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Os cantores-bonecos do BSB, produto mais bem-sucedido da linhagem "boys-band", vêm ao Brasil para três apresentações; a Folha viu um show na Cidade do México e conta a dor de cabeça que isso vai dar
Backstreet Toys
LÚCIO RIBEIRO
ENVIADO ESPECIAL À CIDADE DO MÉXICO
É consenso no mundo pop: a raça humana hoje está dividida em
dois grupos bem distintos. O da
espécime que gosta de bandas e/
ou cantoras teens. E o formado
pelos povos que odeiam essa vertente musical.
Esse dado é mais significativo se
confrontado com números das
Nações Unidas, que apontam ser
adolescente a fatia mais significativa da população que habita a
Terra.
Tudo isso é para comunicar que
o supergrupo teen Backstreet
Boys vem ao Brasil em maio não
só para dois shows, como o divulgado, e sim para três apresentações. Grande notícia para a legião
jovem que adora pop descartável,
mas dor de cabeça na certa para
quem não admira histeria juvenil
desenfreada e músicas de qualidade duvidosa.
Foi acertado anteontem que o
BSB toca no estádio do Maracanã
no dia 3 e segue depois para duas
apresentações em São Paulo, no
estacionamento do Anhembi, nos
dias 5 e 6.
Alardeada como a banda que
mais vende discos hoje no mundo
-crescentes 51 milhões de álbuns em quatro anos-, os garotos do BSB trazem ao país um
show vistoso e insuportável para
quem tem mais de 20 anos, mas
provocador de histeria a la Beatles
para idades menores, como atestou a reportagem da Folha em um
show do grupo na Cidade do México, em 23 de março último.
Para três apresentações na capital mexicana, os 165 mil ingressos
disponíveis evaporaram em quatro horas, indo parar em grande
parte na mão daquela que seria
uma platéia ensurdecedora, formada seguramente por 95% de
garotinhas.
A outra pequena parte estava
com cambistas, que, na porta do
estádio de beisebol, onde aconteceram os shows, cobravam US$
1.000 por um bilhete de US$ 150.
Banda de Orlando, Flórida, inventada para fazer sucesso pelo
produtor Denniz Pop, que depois
inventaria o 'NSync, o BSB é formado por cinco rapazes que não
cantam tão bem, enchem o palco
de dançarinos profissionais para
esconder o "talento" coreográfico
capenga, mas vão direto ao coração das adolescentes vendendo
sonhos, problemas, alegrias em
suas letras açucaradamente programadas.
Tem o Kevin, o mais velho (30
anos) e ajuizado do grupo. Tem o
AJ, o tecno, que aparece vestido
com roupas modernas. Há ainda
o Howie D, o latino; Nick Carter, o
"molecão"; e Brian, o evangélico.
Juntos, são a tradução mais moderna e bem-sucedida de Menudo e New Kids on the Block.
Pelo que se viu no México, os
"boys" são na verdade a última
ponta de uma organização formada por cerca de 180 pessoas que
viajam com a banda, contando o
"pessoal da retaguarda" e os cem
integrantes responsáveis por erguer o monstruoso e ultramoderno palco, com um telão que transmite imagens tão nítidas que faz o
da Pop Mart Tour parecer uma
TV fora do ar.
Depois de muito relutar, a banda aceitou (ou seus agentes aceitaram) conceder uma entrevista para a imprensa mexicana, no sábado, véspera do segundo show. O
"evento" foi realizado em um luxuoso hotel, no centro da cidade.
Para adentrar o salão da entrevista, jornalistas de toda a América Latina tiveram que entrar pela
cozinha, subir e descer escadas e
atravessar corredores onde funcionários trocavam de roupa na
troca do turno.
"É para fugir da loucura que está lá fora", explicou uma assessora
da Virgin, se referindo ao mundaréu de meninas que cercaram o
hotel para tentar ver "los Backs".
Mas o obstáculo maior estava
por vir. Na entrevista, cerca de 80
jornalistas disputavam os microfones para perguntas com um
mesmo tanto de fãs, que por meio
de concursos de rádios FMs da cidade ganharam passe livre para o
local e dominaram a primeira
parte daquilo que estava longe de
ser um colóquio.
O show, quase duas horas de suplício para quem não está ali para
se esgoelar cada vez que um
backstreet-boy favorito aparece
em close no telão, é movimentadíssimo.
Conforme dita uma boa apresentação teen, os meninos não param, somem e aparecem com
roupas diferentes inúmeras vezes,
em um cenário montado em um
palco de 20 metros de altura, com
mil luzes e um telão que transmite
imagens pré-gravadas e cenas ao
vivo do show.
E, ponto a favor do Backstreet
Boys, o grupo não canta em playback e é amparado por uma grande e eficiente banda, de carne e osso.
Uma mostra do que vai ser a
vinda do BSB ao Brasil, do ponto
de vista teen e feminino, foi dada
em novembro último, quando a
banda pisou por dez horas no Rio
de Janeiro como parte de uma estratégia de lançamento do álbum
"Black & Blue", e 22 mil fãs pararam a avenida Atlântica, em Copacabana.
A visita estava no roteiro de um
ousado marketing promocional:
a banda partiria de Sydney (Austrália) para uma volta ao mundo
em cem horas, sendo 55 no avião
e as outras 45 gastas em terra, para
cumprir a maratona de cantar a
capela uma única canção em cidades que incluiriam ainda Tóquio,
Cidade do Cabo (África do Sul) e
Nova York, o ponto de chegada,
no dia exato do lançamento americano do novo disco.
Os shows no Brasil prometem
causar barulho, em todos os sentidos. O palco aqui, diz a banda, será maior que o do México. E durante uma entrevista a uma jornalista mexicana, assistida pela Folha, após a pergunta-padrão "Onde vocês, rapazes, encontraram as
fãs mais loucas e "calientes" pelo
Backstreet Boys?".
Os rapazes, em um uníssono ao
estilo da mais bajulada das boys-band, responderam: "Brasil".
O jornalista Lúcio Ribeiro viajou a convite da CIE Brasil
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