São Paulo, quarta-feira, 06 de fevereiro de 2008

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Crítica/artes plásticas

Mostra foge de olhar estereotipado do Brasil

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Entre os diversos estereótipos do Brasil no exterior, samba, mulher e futebol são a tríade mais tradicional. À ela, nos últimos anos, somou-se uma outra: violência, pobreza e a arquitetura de Oscar Niemeyer.
Todas elas estão presentes na mostra "Brasil: DesFocos (O Olho de Fora)", exibida no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio, no ano passado, e agora em cartaz no Paço das Artes. Com curadoria de Nessia Leonzini e Paulo Herkenhoff, "Brasil: DesFocos" não foge aos estereótipos criados pelo olhar de 30 artistas estrangeiros, como Andy Warhol e seus retratos de Pelé, mas não se contenta com eles, ao apresentar uma complexidade que supera um realismo documental óbvio.
Nas fotografias de Robert Polidori, por exemplo, Brasília não é apenas a cidade das perfeitas linhas modernistas mas local de coabitação com estruturas sociais e arquitetônicas improvisadas, que não escondem as contradições do país.
O mesmo ocorre no "Guia de Terrenos Baldios de São Paulo", de Lara Almarcergui, que, ao catalogar e contar a história de 36 espaços desocupados da cidade, não só discute a visível especulação urbana brasileira como cria um possível roteiro para a invasão de sem-terra.
Entretanto, se nessas obras ainda reside um forte caráter documental, é nos trabalhos que buscam uma releitura ficcional do país que a mostra ganha intensidade. Tseng Kwong Chi utiliza alguns dos mais famosos cartões-postais do país, como o Cristo Redentor ou o Congresso Nacional, na série "Expedicionário", na qual ironiza as fotografias de turistas, transformando-os em viajantes com objetivos militares.
Já Matthew Barney, em sua leitura do candomblé, é visto em um conjunto de fotografias do filme "De Lama Lâmina", de 2004. Virtuoso na apresentação -as imagens estão emolduradas em jacarandá e resina-, Barney parte do samba e do sexo para criar um universo próprio e mítico. Ao se recusar a explicar o país, tratando-o de forma ambivalente, o artista provoca o visitante sem cair nos típicos estereótipos.


BRASIL: DESFOCOS (O OLHO DE FORA)
Quando:
de ter. a sex., das 11h30 às 19h, sáb., dom. e feriados, das 12h30 às 17h30; até 13/4
Onde: Paço das Artes (av. da Universidade, 1, tel. 0/xx/11/3814-4832)
Quanto: entrada franca
Avaliação: bom


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