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ARTES PLÁSTICAS
Com 239 obras, exposição do artista ocupa todo o primeiro andar do local e dialoga com o parque da Luz
Pinacoteca trilha caminhos de Henry Moore
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
"Só sobre meu cadáver um
Henry Moore entra na Tate", chegou a afirmar J.B. Manson, diretor
da instituição inglesa, no final da
década de 30. A bravata não era
um ato isolado, ela representava o
conservadorismo britânico no
início do século 20, quando as escolas de arte nem sequer ensinavam escultura, e estátua era o único termo aceito pelas instituições.
Henry Moore (1898-1986) mudou o panorama da arte inglesa.
Em sua abrangente produção
-foram mais de 12 mil esculturas
e 7.000 desenhos-, ele elevou a
escultura a importante suporte de
manifestação artística, influenciando toda uma geração contemporânea, que faz com que a
escultura britânica, com nomes
como Antony Gormley e Tony
Cragg, esteja entre as mais importantes da cena atual.
A partir da próxima terça, Moore ganha sua maior exposição no
Brasil, inaugurando o calendário
de festividades dos cem anos da
Pinacoteca. Em
239 obras, a maioria esculturas, o
artista volta ao Brasil em um percurso que apresenta todas as suas
fases, a partir do acervo da Fundação Henry Moore.
O inglês participou da 1ª Bienal
de SP, em 1951, com duas gravuras, e da 2ª Bienal, com 29 esculturas, além de ter ganhado retrospectiva no MAM-RJ, em 1965,
com mais 27 esculturas. Nada se
compara ao que se verá agora.
"Visitamos 22 museus no país
para escolher o local adequado à
sua obra. A Pinacoteca se revelou
o mais correto", conta David Mitchinson, um dos curadores da
mostra e diretor da fundação.
Mitchinson é reconhecido como
um dos maiores especialistas na
obra do artista, tendo o conhecido
em 1968 e se integrado à fundação, criada pelo artista em 1977,
para a qual Moore doou 600 peças. Depois da Pinacoteca, a mostra, que tem apoio do British
Council, segue para o Paço Imperial, no Rio, e para o Centro Cultural Banco do Brasil de Brasília.
Na Pinacoteca, pela primeira
vez, todo o primeiro andar do local será dedicado a um só artista,
das salas climatizadas ao octógono. Portas até então fechadas serão abertas, criando um diálogo
com o parque da Luz, satisfazendo um anseio de Moore em relação às suas obras: "Prefiro ver as
minhas esculturas em qualquer
paisagem a vê-las dentro do mais
belo edifício do mundo". Em
frente ao prédio, está uma de suas
maiores esculturas na mostra,
"Oval com Pontas", realizada entre 1968 e 1970.
Bronze, mármore, alabastro, rochas de diferentes regiões, todo tipo de material era válido para as
esculturas de Moore. "Ele era um
pesquisador de materiais. Colecionava até rochas de praia", diz
Mitchinson. Acima de tudo, Moore era um apreciador da natureza.
Suas esculturas não só eram criadas com materiais orgânicos, como suas próprias formas estavam
inspiradas, na maioria dos casos,
em elementos da natureza, como
ossos de animais, conchas do mar
e, é claro, a figura humana, especialmente mulheres.
A exposição segue uma ordem
cronológica, tendo início nas salas
climatizadas. Lá estão desde cópias em gesso que Moore precisava fazer no Royal College, na década de 20, às suas apropriações
de objetos pré-colombianos, que
o artista, já em situação privilegiada, passaria a colecionar nos anos
60. A partir daí, será possível ver
as fases atravessadas por Moore,
cujas obras mais relevantes estão
comentadas por Mitchinson no
quadro que emoldura este texto.
No percurso, apesar das influências visíveis de vários movimentos da arte, como o cubismo,
o surrealismo e até o expressionismo, há um denominador comum: "Tudo que se vê aqui é facilmente identificável como um
Henry Moore. Ele era um artista
vinculado ao seu tempo, mas
sempre manteve sua identidade",
conta Mitchinson. No final da
mostra, há fotos do artista em vários períodos e um documentário
preparado para o Brasil, mas a
melhor forma de entender seu
trabalho é usar da estratégia do
próprio artista: "De tanto penetrar no coração da matéria acabei
descobrindo o céu do outro lado".
Henry Moore - Uma Retrospectiva/Brasil 2005
Curadoria: Anita Feldman Bennet e
David Mitchinson
Quando: abertura no dia 11 (para
convidados); de ter. a dom., das 10h às
17h; até 12/6
Onde: Pinacoteca do Estado (praça da
Luz, 2, tel. 0/xx/11/ 3229-9844)
Quanto: R$ 4 (grátis aos sábados)
Patrocínio: Bradesco
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