São Paulo, quarta-feira, 06 de fevereiro de 2008

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Carnegie Hall recebe Villa-Lobos

O pianista Marcelo Bratke, a soprano Rosana Lamosa e o cantor Dori Caymmi fazem homenagem ao compositor brasileiro

A apresentação do trio em Nova York acontecerá no próximo sábado e teve todos os 599 ingressos vendidos antecipadamente

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

O pianista erudito Marcelo Bratke, 47, a soprano Rosana Lamosa e o cantor Dori Caymmi apresentam-se neste sábado, em Nova York, em programa centrado nas composições do brasileiríssimo Heitor Villa-Lobos (1887-1959).
Todos os 599 ingressos do Zankel Hall, uma das três salas do Carnegie Hall, foram antecipadamente vendidos.
Bratke diz que o programa procura inter-relacionar as influências que enriqueceram Villa-Lobos -como Bach, que inspirou suas nove "Bachianas"- e os músicos brasileiros que se deixaram influenciar por sua estética, sobretudo Tom Jobim. Eis os principais trechos da entrevista.  

FOLHA - Não será a primeira vez que o sr. se apresenta no Carnegie Hall, não é?
BRATKE
- Em 2004 fiz um concerto chamado "Trilogia do Carnaval", com cinco percussionistas da periferia de São Paulo. Foi um programa centrado em Ernesto Nazareth, Darius Milhaud e Villa-Lobos.

FOLHA - Como surgiu a idéia de voltar a Nova York?
BRATKE
- O trabalho amadureceu durante um ano. Eu e meu produtor americano, Jay Hoffman, chegamos a um formato muito interessante. É um concerto em três partes, com quase três horas de duração.

FOLHA - E essas três partes refletem períodos de Villa-Lobos?
BRATKE
- A idéia era trazer as influências do compositor. Existem cinco elementos importantíssimos: o universo infantil, a história do Brasil, a música de Bach, o amor pela diversidade cultural brasileira e a natureza. O próprio Villa-Lobos havia feito, para a gravadora Columbia, um disco chamado "Brazilian Native Music", em que mesclou esse ecletismo. Pixinguinha e Cartola participaram da gravação, com orquestra erudita.

FOLHA - Pixinguinha e Cartola estarão agora no repertório de seu concerto, com "As Rosas Não Falam" e "Carinhoso".
BRATKE
- Exatamente. É uma forma de dizer que o concerto tem como referência básica Villa-Lobos mas também se refere ao Brasil. Aparecem compositores com uma relação fictícia ou verdadeira com ele.

FOLHA - Que outros compositores?
BRATKE
- Na primeira parte, interpreto as canções infantis que fazem de 30% a 40% da obra de Villa-Lobos. Mas em determinado momento entra Dori Caymmi e dialoga com esse repertório por meio de composições do pai, Dorival Caymmi. Ele foi um similar popular do Villa-Lobos erudito.

FOLHA - Qual era o relacionamento entre Caymmi e Villa-Lobos?
BRATKE
- Eles se apreciavam. Há cartas que trocaram como demonstração. Villa-Lobos foi um compositor erudito, mas com a alma popular. O Dorival Caymmi foi popular, mas com a alma erudita.

FOLHA - Tom Jobim também está no programa, com "Luiza". Por quê?
BRATKE
- Ele tinha idolatria por Villa-Lobos. Fez composições muito inspiradas nele. Creio que "Luiza" está num vértice das influências que Jobim recebeu, com Villa-Lobos, Cláudio Santoro e Jayme Ovalle.

FOLHA - E há por fim Cláudio Santoro e Jayme Ovalle.
BRATKE
- Estamos na terceira parte. As três canções de Santoro são aquilo que seria Jobim influenciado por Santoro e Villa-Lobos. As coisas se interdeterminam em termos de influência musical. Sem isso não dá para entender a bossa nova.


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