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ERUDITO
Portuguesa se apresenta hoje no teatro Cultura Artística em duo com o baiano radicado na Suíça Ricardo Castro
Maria João Pires toca sua poesia ao piano
IRINEU FRANCO PERPETUO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Ela é baixinha, tem mãos pequenas (com um golfinho tatuado na
destra), enfurnou-se na zona rural portuguesa e é avessa a entrevistas. Às vésperas de completar
60 anos, a lisboeta Maria João Pires está longe de corresponder aos
estereótipos que cercam pianistas
de concerto. Contudo, é uma das
artistas de teclado mais conceituadas da atualidade e abre hoje a
temporada de assinaturas da Sociedade de Cultura Artística, em
duo com o pianista baiano radicado na Suíça Ricardo Castro, 40.
A carreira e a vida de Pires começam praticamente juntas: dedilha o teclado pela primeira vez
aos três anos, faz a aparição pública inicial aos quatro, debuta como
recitalista aos cinco e interpreta
concertos de Mozart aos sete. Estuda em Portugal e na Alemanha
e estoura internacionalmente ao
ficar em primeiro lugar no Concurso Bicentenário de Beethoven,
em Bruxelas, em 1970.
A partir daí, vem sendo amplamente aclamada por sua interpretação de um repertório que se
concentra basicamente em Bach,
Mozart, Beethoven, Schubert,
Schumann e Chopin. Profundidade e poesia são os termos mais freqüentemente usados para descrever o estilo de Maria João Pires.
Não veremos aqui uma pianista
que esmurra o teclado ou que faz
da velocidade do dedilhado um
fim em si mesmo, muito embora
as maiores dificuldades técnicas
não estejam fora de seu alcance.
Normalmente econômica no
emprego do pedal, Pires é conhecida pelo detalhismo de suas interpretações, fazendo um trabalho de joalheria na articulação do
fraseado e privilegiando a clareza
de expressão. Nos últimos anos,
seus recitais solo constituem ocasiões cada vez mais raras e disputadas. A artista vem privilegiando
aparições com orquestra (como
no Rio, no ano passado, com a
OSB) ou de música de câmera.
Seria equivocado definir o Centro para o Estudo das Artes de
Belgais, localizado em uma granja
na região da Beira Baixa, em Portugal, próximo à cidade de Castelo Branco, como um projeto paralelo à sua carreira como pianista.
É mais do que isso. Na verdade,
nos últimos anos, Maria João Pires, ecologista e vegetariana, tem
desacelerado as atividades concertísticas para se concentrar em
Belgais, conforme retratado no
documentário "A Passionate Lesson: A Visit to Maria João Pires",
de Roel van Dalen (Holanda,
2001). Têm aparecido na imprensa internacional acerbas críticas
da pianista ao governo de seu país
e queixas de falta de apoio ao centro, que realiza atividades artísticas e pedagógicas, tendo sido
agraciado, em 2002, com o Prêmio Internacional do Conselho
Musical da Unesco.
Belgais abrigou a primeira apresentação a quatro mãos de Pires
com Ricardo Castro, em 2002. A
parceria vai render um disco para
a multinacional Deutsche Grammophon, da qual Pires é artista
exclusiva desde 1989.
Em SP, eles dividem o mesmo
piano e banquinho para programas concentrados em Schubert,
cuja tocante "Fantasia em Fá Menor" fecha ambas as apresentações. Hoje, os itens solo são sonatas de Chopin, ficando a opus 35
para Castro e a opus 58 para Pires.
Amanhã, o brasileiro sola nos
"Estudos Sinfônicos op. 13", de
Schumann, enquanto a lusa interpreta, de Schubert, o "Improviso
op. 142 n.1" e a "Sonata D. 664".
MARIA JOÃO PIRES E RICARDO
CASTRO. Quando: hoje e amanhã, às
21h. Onde: teatro Cultura Artística (r.
Nestor Pestana, 196, tel. 0/xx/11/3256-0223). Quanto: de R$ 110 a R$ 220 (R$ 10
para estudantes até 30 anos, meia hora
antes dos concertos). Patrocinadores:
banco Safra, Bovespa, Telefônica,
Votorantim.
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