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"The New Yorker" faz 75
Reprodução
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Capa da edição em comemoração aos 75 anos da "New Yorker" |
Revista semanal norte-americana, em cujas páginas já figuraram
Nabokov, John Updike e Edward Wilson, completou 75 anos no último dia 21 e segue ainda a linha da "alegria, sátira e presença de espírito"
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Revista ainda mantém princípios
AMIR LABAKI
da Equipe de Articulistas
Nunca houve outra revista como a "The New Yorker", o mais
sofisticado dos semanários americanos, celebrando desde o último dia 21 seus 75 anos de publicação ininterrupta. E talvez jamais
haverá outra igual. O excesso de
celebrações da efeméride transmite certa ansiedade, como a do
fim de uma era da revista, com
suas recentes mudanças de editor
e de endereço, e mesmo da imprensa escrita em meio ao turbilhão causado pela Internet.
Fundada em 1925, "The New
Yorker" é o que mais próximo de
uma real instituição cultural foi
gerado pela indústria editorial
dos EUA. É mais velha que o MoMA (1929) e que o Oscar (1928),
embora muito mais nova que a
Broadway e o Metropolitan, que
se tornaram marcos culturais nova-iorquinos nas duas últimas décadas ainda do século 19. Entre
seus pares, "Vanity Fair" a precedeu em 12 anos, enquanto "Time"
e "Reader's Digest" lhe foram
contemporâneas.
A revista surgiu como um projeto do jornalista Harold Ross. Financiada pelo magnata Raoul
Fleischmann, "The New Yorker"
tornou-se tudo aquilo que Ross
sonhava: elegante, cosmopolita e,
sobretudo, bem-humorada.
""The New Yorker" será um reflexo em palavra e imagem da vida metropolitana", definia Ross
no texto de lançamento de 1924.
"Seu tom geral será de alegria, sátira e presença de espírito, será
uma revista tão divertida e informativa que se tornará uma necessidade". Sua fórmula encerrava-se com uma frase que se tornaria
tão polêmica quanto lendária:
""The New Yorker" será a revista
que não será editada para a velha
dama de Dubuque" -o que por
aqui equivaleria à famosa velhinha de Taubaté.
Sete décadas, cinco editores,
quatro sedes e quase 4.000 edições
depois é incrível como "The New
Yorker" ainda segue aplicadamente a declaração de princípios
firmada por Ross. Abre-se a revista e, depois do índice, da biografia
dos colaboradores e da seção de
cartas -todas adições recentes
ao cardápio da revista-, eis
"Goings On About Town", que
traz a programação cultural nova-iorquina em notas breves.
A seguir, "The Talk of the
Town" resume os temas do momento em crônicas, perfis e reportagens. Tantas vezes imitada, é
a seção mais identificada com o
mundo " The New Yorker". De E.
W. White (o autor da história original do delicioso "O Pequeno
Stuart Little") e Joseph Mitchell
ao incansável John Updike, muito
do melhor da prosa não-ficcional
americana deixou lá sua marca.
O coração da revista inicia-se
então, "cobrindo eventos contemporâneos e gente de interesse", trazendo "prosa e verso, curta
e longa, humorística, satírica e variada", seguindo o modelo do
criador, numa fórmula elevada a
extremos de sofisticação pela arte
maior do editor que sucedeu a
Ross, William Shawn (1907-1992).
Nos 35 anos que permaneceu
no cargo, sempre de terno e gravata, inverno ou verão, Shaw tornou-se o mais mitológico dos editores, acompanhando passo a
passo a preparação de cada texto.
Não estamos falando de textos
quaisquer: Edmund Wilson sobre
os manuscritos do mar Morto,
Truman Capote e "A Sangue
Frio", Mary McCarthy flanando
por Florença e Veneza.
Um bloco de resenhas encerra a
revista, com a exceção de uma cíclica página de humor final. Edmund Wilson, em sua melhor fase, e John Updike, até hoje, destacam-se entre os comentaristas de
livros. A grande dama da crítica
cinematográfica americana, Pauline Kael, lá fez carreira, sendo hoje substituída por David Denby e,
sobretudo, por Anthony Lane,
talvez a maior revelação da década passada.
"Palavra e imagem", exigia
Ross, e é assim que "The New
Yorker" tornou-se a casa de vários de grandes cartunistas (Thurber, Steinberg, Spiegelman, Mankoff, Charles Adams, a lista é
imensa). Talvez nenhuma outra
publicação americana tenha contribuído tanto para o reconhecimento do cartum como forma
nobre de arte gráfica.
Desde 1985, "The New Yorker"
é uma publicação do conglomerado jornalístico Advance Publications, que edita "Vanity Fair",
sim, mas também "Mademoiselle" e "Glamour". Aos 79 anos,
William Shawn foi abruptamente
substituído por um editor de livros sem experiência jornalística,
Robert Gottlieb, que cinco anos
depois já passara o cargo para a
poderosa jornalista britânica Tina
Brown. Há dois anos, Brown passava o cetro para um jovem articulista, David Remnick, especialista em Rússia e esportes, e ia
criar a concorrente mensal
"Talk", para a Miramax.
"The New Yorker" reagiu com
altos e baixos às mudanças, sem
jamais descer do topo. Neste período, vendendo cerca de 800 mil
exemplares semanais -e com as
contas no vermelho-, pautou a
imprensa, quando não o próprio
governo, em questões internacionais e adiantou extratos de romances de Philip Roth, Salman
Rushdie e Updike, entre vários. Se
há paraíso, lá se lê "New Yorker".
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