São Paulo, sexta-feira, 06 de abril de 2001

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Shows de Marco Mattoli e o Clube do Balanço com Bebeto promovem encontro de duas gerações do gênero em São Paulo, no Sesc Pompéia, hoje e amanhã

Nos rodopios do samba-rock

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Os casais de negros suburbanos nunca pararam de rodopiar nos compassos do samba-rock, como rodopiam até hoje em guetos como o Green Express, churrascaria que à noite vira bailão no centro paulistano. Mas um dos gêneros mais marginalizados da música brasileira vem, de um ano para cá, se revigorando, a ponto de ganhar palcos como o do Sesc Pompéia.
É lá que hoje e amanhã acontece um encontro de duas gerações distintas do gênero -bem, já aconteceu no Green Express, há duas semanas, mas poucos souberam. Marco Mattoli, 36, que trouxe o samba-rock aos anos 90 com o grupo Guanabaras e hoje lidera o Clube do Balanço, convida para cantar e tocar um dos inventores do estilo, o paulistano radicado no Rio Bebeto, 48.
Os shows devem ter participações-relâmpago de outros expoentes do movimento nos 70, o gaúcho Luís Vagner e o mineiro Marku Ribas, e também da cantora paulistana Paula Lima, recém-lançada em carreira solo.
São nomes pouco conhecidos no grande circuito -Bebeto teve sucesso nacional entre 75 e 81, mas ficou estigmatizado como brega e/ou "imitador" de Jorge Ben Jor-, que nunca pararam de se movimentar pelos guetos.
"Comecei com 18 anos, e disseram que imitava Jorge Ben. Isso criou uma barreira grande, muitas portas se fecharam para mim. Hoje vejo que sou referência. Zélia Duncan foi minha backing vocal. Os Racionais MC's foram ver meu show no Green Express, fui ao deles também", conta Bebeto.
Usando mais o termo suingue (balanço é outro dos nomes da coisa), Bebeto fala de suas origens e geografia: "Todo mundo sabe que o suingue é americano, mas nós colocamos o samba na levada. Em São Paulo é que o pessoal denominou samba-rock. Mas existe no Rio também, para onde a gravadora me mandou quando fiz sucesso. Porto Alegre é onde o pessoal mais dança suingue".
Do Rio Grande do Sul veio Luís Vagner, 52, que forneceu hits para Wilson Simonal, Paulo Diniz e Lady Zu, estreou solo em 74 e tem tido sua guitarra sempre celebrada pelo patrono Jorge Ben Jor.
"Como sou mestiço, em Porto Alegre me liguei à turma dos negros que gostavam de rock. No Brasil, negro nunca teve vez no rock. Para mim, o samba-rock vem desde que Jackson do Pandeiro disse "é o samba-rock, meu irmão'", define Luís Vagner.
Bebeto concorda com a filiação ao forrozeiro Jackson, mas traça sua própria linha: "Samba-rock nasceu com Bebeto, Bedeu e Luís Vagner. Jorge Ben tinha essa levada, mas mais para a bossa nova, e não havia o papo de samba-rock ainda. Ele e Erasmo Carlos foram importantes, mas não gravavam discos só disso, como nós".
As influências eram de mão dupla, como lembra Luís Vagner: "Quando eu tocava com (o grupo de jovem guarda) Os Brasas, Jorge Ben não tocava guitarra, mas ia à boate toda noite ouvir a gente tocar. Erasmo era um grande "balanceiro" do rock "sambeado'".
Sobre as misturas do samba-rock, diz Bebeto: "Sou sarará, mas minha voz é negra. Minha música era muito dirigida à raça negra. Até paguei algum pedágio por isso". Não desistiu do gênero marginal, mas, para lançar "Ao Vivo", no ano passado, pela Universal, teve de abrir concessões:
"Gravei ao vivo, depois o produtor foi para o estúdio colocar elementos de pagode e da Bahia. Não fui eu, quando cheguei estava assim. Os ritmistas de pagode não lembram a levada antiga, no novo disco vou me preocupar mais com a levada. Estou aqui até hoje porque nunca entrei no movimento de ninguém, nunca cantei lambada, sertanejo, axé".
Se o "old school" Luís Vagner prepara o novo "Brasil Afro Sul Realista" ainda sem ter gravadora, o herdeiro Mattoli está em estúdio preparando o primeiro CD do Clube do Balanço, a sair em junho. "São tantos anos, fiz tanta coisa. Essa música nunca saiu do gueto, mas agora de repente as pessoas estão descobrindo. Não sei explicar", constata Mattoli. É o samba-rock, meu irmão.


Show: Mattoli e Clube do Balanço Convidam Bebeto
Onde: Sesc Pompéia (r. Clélia, 93, tel. 0/ xx/11/3871-7700)
Quando: hoje e amanhã, às 21h
Quanto: R$ 10




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