São Paulo, terça-feira, 06 de março de 2001 |
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AS DUAS MULHERES Fernanda Torres e Debora Bloch estréiam no sábado texto de Patrícia Melo para o teatro Três mulheres e um cadáver desembarcam em São Paulo
Espetáculo de autoria de Patrícia Melo estréia no próximo sábado em SP e reúne Fernanda Torres e Debora Bloch no elenco Peça explora texto com "humor cáustico"
MARCELO RUBENS PAIVA Folha - Foi durante a temporada
de "Cinco Vezes Comédia" que vocês planejaram trabalhar juntas? Folha - Vocês estudaram na mesma escola? Debora Bloch - Senti que ela não
quer entregar a minha idade, mas
eu sou mais velha. E, por isso, sou
mais inteligente, mais sábia. Fernanda - Quando crescer, quero ser igual a Debi. Depois da escola, a vida levou cada uma a um
canto. Produzimos "Cinco Vezes"
pensando em nos reaproximar.
Temos muitas afinidades artísticas, além de sermos produtoras. Debora - Temos uma inquietação parecida, apesar de trajetórias
diferentes. Fernanda - Encontrei Patrícia
Melo e falei que procurávamos
um texto. Ela então disse que tinha uma peça curta. Debora - Pensamos em como
transformar aquele texto pequeno em uma peça. Foi um processo
com Patrícia. Tínhamos encontros para transformar a palavra literária em ação. Tudo partiu do
que estava escrito no texto. Folha - Na leitura da peça na Folha, as pessoas riram muito. Você
sabiam que era uma comédia? Debora - Eu sempre achei que a
peça tinha muito humor. Patrícia,
até na literatura dela, tem humor.
É um humor sombrio. Fernanda - Sarcástico. Debora - Cáustico. Fernanda - A situação é cômica:
mulher, amante e marido morto.
Não é drama dinamarquês. Folha - Qual é o subtexto da peça? Debora - E ciúmes, inveja, mulheres contemporâneas, ocupadíssimas, que fazem as tarefas
masculinas e femininas. Fernanda - A minha personagem faz análise para se avaliar. E
tem o fato de o analista comê-la.
As pessoas não vão mais ao confessionário. As pessoas vão ao
analista para não encher os amigos, o marido. A personagem da
Debi é o contrário. Ela não se analisa e se ocupa de outras coisas para não se ocupar de si mesma. Folha - Você ficaram anos com
"Cinco Vezes Comédia". Acabou? Fernanda - Podíamos ter ficado
70 anos. Paramos no auge. Debora - E cada um foi fazer o
seu projeto pessoal. Folha - Fernanda, sua imagem de
atriz densa, que fez Gerald Thomas, prejudica na comédia? Folha - Eu vi "Orlando" na estréia
e não achei engraçado. Debora - Acho isso bobagem.
Não vejo divisão entre ator cômico e dramático. Um ator tem de
ser dramático quando o personagem é dramático. A comédia é um
gênero nobre, busca a reflexão.
Há certo preconceito nesse tipo
de pergunta. Limita querer classificar um ator. Ele tem de ser livre.
E as coisas nem são separadas. A
comédia é rir de seus dramas. Fernanda - Há outra idéia preconceituosa na sua pergunta "você ficaram anos com "Cinco Vezes'". É como se um ator que lida
com humor fosse um caça-níquel.
Ou me acusam de ser muito hermética ou comercial. A minha
profissão está acima dessas coisas. Debora - Levamos "Cinco Vezes" para espaços de show de
rock. Teatro não tem de ser sofredor. Pode ser alegre. Folha - Quando o texto deixa a comicidade dúbia, forçam o riso? Fernanda - Já eu faço qualquer
coisa por uma boa gargalhada. Debora - O ator de comédia pode
se corromper pelo riso. É bom ouvir a gargalhada do público, mas
não significa que você está bem. Fernanda - Quanto mais relaxado o ator está em relação ao riso,
mais a platéia ri com ele. Folha - Já fizeram peça sem riso? Folha - Silêncios atômicos? Peça: Duas Mulheres e um Cadáver Onde: teatro Cultura Artística (r. Nestor Pestana, 196, tel. 0/xx/11/258-3616) Quando: estréia sábado, às 21h; sex. e sáb., às 21h; dom., às 18h Quanto: de R$ 20 a R$ 50 Patrocinadores: Amazônia Celular/ Eletrobras Texto Anterior: Programação de TV Próximo Texto: A autora: "É uma tragédia, apesar de rirem" Índice |
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