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"Jornalista não entende de música"
DA REPORTAGEM LOCAL
Responsável direto pelo sucesso dos Mamonas Assassinas, Rick Bonadio, 37, mantém-se como um dos principais
produtores do Brasil graças a
discos de grupos como CPM 22,
Hateen e Ira!. Em entrevista,
ele responde à crítica de que
seu trabalho seja comercial.
(TN)
FOLHA - O papel dos produtores está ganhando maior importância?
RICK BONADIO - Está se aperfeiçoando. Antes o cara produzia
várias coisas, era eclético demais, não tinha personalidade.
FOLHA - Como é sua relação com os
artistas e gravadoras?
BONADIO - O artista sabe o que
quer quando me procura, e a
gravadora sabe a cara que darei
ao artista. Uma das minhas características é que não fico preso a coisas como o timbre da
guitarra, da bateria. Faço isso
também, mas, principalmente,
tento arrancar do artista as melhores músicas e decido com
ele quais entrarão no disco.
Muitas vezes o produtor fica interessado em tirar um "puta
som" e as músicas não são boas.
FOLHA - Suas produções recentes,
como CPM 22, Hateen, NXZero, são
bandas de guitarras com melodia
pop. O que ensinou a elas?
BONADIO - Quando conheci o
CPM, dei um padrão fonográfico a eles, um toque no arranjo,
escolhi o repertório. Com o Hateen, disse a eles que, se fizessem repertório todo em português, seriam um sucesso.
FOLHA - Por quê? Não dá para fazer
sucesso cantando em inglês?
BONADIO - É um fato. O Sepultura fez sucesso relativo na Europa. Foi uma exceção. O brasileiro, quando ouve música
americana na rádio, está ciente
de que está ouvindo o melhor
do rock americano. Mas, com
artistas brasileiros, querem
músicas em português. Tem
muita banda que não sabe fazer
letra em português e aí vem
com a desculpa: "Ah, a sonoridade é melhor". Besteira. O cara não confia no taco dele.
FOLHA - Mas há o risco de essas
bandas acabarem soando parecidas.
BONADIO - A identidade não está apenas na sonoridade mas
no conceito artístico. Os riffs de
guitarra, o vocalista, isso é que
dá cara à banda. Quando o Justin Timberlake vai procurar o
Timbaland, é porque ele quer o
som do Timbaland. Quando você ouve meus discos, sabe que
fui eu quem produzi.
FOLHA - Quais foram seus erros?
BONADIO - Errei algumas vezes.
Com o Lagoa 66, aquilo foi uma
produção ousada para a época,
as letras eram agressivas e sarcásticas. Aconteceu logo depois
dos Mamonas. Achavam que eu
queria fazer algo igual aos Mamonas. Se fosse hoje, diria para
a banda esperar, lançaria depois de uns dois anos.
FOLHA - Você concorda que sua
música seja comercial?
BONADIO - Óbvio que é comercial. Não tô nem aí. O que vende
é bom. Isso é papo de frustrado.
Tem coisa que faz sucesso e não
presta, tudo bem. Mas aquilo
que se sustenta é bom. Uma
banda como Charlie Brown Jr.,
com vários discos nas costas,
você pode até não gostar, mas
não dá para dizer que é ruim.
FOLHA - Mas longevidade não é
garantia de qualidade...
BONADIO - Se você mantém um
público fiel, é porque tem qualidade. Aí vira questão de gosto.
Vocês críticos musicais têm um
papel muito cruel. Criticam de
acordo com o que gostam, e não
de acordo com o que as pessoas
gostam. O crítico acha que é o
dono da verdade, que tem uma
importância enorme, isso não
faz o menor sentido. Jornalista
não entende de música.
Leia a entrevista completa na Folha Online
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