São Paulo, domingo, 06 de março de 2011

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'Eu uso uma droga e ela se chama Charlie Sheen'

Após envolver-se em escândalos que levaram à suspensão de'Two and a Half Men', astro da série está viciado em se explicar na TV com declarações desvairadas

ALESSANDRA STANLEY
DO "NEW YORK TIMES"

Charlie Sheen sofre de uma dependência.
Ele fez um exame para verificar se havia drogas em seu organismo em 26 de fevereiro e deixou que o resultado -negativo- fosse divulgado no programa "Good Morning America", da ABC.
E, no "Today", da NBC, garantiu que tinha se curado do abuso de substâncias. "Fechei meus olhos e fiz acontecer com o poder da mente." Mas uma amostra de urina e um exame de sangue não são capazes de detectar o que está causando problemas a Sheen: ele está viciado em explicar-se no ar.
O ator não é o único a sofrer dessa dependência. Políticos e celebridades que passam por problemas frequentemente procuram as TVs e as rádios para tentar mudar suas imagens. E a ilusão a respeito de si mesmos não conhece limites.
O líbio Muammar Gaddafi está mostrando ser o Charlie Sheen dos ditadores do Oriente Médio -não conseguiu resistir à chance de dizer à jornalista Christiane Amanpour que não vêm ocorrendo manifestações antigoverno em Trípoli. "Eles me amam", afirmou.
As críticas grandiloquentes de Sheen nos dois mais importantes "talk shows" matinais da TV dos EUA -e ao vivo no site TMZ- foram mais desvairadas que a maioria. Ele demonstrou os sintomas de um astro isolado da realidade e dotado de uma crença pouco racional na própria invulnerabilidade.
Quando perguntaram se era bipolar, Sheen disse que é "bivencedor".

TRILHA INCERTA
O fato de Sheen só piorar sua imagem não é novidade.
O ator, que se manifestou depois de a CBS ter suspendido a produção de sua série, "Two and a Half Men", está seguindo o rastro incerto de Tom Cruise e seus ataques em 2005 contra a psiquiatria, a Ritalina e Brooke Shields.
Houve ecos também da infame entrevista em que Michael Jackson, em 2003, disse dividir a cama com crianças. E também de quando Whitney Houston, em 2002, negou consumir crack.
"Crack é loucura", disse ela.
Muitos políticos desacreditados sofrem do mesmo misto de ingenuidade e mania de grandeza, mas, surpreendentemente, alguns deles são atores melhores.
Sheen teve que dividir os holofotes com outros viciados em autoengano, como Gaddafi e Bernard L. Madoff.
Até Lindsay Lohan, que pode ser presa se condenada pelo furto de um colar de US$ 2.500 (mais de R$ 4.100) , concedeu uma entrevista em duas partes ao "Extra".
Como acontece com muitos maus hábitos, o vício de Sheen começou pequeno, com telefonemas a rádios. Mas foi crescendo e assumiu a forma de entrevistas longas à televisão e ao TMZ.
A câmera mostrou-se ainda mais prejudicial à sua imagem do que tinham sido suas palavras -e essas foram nada menos que malucas.
"Eu uso uma droga -ela se chama Charlie Sheen", disse à ABC. "Não está disponível para compra porque, se você a experimentar uma vez, morrerá. Seu rosto vai derreter e seus filhos vão chorar sobre seu corpo explodido", falou, acrescentando: "É demais?".
Quando a repórter da ABC lhe disse que ele parecia "errático", Sheen tentou explicar. "Empreste meu cérebro por cinco segundos e dirá: "Cara, não dou conta disto, desligue esta merda"." E acrescentou que seu cérebro "dispara de um jeito que é -não sei, talvez não seja deste reino terrestre".
Enquanto falava, Sheen se mexia e gesticulava bastante. Em alguns momentos, parecia uma imitação da atuação de Christian Bale como um ex-pugilista viciado em crack de "O Vencedor".
Sheen negou as acusações feitas contra ele de violência contra mulheres e atacou os Alcoólicos Anônimos, a CBS e especialmente o produtor-executivo de seu programa, Chuck Lorre, se bem que dessa vez tenha se abstido de aludir a Lorre como "Chaim", como fez num programa de rádio, sendo interpretado por muitos como tratamento pejorativo antissemita (foi a gota d'água para a CBS suspender o programa). Sheen não chegou a pedir desculpas. Disse lamentar que Lorre não levou na brincadeira.
É sempre um pouco chocante quando celebridades, autoabsortas e munidas de todos os recursos e do aconselhamento caro do mundo, fazem algo que tão evidentemente prejudica seus próprios interesses.
Seja o que for que os levou a desviar-se do bom senso, é o mesmo que os impele a piorar as coisas mais ainda.
Tradução de CLARA ALLAIN

NA TV
Two and a Half Men
Oitava temporada
QUANDO terças, às 20h, no Warner
CLASSIFICAÇÃO não informada

Quatro primeiras temporadas
QUANDO de seg. a sáb., após o "Jornal do SBT - Noite", no SBT
CLASSIFICAÇÃO 12 anos


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