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Para empresário, o artista é uma marca a ser explorada
DA SUCURSAL DO RIO
DA REPORTAGEM LOCAL
A intenção das gravadoras em
abocanhar parte do faturamento
vindo de shows divide opiniões
entre os empresários. Muitos deles gerenciam a carreira de seus
artistas com a mesma lógica que
uma companhia utiliza para cuidar de um novo produto.
A banda Detonautas, por exemplo, que acaba de lançar o terceiro
álbum, faz divulgação particular
de seus trabalhos. "Em 2001,
quando contratei o grupo, a Warner estava em crise. Então montamos uma equipe de divulgação
em oito Estados do Brasil", afirma
Juca Muller, empresário da banda. "O Detonautas, hoje, é uma
marca que se associou à Coca-Cola e ao Carrefour. É uma marca de
sucesso, que dá ibope."
Para Muller, o mercado brasileiro ainda sofre com a falta desse tipo de visão. "Banda é marca. O
empresário brasileiro tem de estudar mais, se profissionalizar. O
artista é uma marca, e o empresário é um instrumento para levar
essa marca ao seu público-alvo."
É com esse pensamento que o Detonautas montaram uma estrutura de merchandising em que vendem de camisetas a pranchas de
surfe, passando por mochilas.
Marcelo D2 segue pelo mesmo
caminho. "Existe um negócio
chamado Marcelo D2. Vendemos
camisas, bonés, tênis, o D2 montou uma grife de roupas com seu
nome", explica Marcelo Lobatto,
que cuida da carreira do rapper.
Mentor dos Mamonas Assassinas e do projeto virtual Dogão,
entre outros, o empresário e produtor Rick Bonadio vai contra.
"Artista é artista. Não significa
que não seja um produto que gera
dinheiro, mas, se for encarado
primeiro como produto, não vai
funcionar." Proprietário do selo
Arsenal (do CPM 22), Bonadio é
também empresário de shows.
"Hoje não dá para ser apenas
gravadora. O caminho é investir
em novos artistas e participar dos
shows. O problema é que as grandes gravadoras têm dificuldade
em se relacionar com mercados
diferentes. Não basta apenas incluir uma cláusula nos contratos."
Manoel Poladian, há 48 anos no
mercado, empresário de Rita Lee,
Simone, Zizi Possi, abre fogo contra a iniciativa dos executivos fonográficos. "Disco é disco, show é
show. São negócios especializados. Eles [as gravadoras] não têm
experiência nisso. Uma gravadora não conseguirá agenciar Daniel, Lulu Santos e Calypso, por
exemplo. São mercados diferentes", diz. "Sou advogado, não deixo meus artistas assinarem contratos que tenham essa cláusula."
Para Lobatto, a idéia das gravadoras pode funcionar em eventos
especiais. "Não acredito que elas
entrem nos shows de turnê, de estrada. Já existem agências especializadas em todos os Estados do
país, não sei em que as gravadoras
serão úteis. Além disso, o cenário
do show da Pitty custa R$ 160 mil.
Elas vão investir nisso? Mas as
gravadoras podem entrar nos
shows especiais, corporativos, como aqueles de final de ano."
"Antigamente", continua ele, "a
arte valia 80% e o mercado, 20%
[referentes às partes que cabiam
aos artistas e aos empresários nos
shows]. Hoje, isso está quase em
50% a 50%. Porque aumentaram
muito os custos de produção, de
marketing. Se as gravadoras quiserem uma fatia do bolo, isso será
retirado da parte do artista, porque não há como diminuir isso do
que recebe o empresário."
"Temos concorrência multinacional", reagiu Leninha Brandão
(Vanessa da Mata, Lenine...) ao
ser questionada pela reportagem
da Folha. Para ela, as gravadoras
"vão aprender a trabalhar com
shows. São os novos tempos. A
concorrência é bem-vinda".
"É uma tendência do mercado",
diz Lobatto. "Não temo isso, acho
até que pode dar certo. A fatia de
cada um vai diminuir, mas o bolo
pode aumentar."
(LFV E TN)
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