São Paulo, Sábado, 06 de Março de 1999
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TELEVISÃO
Pelo manual não-oficial do programa, nunca mais serão exibidas atrações como o Latininho e o sushi erótico
"Domingão do Faustão" adota código de ética

Luiz Eduardo Perez
O apresentador Fausto Silva e o diretor Alverto Luchetti durante a gravação do "Domingão do Faustão"


DANIEL CASTRO
da Reportagem Local

Depois de protagonizar os episódios do Latininho e do sushi erótico, marcas do baixo nível na televisão brasileira, o "Domingão do Faustão", da Rede Globo, acaba de adotar um código de ética próprio, resumido a um decálogo.
Pelo manual do programa, nunca mais irão ao ar episódios como o Latininho (menino deficiente físico e mental, que sofre de uma doença que impede seu crescimento, exibido em 8 de setembro de 96) e do sushi erótico (comida japonesa servida sobre o corpo de uma mulher nua -"Domingão" de 26 de outubro de 97).
Documento não-oficial da Rede Globo, mas que serve para orientar os 60 profissionais que trabalham no "Domingão do Faustão", o decálogo veta "a transformação em espetáculo do erótico, do pornográfico, do bizarro, da tragédia e da miséria humanas", estimula o "compromisso social com o bom gosto, o bom senso, a clareza e a seriedade" e repudia o "preconceito". São as diretrizes de um "programa popular", que "busca sempre a audiência e a liderança com qualidade" (veja quadro abaixo).
Às vésperas de completar dez anos no ar, no próximo dia 28, o "Domingão do Faustão" continua numa disputa acirrada pela audiência dominical com o "Domingo Legal", do SBT, e tem a responsabilidade de gerar um um faturamento de US$ 150 milhões por mês (o mesmo da Record em todo o ano passado).
Foi o programa de Gugu Liberato que, indiretamente, provocou o episódio do sushi erótico, quando passou a ser exibido no mesmo horário do "Domingão do Faustão" e que, pela primeira vez, tirou a supremacia da Globo nos índices do Ibope, que já durava oito anos.
O programa de Fausto Silva perdeu para o de Gugu Liberato a maioria dos programas exibidos entre outubro de 97 e abril de 98.
Em maio de 98 o placar reverteu favoravelmente para o "Domingão". Desde então, a cada vitória do SBT foram três da Globo.
Mas, depois de liderar em todos os domingos de 99, a preocupação voltou à Rede Globo nos últimos dois domingos, quando o "Domingo Legal" voltou a ser ao vivo.
Primeiro, em 21 de fevereiro, graças à Tiazinha Suzana Alves e aos seios nus de Elba Ramalho, o programa de Gugu goleou o de Fausto Silva por 20 pontos a 15.
No domingo passado, o placar foi 19 a 19, na Grande São Paulo, onde cada ponto equivale a cerca de 80 mil telespectadores. O "Domingão" saiu dos "trilhos" (como a Globo define a meta de audiência de uma atração), no caso de no mínimo 20 pontos de média.
O tira-teima será nos próximos domingos. "Podemos perder a audiência, mas não vamos apelar a baixarias. Fico em segundo lugar, mas não ponho a Tiazinha depilando o Dinei no ar", promete Alberto Luchetti, 45, diretor geral do "Domingão do Faustão" e autor do decálogo, se referindo a quadro do "Domingo Legal" no dia 21.
Baseado no código de ética do "Domingão do Faustão", o apresentador Fausto Silva chamou o intervalo, domingo passado, deixando de explorar as lágrimas do cantor sertanejo Leonardo, que ficou emocionado com depoimentos para que ele desistisse de encerrar sua carreira solo.
O código, no entanto, não impede a exploração de boatos como o do fim da carreira de Leonardo e bobagens como a de uma foto do cantor Daniel em que supostamente aparecia o "fantasma" de seu parceiro João Paulo, morto em um acidente em setembro de 97.
Para Alberto Luchetti, o importante no episódio da fotografia de João Paulo era "que o negativo não era fraudado", pois o programa havia providenciado um laudo da Polícia Civil de São Paulo, embora o perito não descartasse que o fantasma pudesse ser resultado de uma superexposição.
"Quando houver um assunto desses, vou me cercar de todos as maneiras para não cometer equívocos", diz.
A nova orientação, com o decálogo, vem trazendo segurança ao apresentador Fausto Silva.
Relatório interno da Rede Globo, obtido pela Folha, execra os episódios Latininho e sushi erótico, adjetivados como "tropeços". Diz o texto que esses episódios "agravaram um clima de instabilidade e desagregação", que suas marcas ainda não se apagaram na "memória do programa e da imprensa, gerando reflexos negativos sobre a atuação do próprio apresentador".
"Buscava-se a audiência a qualquer custo, privilegiando a má qualidade e equiparando-se à concorrência. Ou seja, nivelando por baixo, com derrotas em São Paulo e sérios reflexos na audiência do Rio de Janeiro", diz o documento.


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