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Carnegie Hall recebe Villa-Lobos
O pianista Marcelo Bratke, a soprano Rosana Lamosa e o cantor Dori Caymmi fazem homenagem ao compositor brasileiro
A apresentação do trio
em Nova York acontecerá
no próximo sábado e teve
todos os 599 ingressos
vendidos antecipadamente
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
O pianista erudito Marcelo
Bratke, 47, a soprano Rosana
Lamosa e o cantor Dori Caymmi apresentam-se neste sábado, em Nova York, em programa centrado nas composições
do brasileiríssimo Heitor Villa-Lobos (1887-1959).
Todos os 599 ingressos do
Zankel Hall, uma das três salas
do Carnegie Hall, foram antecipadamente vendidos.
Bratke diz que o programa
procura inter-relacionar as influências que enriqueceram Villa-Lobos -como Bach, que
inspirou suas nove "Bachianas"- e os músicos brasileiros
que se deixaram influenciar
por sua estética, sobretudo
Tom Jobim. Eis os principais
trechos da entrevista.
FOLHA - Não será a primeira vez
que o sr. se apresenta no Carnegie
Hall, não é?
BRATKE - Em 2004 fiz um concerto chamado "Trilogia do
Carnaval", com cinco percussionistas da periferia de São
Paulo. Foi um programa centrado em Ernesto Nazareth,
Darius Milhaud e Villa-Lobos.
FOLHA - Como surgiu a idéia de
voltar a Nova York?
BRATKE - O trabalho amadureceu durante um ano. Eu e meu
produtor americano, Jay Hoffman, chegamos a um formato
muito interessante. É um concerto em três partes, com quase
três horas de duração.
FOLHA - E essas três partes refletem períodos de Villa-Lobos?
BRATKE - A idéia era trazer as
influências do compositor.
Existem cinco elementos importantíssimos: o universo infantil, a história do Brasil, a música de Bach, o amor pela diversidade cultural brasileira e a
natureza. O próprio Villa-Lobos havia feito, para a gravadora Columbia, um disco chamado "Brazilian Native Music",
em que mesclou esse ecletismo.
Pixinguinha e Cartola participaram da gravação, com orquestra erudita.
FOLHA - Pixinguinha e Cartola estarão agora no repertório de seu
concerto, com "As Rosas Não Falam" e "Carinhoso".
BRATKE - Exatamente. É uma
forma de dizer que o concerto
tem como referência básica Villa-Lobos mas também se refere ao Brasil. Aparecem compositores com uma relação fictícia
ou verdadeira com ele.
FOLHA - Que outros compositores?
BRATKE - Na primeira parte, interpreto as canções infantis
que fazem de 30% a 40% da
obra de Villa-Lobos. Mas em
determinado momento entra
Dori Caymmi e dialoga com esse repertório por meio de composições do pai, Dorival Caymmi. Ele foi um similar popular
do Villa-Lobos erudito.
FOLHA - Qual era o relacionamento
entre Caymmi e Villa-Lobos?
BRATKE - Eles se apreciavam.
Há cartas que trocaram como
demonstração. Villa-Lobos foi
um compositor erudito, mas
com a alma popular. O Dorival
Caymmi foi popular, mas com a
alma erudita.
FOLHA - Tom Jobim também está
no programa, com "Luiza". Por quê?
BRATKE - Ele tinha idolatria por
Villa-Lobos. Fez composições
muito inspiradas nele. Creio
que "Luiza" está num vértice
das influências que Jobim recebeu, com Villa-Lobos, Cláudio
Santoro e Jayme Ovalle.
FOLHA - E há por fim Cláudio Santoro e Jayme Ovalle.
BRATKE - Estamos na terceira
parte. As três canções de Santoro são aquilo que seria Jobim
influenciado por Santoro e Villa-Lobos. As coisas se interdeterminam em termos de influência musical. Sem isso não dá para entender a bossa nova.
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