São Paulo, quarta-feira, 06 de abril de 2005

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CRÍTICA

Turnê da Osesp sai do zero a zero em Santiago do Chile

IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE SANTIAGO DO CHILE

Alguns jogos só se ganham no segundo tempo. Em Santiago, depois do intervalo, a Osesp sacudiu a modorra que estava deixando seu concerto com cara de zero a zero na turnê Cone Sul 2005. A capital chilena é a sexta cidade visitada pela orquestra, que começou seu giro no dia 27 de março, em Florianópolis, e termina sábado, dia 9, em Porto Alegre.
A melhor vantagem de ver a Osesp fora da Sala São Paulo é que o maestro John Neschling, em terra estrangeira, deixa de lado a verborragia messiânica que tanta munição dá a seus adversários e se concentra exclusivamente na música.
A apresentação começou com a "Passacalha para o Novo Milênio", de Edino Krieger, autor catarinense nascido em 1928, composta sob encomenda da orquestra em 2000. Desprovida de qualquer gesto vanguardista, a obra exibe uma mescla de neoclassicismo e nacionalismo que lhe confere tinturas villa-lobianas.
Entrou em campo em seguida o violinista vienense Benjamin Schmid, 37, para executar o concerto que Brahms escreveu para seu instrumento -uma obra tão difícil que chegou a ser apelidada de "concerto contra o violino".
Schmid tem fama, boa técnica, maneja um Stradivarius de 1731 e ostenta um currículo que inclui até apresentação com a Filarmônica de Viena no Festival de Salzburgo. Mas não parece exatamente apaixonado e gosta de ralentar as coisas. Ele, orquestra e Nesch- ling se enredaram numa lerdeza perigosamente próxima da pasmaceira ao longo dos 33 minutos dos dois primeiros movimentos do concerto. Alguma vitalidade, só no terceiro movimento, que a partitura, de qualquer forma, requer que seja tocado mais rápido.
Na segunda parte, já sem Schmid, restava "Ein Heldenleben" ("Uma Vida de Herói"), poema sinfônico autobiográfico e -imodesto- de Richard Strauss. Desde o majestoso anúncio do tema do herói, estava claro que as coisas seriam distintas.
Durante muitos anos, era voz corrente que "mezzo forte" era a única dinâmica executável por orquestras brasileiras, que não teriam segurança para tocar em pianíssimo, nem controle para se soltar em fortíssimo.
A anedota, felizmente, caducou. Riqueza de cores e dinâmica não faltou ao Strauss de 50 minutos da Osesp, com destaque para a sonoridade aveludada das cordas, na parte em que o compositor retrata "a companheira do herói" (sua mulher) e para os arroubos da percussão na sessão que descreve o "campo de batalha do herói".
Em "Ein Heldenleben" temos uma daquelas obras que exigem do público quase tanto quanto dos executantes. Uma interpretação monótona corre o risco de dar sono. Não foi o caso.
Três minutos de aplausos entusiasmados por parte do público que tomava, pelo menos, dois terços do Municipal de Santiago, e vieram três bis, todos coloridos: a "Dança Húngara em Sol Menor", de Brahms, para começar, os espanholismos da zarzuela "La Boda de Luis Alonso", do sevilhano Jerónimo Giménez (1854-1923), para finalizar. No meio, "Mourão", de Guerra-Peixe, que a Osesp toca dançando -uma assinatura adequada para um grupo que pretende representar o Brasil e sua música no exterior.


Avaliação:    

O jornalista Irineu Franco Perpetuo viajou a Santiago do Chile a convite da Osesp


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