São Paulo, sábado, 06 de fevereiro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Best-seller relata lições de um sobrevivente

"Loucos pela Tempestade" traz memórias de menino que resistiu a queda aérea

Autor diz que conseguiu se salvar porque o pai, morto no acidente de 1979, o forçou a viver aventuras radicais na infância

MARCOS STRECKER
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando Norman Ollestad era criança, na virada dos anos 60 para os 70, a expressão "esportes radicais" nem existia. Aventuras extremas em surfe, esqui ou alpinismo eram atividades românticas, distantes do mundo "business" do esporte atual. Quase jornadas de descoberta pessoal.
Era o que Ollestad fazia, levado pelo pai. Cresceu em uma praia de surfistas e nudistas na Califórnia, em plena explosão do "flower power". Mas as memórias do autor em "Loucos pela Tempestade" também mostram uma infância assustada em meio às aventuras cada vez mais ousadas do pai e a um ambiente mágico mas também conflituoso com a comunidade alternativa, incluindo o namorado violento da mãe.
Tudo mudou em 1979, quando um pequeno Cessna se espatifou em uma montanha íngreme de 2.600 metros na Califórnia, em meio a uma tempestade de neve, tragédia que gerou comoção nacional. O pai e o piloto morreram na hora. Aos 11 anos, o garoto ainda ajudou a namorada do pai a escalar a montanha, atrás de ajuda. Sem sucesso. Foi o único sobrevivente.
O livro não vale apenas pelo relato dramático, mas pela descrição de como o autor lidou com o episódio. Levou 30 anos para compreender a catástrofe.
O pai forçava o filho a ignorar o medo e as adversidades em suas aventuras. A lembrança ainda é amarga para ele, que tem atualmente 42 anos.
Mas foi esse aprendizado "selvagem" que teria permitido ao garoto garantir sua própria vida em condições terríveis. Hoje, Ollestad não briga mais com a memória. "Meu pai estava simplesmente dividindo suas paixões comigo. Ele se sentia purificado depois de pegar umas ondas ou após esquiar, queria que eu vivesse esse êxtase", diz em entrevista.
Lançado em 2009 nos EUA, o livro chegou rapidamente à lista dos dez mais vendidos do "New York Times". Deve virar filme da Warner Bros., pelas mãos do produtor Bill Gerber, o mesmo de "Gran Torino".
Ollestad se diz admirador de autores como o jornalista Jon Krakauer, de "No Ar Rarefeito", "Sobre Homens e Montanhas" e "Na Natureza Selvagem" (Cia. das Letras). São livros que extraem lições morais de grandes aventuras. Mesma característica de "Milagre nos Andes" (Objetiva), de Nando Parrado e Vince Rause, sobre o famoso episódio da queda do avião do time uruguaio de rúgbi, em 1972.
Mas a história de Ollestad não chega à sutileza de Krakauer nem é tão dramática quanto a queda nos Andes, que envolveu canibalismo. Fica centrada na relação complexa e ambivalente pai-filho. "A maior lição é que a vida é o que você faz dela. Se você indica aos seus filhos as vias para a beleza, deu a eles o seu maior presente. É tarefa deles trilharem o caminho", afirma.


LOUCOS PELA TEMPESTADE

Autor: Norman Ollestad
Tradução: Dinah Azevedo
Editora: Record
Quanto: R$ 42,90 (308 págs.)




Texto Anterior: Crítica/"Coleção sob Guarda Provisória": Escolha e disposição das obras revela falta de ousadia
Próximo Texto: Vitrine
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.