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O cineasta Paulo Thiago, 53, diz não ter nenhuma pretensão de transformar as palavras de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) em imagens na versão cinematográfica do poema "Caso do Vestido", que começa a filmar no segundo semestre deste ano.
Thiago -que escreveu o roteiro com Haroldo Marinho Barbosa, em cima do argumento do escritor mineiro Carlos Herculano Lopes- está preocupado em mostrar o significado das palavras de Drummond, apesar de considerar o poema "perfeitamente dizível".
""Caso do Vestido" não é uma história no sentido tradicional, é quase um mito. A discussão fundamental é o conflito entre a paixão e o amor eterno", disse Thiago.
"Essa questão, que é filosófica, vem atravessando os tempos. Desde os gregos, que transformaram a guerra de Tróia numa legendária história de amor entre Helena e Heitor, aos mitos amorosos medievais, como "Tristão e Isolda", passando por toda a literatura romântica do século 19 e pelos romances sobre paixão no nosso século, como "O Grande Gatsby", de Scott Fitzgerald."
A história do filme "Caso do Vestido" começa quando duas meninas, Laura e Beatriz, descobrem no sótão do solar onde moram, em Diamantina (Minas Gerais), um velho e belo vestido rendado. Intrigadas, querem saber como ele foi parar ali, depois que viram na véspera a mãe -Clara, uma bonita mulher de 35 anos- chorando com o traje na mão.
O ano é 1955, Juscelino Kubitschek, então governador de Minas, acaba de lançar sua candidatura à presidência da República.
Laura e Beatriz, reunidas na sala do solar, sabatinam a mãe com verdadeiro inquérito sobre o vestido e o porquê de sempre haver um prato à mesa do jantar, destinado ao pai ausente, na eterna expectativa de seu retorno. Clara então resolve desvendar o mistério e narrar suas desventuras.
O marido, Heleno, a abandonou para se entregar à paixão por Adalgisa, uma moça moderna da capital, Belo Horizonte. Antes porém de partir com Heleno, Adalgisa faz uma exigência: somente ficará com ele se Clara lhe fizer um pedido pessoal. Ela, em nome do amor, aceita pedir à Adalgisa que durma com seu marido. No entanto, tem certeza de que seu sentimento, um dia, o fará voltar.
Há 30 anos, Thiago acalenta o sonho de transformar "Caso do Vestido" em filme. Em 68 o cineasta se inspirou no poema de Drummond para realizar seu primeiro curta-metragem, que ficou inacabado.
Depois de terminado seu último filme, "Policarpo Quaresma - Herói do Brasil", Thiago juntou seu sonho à certeza que a produtora Gláucia Camargos teve desde a primeira vez que escutou o poema num disco que o amigo Drummond, por volta de 1978, lhe enviou com gravações de algumas de suas obras. ""Caso do Vestido" dá um bom filme."


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