São Paulo, quarta-feira, 06 de abril de 2005

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ARTES PLÁSTICAS

Com 239 obras, exposição do artista ocupa todo o primeiro andar do local e dialoga com o parque da Luz

Pinacoteca trilha caminhos de Henry Moore

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Só sobre meu cadáver um Henry Moore entra na Tate", chegou a afirmar J.B. Manson, diretor da instituição inglesa, no final da década de 30. A bravata não era um ato isolado, ela representava o conservadorismo britânico no início do século 20, quando as escolas de arte nem sequer ensinavam escultura, e estátua era o único termo aceito pelas instituições.
Henry Moore (1898-1986) mudou o panorama da arte inglesa. Em sua abrangente produção -foram mais de 12 mil esculturas e 7.000 desenhos-, ele elevou a escultura a importante suporte de manifestação artística, influenciando toda uma geração contemporânea, que faz com que a escultura britânica, com nomes como Antony Gormley e Tony Cragg, esteja entre as mais importantes da cena atual.
A partir da próxima terça, Moore ganha sua maior exposição no Brasil, inaugurando o calendário de festividades dos cem anos da Pinacoteca. Em 239 obras, a maioria esculturas, o artista volta ao Brasil em um percurso que apresenta todas as suas fases, a partir do acervo da Fundação Henry Moore.
O inglês participou da 1ª Bienal de SP, em 1951, com duas gravuras, e da 2ª Bienal, com 29 esculturas, além de ter ganhado retrospectiva no MAM-RJ, em 1965, com mais 27 esculturas. Nada se compara ao que se verá agora.
"Visitamos 22 museus no país para escolher o local adequado à sua obra. A Pinacoteca se revelou o mais correto", conta David Mitchinson, um dos curadores da mostra e diretor da fundação. Mitchinson é reconhecido como um dos maiores especialistas na obra do artista, tendo o conhecido em 1968 e se integrado à fundação, criada pelo artista em 1977, para a qual Moore doou 600 peças. Depois da Pinacoteca, a mostra, que tem apoio do British Council, segue para o Paço Imperial, no Rio, e para o Centro Cultural Banco do Brasil de Brasília.
Na Pinacoteca, pela primeira vez, todo o primeiro andar do local será dedicado a um só artista, das salas climatizadas ao octógono. Portas até então fechadas serão abertas, criando um diálogo com o parque da Luz, satisfazendo um anseio de Moore em relação às suas obras: "Prefiro ver as minhas esculturas em qualquer paisagem a vê-las dentro do mais belo edifício do mundo". Em frente ao prédio, está uma de suas maiores esculturas na mostra, "Oval com Pontas", realizada entre 1968 e 1970.
Bronze, mármore, alabastro, rochas de diferentes regiões, todo tipo de material era válido para as esculturas de Moore. "Ele era um pesquisador de materiais. Colecionava até rochas de praia", diz Mitchinson. Acima de tudo, Moore era um apreciador da natureza. Suas esculturas não só eram criadas com materiais orgânicos, como suas próprias formas estavam inspiradas, na maioria dos casos, em elementos da natureza, como ossos de animais, conchas do mar e, é claro, a figura humana, especialmente mulheres.
A exposição segue uma ordem cronológica, tendo início nas salas climatizadas. Lá estão desde cópias em gesso que Moore precisava fazer no Royal College, na década de 20, às suas apropriações de objetos pré-colombianos, que o artista, já em situação privilegiada, passaria a colecionar nos anos 60. A partir daí, será possível ver as fases atravessadas por Moore, cujas obras mais relevantes estão comentadas por Mitchinson no quadro que emoldura este texto.
No percurso, apesar das influências visíveis de vários movimentos da arte, como o cubismo, o surrealismo e até o expressionismo, há um denominador comum: "Tudo que se vê aqui é facilmente identificável como um Henry Moore. Ele era um artista vinculado ao seu tempo, mas sempre manteve sua identidade", conta Mitchinson. No final da mostra, há fotos do artista em vários períodos e um documentário preparado para o Brasil, mas a melhor forma de entender seu trabalho é usar da estratégia do próprio artista: "De tanto penetrar no coração da matéria acabei descobrindo o céu do outro lado".


Henry Moore - Uma Retrospectiva/Brasil 2005
Curadoria:
Anita Feldman Bennet e David Mitchinson
Quando: abertura no dia 11 (para convidados); de ter. a dom., das 10h às 17h; até 12/6
Onde: Pinacoteca do Estado (praça da Luz, 2, tel. 0/xx/11/ 3229-9844)
Quanto: R$ 4 (grátis aos sábados)
Patrocínio: Bradesco


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