especial para a Folha

Peter Bogdanovich fala de cinema com a devoção e o desembaraço de quem chegou a ver 549 filmes (incluindo curtas e reprises) durante um único ano, 1965, quando morava em Los Angeles e escrevia matérias sobre cinema para diversas publicações. Pouco depois, ganhou do produtor Roger Corman a chance de dirigir "Na Mira da Morte" (68) e foi ser cineasta na vida. Manteve, no entanto, o registro das entrevistas que realizou com diretores.
"Afinal, Quem Faz os Filmes" reúne a transcrição de 16 delas. O interesse dos bate-papos varia conforme a grandeza do entrevistado e a circulação de seus filmes por aqui. Na linha de frente, estão Raoul Walsh (1887-1980), Fritz Lang (1890-1976), Josef von Sternberg (1894-1969), Howard Hawks (1896-1977), George Cukor (1899-1983) e Hitchcock (1899-1980).
Em segundo plano, aparecem cineastas de prestígio entre a crítica, mas que não desfrutam do status de estrela, como Edgar G. Ulmer (1904-1972), Joseph H. Lewis (1900), Don Siegel (1912-1991), Frank Tashlin (1913-1972) e Sidney Lumet (1924).
Os depoimentos contam a história não-oficial dos tempos gloriosos de Hollywood. A curiosidade de Bogdanovich varre desde pequenos detalhes técnicos de filmagem até concepções ambiciosas que alimentavam o trabalho de alguns deles. "Você não sabe fazer mais nada além de perguntas?", teria lhe dito John Ford.
Uma apresentação de vida e obra de cada cineasta precede as entrevistas. São textos carinhosos, que, de certa maneira, justificam a presença dos 16 eleitos. O 17º personagem é o próprio Bogdanovich. A introdução é uma auto-avaliação de sua trajetória, do início no teatro à necessidade de trabalhar para a TV, quando as portas se fecharam no cinema.
No meio, a fama, o casamento com a atriz Cybill Shepherd, a tragédia (o assassinato da modelo Dorothy Stratten, sua mulher e estrela de "Muito Riso e Muita Alegria"), a queda, a volta por cima. A vida de Bogdanovich, o homem que via filmes demais, cheira a cinema até nisso. (SR)

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