitada de humor, pode ser exemplificado no CD pela parceria "Constantemente": "Dona Sorte eu nem conheço/ Ando alheio à felicidade/ Espero encontrá-la um dia/ Seja qual for a minha idade". (LFV)

Tributo a Mauro Duarte
   
Artista: Walter Alfaiate
Lançamento: CPC-Umes
Quanto: R$ 22, em média


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