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Best-seller relata lições de um sobrevivente
"Loucos pela Tempestade" traz memórias de menino que resistiu a queda aérea
Autor diz que conseguiu se salvar porque o pai, morto no acidente de 1979, o forçou a viver aventuras radicais na infância
MARCOS STRECKER
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando Norman Ollestad
era criança, na virada dos anos
60 para os 70, a expressão "esportes radicais" nem existia.
Aventuras extremas em surfe,
esqui ou alpinismo eram atividades românticas, distantes do
mundo "business" do esporte
atual. Quase jornadas de descoberta pessoal.
Era o que Ollestad fazia, levado pelo pai. Cresceu em uma
praia de surfistas e nudistas na
Califórnia, em plena explosão
do "flower power". Mas as memórias do autor em "Loucos
pela Tempestade" também
mostram uma infância assustada em meio às aventuras cada
vez mais ousadas do pai e a um
ambiente mágico mas também
conflituoso com a comunidade
alternativa, incluindo o namorado violento da mãe.
Tudo mudou em 1979, quando um pequeno Cessna se espatifou em uma montanha íngreme de 2.600 metros na Califórnia, em meio a uma tempestade
de neve, tragédia que gerou comoção nacional. O pai e o piloto
morreram na hora. Aos 11 anos,
o garoto ainda ajudou a namorada do pai a escalar a montanha, atrás de ajuda. Sem sucesso. Foi o único sobrevivente.
O livro não vale apenas pelo
relato dramático, mas pela descrição de como o autor lidou
com o episódio. Levou 30 anos
para compreender a catástrofe.
O pai forçava o filho a ignorar
o medo e as adversidades em
suas aventuras. A lembrança
ainda é amarga para ele, que
tem atualmente 42 anos.
Mas foi esse aprendizado
"selvagem" que teria permitido
ao garoto garantir sua própria
vida em condições terríveis.
Hoje, Ollestad não briga mais
com a memória. "Meu pai estava simplesmente dividindo
suas paixões comigo. Ele se
sentia purificado depois de pegar umas ondas ou após esquiar, queria que eu vivesse esse êxtase", diz em entrevista.
Lançado em 2009 nos EUA, o
livro chegou rapidamente à lista dos dez mais vendidos do
"New York Times". Deve virar
filme da Warner Bros., pelas
mãos do produtor Bill Gerber, o
mesmo de "Gran Torino".
Ollestad se diz admirador de
autores como o jornalista Jon
Krakauer, de "No Ar Rarefeito", "Sobre Homens e Montanhas" e "Na Natureza Selvagem" (Cia. das Letras). São livros que extraem lições morais
de grandes aventuras. Mesma
característica de "Milagre nos
Andes" (Objetiva), de Nando
Parrado e Vince Rause, sobre o
famoso episódio da queda do
avião do time uruguaio de rúgbi, em 1972.
Mas a história de Ollestad
não chega à sutileza de Krakauer nem é tão dramática
quanto a queda nos Andes, que
envolveu canibalismo. Fica
centrada na relação complexa e
ambivalente pai-filho. "A maior
lição é que a vida é o que você
faz dela. Se você indica aos seus
filhos as vias para a beleza, deu
a eles o seu maior presente. É
tarefa deles trilharem o caminho", afirma.
LOUCOS PELA TEMPESTADE
Autor: Norman Ollestad
Tradução: Dinah Azevedo
Editora: Record
Quanto: R$ 42,90 (308 págs.)
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