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Shows de Marco Mattoli e o Clube do Balanço com
Bebeto promovem encontro de duas gerações do
gênero em São Paulo, no Sesc Pompéia, hoje e amanhã
Nos rodopios do samba-rock
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
Os casais de negros suburbanos
nunca pararam de rodopiar nos
compassos do samba-rock, como
rodopiam até hoje em guetos como o Green Express, churrascaria
que à noite vira bailão no centro
paulistano. Mas um dos gêneros
mais marginalizados da música
brasileira vem, de um ano para cá,
se revigorando, a ponto de ganhar
palcos como o do Sesc Pompéia.
É lá que hoje e amanhã acontece
um encontro de duas gerações
distintas do gênero -bem, já
aconteceu no Green Express, há
duas semanas, mas poucos souberam. Marco Mattoli, 36, que
trouxe o samba-rock aos anos 90
com o grupo Guanabaras e hoje
lidera o Clube do Balanço, convida para cantar e tocar um dos inventores do estilo, o paulistano
radicado no Rio Bebeto, 48.
Os shows devem ter participações-relâmpago de outros expoentes do movimento nos 70, o
gaúcho Luís Vagner e o mineiro
Marku Ribas, e também da cantora paulistana Paula Lima, recém-lançada em carreira solo.
São nomes pouco conhecidos
no grande circuito -Bebeto teve
sucesso nacional entre 75 e 81,
mas ficou estigmatizado como
brega e/ou "imitador" de Jorge
Ben Jor-, que nunca pararam de
se movimentar pelos guetos.
"Comecei com 18 anos, e disseram que imitava Jorge Ben. Isso
criou uma barreira grande, muitas portas se fecharam para mim.
Hoje vejo que sou referência. Zélia Duncan foi minha backing vocal. Os Racionais MC's foram ver
meu show no Green Express, fui
ao deles também", conta Bebeto.
Usando mais o termo suingue
(balanço é outro dos nomes da
coisa), Bebeto fala de suas origens
e geografia: "Todo mundo sabe
que o suingue é americano, mas
nós colocamos o samba na levada. Em São Paulo é que o pessoal
denominou samba-rock. Mas
existe no Rio também, para onde
a gravadora me mandou quando
fiz sucesso. Porto Alegre é onde o
pessoal mais dança suingue".
Do Rio Grande do Sul veio Luís
Vagner, 52, que forneceu hits para
Wilson Simonal, Paulo Diniz e
Lady Zu, estreou solo em 74 e tem
tido sua guitarra sempre celebrada pelo patrono Jorge Ben Jor.
"Como sou mestiço, em Porto
Alegre me liguei à turma dos negros que gostavam de rock. No
Brasil, negro nunca teve vez no
rock. Para mim, o samba-rock
vem desde que Jackson do Pandeiro disse "é o samba-rock, meu
irmão'", define Luís Vagner.
Bebeto concorda com a filiação
ao forrozeiro Jackson, mas traça
sua própria linha: "Samba-rock
nasceu com Bebeto, Bedeu e Luís
Vagner. Jorge Ben tinha essa levada, mas mais para a bossa nova, e
não havia o papo de samba-rock
ainda. Ele e Erasmo Carlos foram
importantes, mas não gravavam
discos só disso, como nós".
As influências eram de mão dupla, como lembra Luís Vagner:
"Quando eu tocava com (o grupo
de jovem guarda) Os Brasas, Jorge
Ben não tocava guitarra, mas ia à
boate toda noite ouvir a gente tocar. Erasmo era um grande "balanceiro" do rock "sambeado'".
Sobre as misturas do samba-rock, diz Bebeto: "Sou sarará, mas
minha voz é negra. Minha música
era muito dirigida à raça negra.
Até paguei algum pedágio por isso". Não desistiu do gênero marginal, mas, para lançar "Ao Vivo",
no ano passado, pela Universal,
teve de abrir concessões:
"Gravei ao vivo, depois o produtor foi para o estúdio colocar
elementos de pagode e da Bahia.
Não fui eu, quando cheguei estava
assim. Os ritmistas de pagode não
lembram a levada antiga, no novo
disco vou me preocupar mais
com a levada. Estou aqui até hoje
porque nunca entrei no movimento de ninguém, nunca cantei
lambada, sertanejo, axé".
Se o "old school" Luís Vagner
prepara o novo "Brasil Afro Sul
Realista" ainda sem ter gravadora, o herdeiro Mattoli está em estúdio preparando o primeiro CD
do Clube do Balanço, a sair em junho. "São tantos anos, fiz tanta
coisa. Essa música nunca saiu do
gueto, mas agora de repente as
pessoas estão descobrindo. Não
sei explicar", constata Mattoli. É o
samba-rock, meu irmão.
Show: Mattoli e Clube do Balanço Convidam Bebeto
Onde: Sesc Pompéia (r. Clélia, 93, tel. 0/
xx/11/3871-7700)
Quando: hoje e amanhã, às 21h
Quanto: R$ 10
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