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CRÍTICA
Turnê da Osesp sai do zero a zero em Santiago do Chile
IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE SANTIAGO DO CHILE
Alguns jogos só se ganham
no segundo tempo. Em Santiago, depois do intervalo, a Osesp
sacudiu a modorra que estava
deixando seu concerto com cara
de zero a zero na turnê Cone Sul
2005. A capital chilena é a sexta cidade visitada pela orquestra, que
começou seu giro no dia 27 de
março, em Florianópolis, e termina sábado, dia 9, em Porto Alegre.
A melhor vantagem de ver a
Osesp fora da Sala São Paulo é que
o maestro John Neschling, em terra estrangeira, deixa de lado a verborragia messiânica que tanta
munição dá a seus adversários e
se concentra exclusivamente na
música.
A apresentação começou com a
"Passacalha para o Novo Milênio", de Edino Krieger, autor catarinense nascido em 1928, composta sob encomenda da orquestra em 2000. Desprovida de qualquer gesto vanguardista, a obra
exibe uma mescla de neoclassicismo e nacionalismo que lhe confere tinturas villa-lobianas.
Entrou em campo em seguida o
violinista vienense Benjamin
Schmid, 37, para executar o concerto que Brahms escreveu para
seu instrumento -uma obra tão
difícil que chegou a ser apelidada
de "concerto contra o violino".
Schmid tem fama, boa técnica,
maneja um Stradivarius de 1731 e
ostenta um currículo que inclui
até apresentação com a Filarmônica de Viena no Festival de Salzburgo. Mas não parece exatamente apaixonado e gosta de ralentar
as coisas. Ele, orquestra e Nesch-
ling se enredaram numa lerdeza
perigosamente próxima da pasmaceira ao longo dos 33 minutos
dos dois primeiros movimentos
do concerto. Alguma vitalidade,
só no terceiro movimento, que a
partitura, de qualquer forma, requer que seja tocado mais rápido.
Na segunda parte, já sem
Schmid, restava "Ein Heldenleben" ("Uma Vida de Herói"),
poema sinfônico autobiográfico e
-imodesto- de Richard
Strauss. Desde o majestoso anúncio do tema do herói, estava claro
que as coisas seriam distintas.
Durante muitos anos, era voz
corrente que "mezzo forte" era a
única dinâmica executável por orquestras brasileiras, que não teriam segurança para tocar em
pianíssimo, nem controle para se
soltar em fortíssimo.
A anedota, felizmente, caducou.
Riqueza de cores e dinâmica não
faltou ao Strauss de 50 minutos da
Osesp, com destaque para a sonoridade aveludada das cordas, na
parte em que o compositor retrata
"a companheira do herói" (sua
mulher) e para os arroubos da
percussão na sessão que descreve
o "campo de batalha do herói".
Em "Ein Heldenleben" temos
uma daquelas obras que exigem
do público quase tanto quanto
dos executantes. Uma interpretação monótona corre o risco de dar
sono. Não foi o caso.
Três minutos de aplausos entusiasmados por parte do público
que tomava, pelo menos, dois terços do Municipal de Santiago, e
vieram três bis, todos coloridos: a
"Dança Húngara em Sol Menor",
de Brahms, para começar, os espanholismos da zarzuela "La Boda de Luis Alonso", do sevilhano
Jerónimo Giménez (1854-1923),
para finalizar. No meio, "Mourão", de Guerra-Peixe, que a
Osesp toca dançando -uma assinatura adequada para um grupo
que pretende representar o Brasil
e sua música no exterior.
Avaliação:
O jornalista Irineu Franco Perpetuo
viajou a Santiago do Chile a convite da
Osesp
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