São Paulo, sexta-feira, 06 de abril de 2001

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Os cantores-bonecos do BSB, produto mais bem-sucedido da linhagem "boys-band", vêm ao Brasil para três apresentações; a Folha viu um show na Cidade do México e conta a dor de cabeça que isso vai dar

Backstreet Toys

LÚCIO RIBEIRO
ENVIADO ESPECIAL À CIDADE DO MÉXICO

É consenso no mundo pop: a raça humana hoje está dividida em dois grupos bem distintos. O da espécime que gosta de bandas e/ ou cantoras teens. E o formado pelos povos que odeiam essa vertente musical.
Esse dado é mais significativo se confrontado com números das Nações Unidas, que apontam ser adolescente a fatia mais significativa da população que habita a Terra.
Tudo isso é para comunicar que o supergrupo teen Backstreet Boys vem ao Brasil em maio não só para dois shows, como o divulgado, e sim para três apresentações. Grande notícia para a legião jovem que adora pop descartável, mas dor de cabeça na certa para quem não admira histeria juvenil desenfreada e músicas de qualidade duvidosa.
Foi acertado anteontem que o BSB toca no estádio do Maracanã no dia 3 e segue depois para duas apresentações em São Paulo, no estacionamento do Anhembi, nos dias 5 e 6.
Alardeada como a banda que mais vende discos hoje no mundo -crescentes 51 milhões de álbuns em quatro anos-, os garotos do BSB trazem ao país um show vistoso e insuportável para quem tem mais de 20 anos, mas provocador de histeria a la Beatles para idades menores, como atestou a reportagem da Folha em um show do grupo na Cidade do México, em 23 de março último.
Para três apresentações na capital mexicana, os 165 mil ingressos disponíveis evaporaram em quatro horas, indo parar em grande parte na mão daquela que seria uma platéia ensurdecedora, formada seguramente por 95% de garotinhas.
A outra pequena parte estava com cambistas, que, na porta do estádio de beisebol, onde aconteceram os shows, cobravam US$ 1.000 por um bilhete de US$ 150.
Banda de Orlando, Flórida, inventada para fazer sucesso pelo produtor Denniz Pop, que depois inventaria o 'NSync, o BSB é formado por cinco rapazes que não cantam tão bem, enchem o palco de dançarinos profissionais para esconder o "talento" coreográfico capenga, mas vão direto ao coração das adolescentes vendendo sonhos, problemas, alegrias em suas letras açucaradamente programadas.
Tem o Kevin, o mais velho (30 anos) e ajuizado do grupo. Tem o AJ, o tecno, que aparece vestido com roupas modernas. Há ainda o Howie D, o latino; Nick Carter, o "molecão"; e Brian, o evangélico. Juntos, são a tradução mais moderna e bem-sucedida de Menudo e New Kids on the Block.
Pelo que se viu no México, os "boys" são na verdade a última ponta de uma organização formada por cerca de 180 pessoas que viajam com a banda, contando o "pessoal da retaguarda" e os cem integrantes responsáveis por erguer o monstruoso e ultramoderno palco, com um telão que transmite imagens tão nítidas que faz o da Pop Mart Tour parecer uma TV fora do ar.
Depois de muito relutar, a banda aceitou (ou seus agentes aceitaram) conceder uma entrevista para a imprensa mexicana, no sábado, véspera do segundo show. O "evento" foi realizado em um luxuoso hotel, no centro da cidade.
Para adentrar o salão da entrevista, jornalistas de toda a América Latina tiveram que entrar pela cozinha, subir e descer escadas e atravessar corredores onde funcionários trocavam de roupa na troca do turno.
"É para fugir da loucura que está lá fora", explicou uma assessora da Virgin, se referindo ao mundaréu de meninas que cercaram o hotel para tentar ver "los Backs".
Mas o obstáculo maior estava por vir. Na entrevista, cerca de 80 jornalistas disputavam os microfones para perguntas com um mesmo tanto de fãs, que por meio de concursos de rádios FMs da cidade ganharam passe livre para o local e dominaram a primeira parte daquilo que estava longe de ser um colóquio.
O show, quase duas horas de suplício para quem não está ali para se esgoelar cada vez que um backstreet-boy favorito aparece em close no telão, é movimentadíssimo.
Conforme dita uma boa apresentação teen, os meninos não param, somem e aparecem com roupas diferentes inúmeras vezes, em um cenário montado em um palco de 20 metros de altura, com mil luzes e um telão que transmite imagens pré-gravadas e cenas ao vivo do show.
E, ponto a favor do Backstreet Boys, o grupo não canta em playback e é amparado por uma grande e eficiente banda, de carne e osso.
Uma mostra do que vai ser a vinda do BSB ao Brasil, do ponto de vista teen e feminino, foi dada em novembro último, quando a banda pisou por dez horas no Rio de Janeiro como parte de uma estratégia de lançamento do álbum "Black & Blue", e 22 mil fãs pararam a avenida Atlântica, em Copacabana.
A visita estava no roteiro de um ousado marketing promocional: a banda partiria de Sydney (Austrália) para uma volta ao mundo em cem horas, sendo 55 no avião e as outras 45 gastas em terra, para cumprir a maratona de cantar a capela uma única canção em cidades que incluiriam ainda Tóquio, Cidade do Cabo (África do Sul) e Nova York, o ponto de chegada, no dia exato do lançamento americano do novo disco.
Os shows no Brasil prometem causar barulho, em todos os sentidos. O palco aqui, diz a banda, será maior que o do México. E durante uma entrevista a uma jornalista mexicana, assistida pela Folha, após a pergunta-padrão "Onde vocês, rapazes, encontraram as fãs mais loucas e "calientes" pelo Backstreet Boys?".
Os rapazes, em um uníssono ao estilo da mais bajulada das boys-band, responderam: "Brasil".


O jornalista Lúcio Ribeiro viajou a convite da CIE Brasil


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