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MÍDIA
Antônio Athayde revela que, em sociedade com Boni, quase comprou o SBT e, depois, a Manchete
Futuro da TV é Internet e co-produções
ANNA LEE
Colunista da Folha
Se não tivesse sido, inesperadamente, afastado da vice-presidência da Rede Bandeirantes, Antônio Athayde, 54, estaria comemorando a concretização da primeira meta que traçou para sua gestão na emissora: a parceria da
emissora com o portal e provedor
de acesso à Internet iG. Depois,
pretendia até maio reestruturar a
programação da Band, que teria
como base co-produções.
Não deu tempo. Na semana
passada, foi convidado a deixar a
emissora.
Athayde -que foi superintendente comercial da TV Globo e
implantou o sistema Net/Globosat no Brasil- contou que fez
parte de um grupo de investidores que tentou comprar o SBT e a
TV Manchete. A seguir leia trechos da entrevista que Athayde
concedeu à Folha:
Folha - Qual foi o motivo de
sua saída da Bandeirantes?
Antônio Athayde - Na semana
passada, quando cheguei à emissora, encontrei uma série de observações do Johnny (Saad) sobre
minhas decisões rotineiras e de
contratos que estávamos assinando. Então eu o procurei e disse
que, como estava sendo questionado, estava interpretando que
ele não queria que eu ficasse. Ele
respondeu que era isso mesmo.
Folha - O que foi questionado?
Athayde - Isso não é importante. Ele estava simplesmente provocando um desconforto. Não tenho dúvida de que os contratos de
co-produções vão continuar. E, se
não fossem os contratos naquele
dia, seria outra coisa no dia seguinte. Ele estava procurando um
motivo, nem é para ele me mandar embora, mas para eu fazer a
pergunta. Eu joguei o jogo dele.
Tenho uma parcela de responsabilidade na minha saída, pois não
fui capaz de administrar uma relação familiar. Sou assim mesmo.
Folha -As Organizações Globo
pertencem à família Marinho. O
sr. também teve problemas "familiares" lá?
Athayde - Não. Eu fui superintendente comercial da Globo e tinha 100% de autonomia. Esse é o
jeito da Globo, as pessoas tocam
suas áreas com independência.
Folha - Não é o que se fala...
Athayde - Eu não sei hoje, mas
na minha época era assim. Também montei o sistema Net/Globosat com total independência. Eu
apresentava um plano estratégico
e, dentro do estabelecido, eu tinha
total autonomia, como o Boni (José Bonifácio de Oliveira Sobrinho) na área de programação e o
Miguel (Pires Gonçalves) na área
de comercialização. Eu não tinha
um acionista a me pentelhar.
Folha - Como foi sua experiência na Band?
Athayde - Foi frustrante. Um
experiente "head hunter", conhecedor da minha paixão por televisão, me disse que, na Band, eu só
teria "up sides", pois, se desse certo, seria um herói, senão, todos
diriam que já era esperado. Em
julho, assinei com a Band um
contrato de consultoria por quatro meses. No meio do caminho, o
Johnny me convidou para assumir a vice-presidência de televisão e ficou de me apresentar uma
proposta de contrato que nunca
apareceu. Por isso, ficou muito
mais fácil ele me dispensar, não
há multa rescisória. Eu tinha
apresentado um plano estratégico
e estava executando-o. A audiência estava dando os primeiros sinais de vida pela simples persistência numa linha de programação, o mercado publicitário estava prestando mais atenção na
Band pela implantação de uma
relação profissional com agências
e anunciantes.
Folha - Antes de ir para a
Band, o sr. chegou a pensar em
adquirir uma rede de TV?
Athayde - Em 98, eu fiz parte de
um grupo de investidores (que incluía Boni) que propôs ao Silvio
Santos a compra do SBT. Ele chegou a considerar a hipótese. Nosso grupo assumiria a gestão do
SBT e a programação de segunda
a sexta. Ele ficaria com o sábado e
o domingo. Mas, no dia em que
íamos fechar o negócio, ele nos telefonou e, sem maiores explicações, disse que tinha desistido.
Folha - Então esse grupo desistiu do projeto da TV aberta?
Athayde - Não. Luiz Carlos
Mendonça de Barros (ex-ministro das Comunicações) se juntou
a nós e tentamos comprar a Manchete, mas o negócio era inviável.
Chegamos à conclusão de que seria impossível fazer o que a Rede
TV! acabou fazendo: separar totalmente a parte podre da empresa e ficar só com as concessões.
Folha -A associação da Band
com a Traffic foi uma estratégia
para enfrentar a Globo na área
de eventos esportivos?
Athayde - O acordo com a Traffic foi uma necessidade de momento para a Band e uma tremenda oportunidade para a Traffic. Muitos eventos tiveram sucesso, como o Campeonato Mundial
de Clubes, que na final rendeu à
Band 53 pontos de audiência. A
Globo está sendo muito agressiva
na disputa por direitos esportivos, e a Band tem que buscar novos caminhos. É um erro pensar
que é possível viabilizar um evento, só com o evento em si. Na TV,
vende-se a programação, não os
programas isolados. O projeto
Futebol 2000, que a Globo ofereceu para o mercado, está num pacote que inclui toda a sua programação, de janeiro a dezembro.
Folha - E as co-produções?
Athayde - Existem grupos nacionais e estrangeiros loucos para
investir no Brasil. Como a Globo
parece fechada para este tipo de
acordo, o SBT tem suas próprias
idéias sobre o assunto, a Rede TV!
ainda é uma incógnita e a Record
pertence a uma igreja e tem uma
visão particular do negócio, a
Band virou quase que uma opção
única.Com as co-produções eu
estava investindo em qualidade
de programação.
Folha - E o acordo com o iG?
Athayde - A Bandeirantes tem
participação acionária no iG, cujo
percentual não posso revelar. O
que atraiu o iG para a Band foi a
possibilidade de ter acesso ao
conteúdo da emissora e começar
a fazer experiências em banda larga. Para a Bandeirantes foi bom
para se aproximar da Internet e
fazer programas interativos, já
que o futuro é por aí. Aliás, meu
futuro parece ser na Internet também. Espero que a banda seja suficientemente larga...
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